
Atlantique Noir (Autorretrato), de Dalila Dalléas Bouzar (2018) #38O RostoLiteraturaDar ouvidos por Poli Pieratti I Era inverno em Lisboa, alguma semana de dezembro. Colhi na biblioteca, por apreço ao nome, um livro de Jean-Luc Nancy. Já nas primeiras páginas, isso: À escuta: ao mesmo tempo um título, um endereçamento e uma dedicatória. Achei belíssimo o fato de uma crase dar tantos sentidos à coisa. Segui lendo. Morava com minha namorada num apartamento provisório em Alcântara, perto de uma fábrica de bolos que amávamos. De todas as moradas que tivemos, era a mais quentinha. Três aquecedores, espalhados pelo apartamento, tornavam o casulo perfeito. Saíamos muito pouco. Dentro do casulo, como se não bastasse, havia um casulo ainda mais casulo. O quarto ficava dentro, bem dentro. Em um canto protegido por paredes, sem janelas. Era o ponto mais escuro da casa, o canto do sono. No Brasil, temos o costume de desejar…
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