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#15TempoCulturaLiteratura

Um ensaio sobre uma escolha

por Alexandre Amorim

Quando pensei, pela primeira vez, na possibilidade de partir em busca dos meus sonhos, percebi que meus desejos necessitariam tempo, pois era criança e não podia tomar muitas decisões. Recordo como se fosse hoje daquelas férias na Bahia, com toda a família reunida. Isso nunca mais saiu da minha cabeça, e tinha certeza de que um dia viveria por lá.

Sou arquiteto urbanista e, logo no início da minha carreira, desenvolvia projetos de urbanização de favelas. Foi um período de descobertas e inquietudes, o mundo estava sendo desvendado e então começava a entender o quão plural eram as cidades e seus habitantes. A cidade formal em que vivia já não existia mais em minha cabeça. Era tudo uma grande fachada.

Mas foi quando conheci o flâneur de Benjamin que a arquitetura e a cidade passaram a ter tempo em minha vida. Queria ser um, para sentir a cidade, o cheiro, escutar e percorrer cada esquina; embriagar-me, caminhar, viver e aprender com o banal. Queria conhecer a rua, o modo como as pessoas viviam, usavam e passavam por ela.

Foi quando percebi que o espaço urbano é apenas um suporte para nosso transitar diário, e que não possui outra função a não ser nos levar de um lugar a outro. Os episódios do cotidiano que, no passado, relacionavam as pessoas à cidade em algum momento desapareceram, abrindo espaço para o informal, e passamos de agentes urbanos a meros observadores, angustiados e temerosos dentro de nossos escritórios, nossos carros e nossas casas.

O tempo passava, o escritório era um sucesso e me rendia dinheiro, os amigos se tornaram sócios e os sócios pouco amigos se tornaram. Pensava na vida e me assustava a possibilidade de passar todo o meu tempo trancado no escritório. Amo o que faço, tive a sorte de escolher minha carreira, mas, por outro lado, não queria conduzir minha existência em função do meu trabalho, ou mesmo perder tempo trabalhando e não conseguir usufruir, com a mesma voracidade, meu ócio.

Mas, de quantas maneiras podemos viver? Em quantos lugares podemos morar? Quantas cidades existem? Quanto tempo temos para a vida? E, se a vida é curva, como no poema de Jesus Lizano (Las personas curvas), por que nos prender a uma só forma, a um só tempo? Assim como Lizano, não gosto do mundo reto, das pessoas retas, das ideias retas; gosto dos poemas curvos, dos peitos curvos, dos sentimentos curvos e das linhas curvas.

Já havia vivido o sonho americano e a decadência europeia, entendia a diversidade do mundo e sabia que o estímulo, para mim, era o desconhecido. Será que deveria me matar de trabalhar para simplesmente cultuar e consumir o efêmero? Afinal, muitas coisas não uso e desfruto. Talvez fosse melhor aproveitar um pouco mais o tempo da vida.

Não poderia mais ser somente um arquiteto urbanista para projetar minha arquitetura e minhas cidades. Deveria buscar outras formas e maneiras de interagir com o ambiente. Era o momento de acreditar nos sonhos curvos da infância e me mudar.

Hoje, sou pai e tenho uma mulher para me apoiar. Deixei de lado o caos para viver à beira-mar, assim como nas músicas de Caymmi. Já não vendo mais o tempo. Uso-o para plantar e surfar. Tempo para me inspirar, projetar e amar. Não me privo mais a um só hábito, a uma só rotina, porque o que me enriquece é a diversidade da vida, a diversidade do tempo vivido.

Foi uma mudança difícil. Não é fácil rasgar a renda pela metade, mas acabamos gostando e nos adaptando a trabalhar o suficiente. Se existe o slow food, o slow work também pode existir. Podemos deixar de lado o que em algum momento foi essencial, e passar a perceber que tempo nem sempre é dinheiro.

Agora, a praia é meu novo ambiente, e tenho tudo o que pensava ter no dia em que me aposentasse. A diferença é que trago comigo mais da metade do tempo da vida para gastar. Afinal, o que nos move é a dedicação às nossas coisas, não importa onde estamos. E, se talvez todos pensassem no que realmente é importante, não teríamos tantos problemas a nos preocupar e poderíamos usar um pouco da vida esperando o tempo passar.

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