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“Constelação”, de Alexander Calder
ArteArtes Visuais

Calder & Miró: quando a leveza e a brutalidade criam laços

É interessante pensar nos fatores que fazem com que as amizades surjam e sejam cultivadas. Em uma visão simplista, podemos dizer que, para uma amizade acontecer e ser mantida, basta jogarmos na equação dois espíritos que se dão e o resto há de acontecer naturalmente. Mas sabemos que as duradouras e verdadeiras são raras, quase atos de resistência à rolagem intempestiva dos ciclos da vida, sendo necessário bem mais do que isso para sobreviverem. Os obstáculos, no fim, são muitos, mas Joan Miró e Alexander Calder, ainda que com tanto mar se esforçando para entrar pelos vãos e querendo apagar as chamas do companheirismo, bateram de frente com as circunstâncias adversas e, a partir de suas sensibilidades complementares, mantiveram uma amizade que gerou um dos diálogos artísticos mais interessantes da história.

Alexander Calder e Joan Miró.

Dos nomes que moldaram o cânone da arte no século XX, Miró e Calder estão no panteão, ao lado de Salvador Dalí, René Magritte e mais uma seleta companhia. Na relação entre eles, a despeito de serem dois dos artistas mais talentosos de sua geração, vaidades foram jogadas para escanteio e a admiração mútua abriu espaço para uma influência que era tão forte quanto recíproca. Embora de origens distintas — Miró, de Barcelona, na Espanha; Calder, da Pensilvânia, nos Estados Unidos —, encontraram-se ao acaso em estabelecimentos parisienses, no período entre guerras, e dali adiante não deixaram de ter contato. Assim permaneceram até a morte de Calder em 1976.

Contexto

O estadunidense Alexander Calder e o espanhol Joan Miró se conheceram no ano de 1928, em Paris, nos laivos criativos de uma cidade que acolheu tantos outros artistas importantes, onde ambos tinham ateliês. A gênese do relacionamento, portanto, se deu no calor de um período crucial para o desenvolvimento da arte moderna. 

Durante os anos 1930, o cenário sociopolítico global foi marcado pela tensão e pelo medo provenientes dos conflitos internacionais, que, no final da década, desembocaram na Segunda Guerra. A Espanha acabara de passar por uma guerra civil que deixou o país aos frangalhos e os EUA viviam a maior crise financeira da sua história. Nesse ambiente instável, artistas tiveram papel central na transmissão de ideias culturais e políticas — foi dessa maneira que tanto Calder quanto Miró puderam investigar e expressar os seus eus internos.

Estilos

Miró desenvolveu um registro preciso, seco e brutal, uma tríade que se irradia com formas orgânicas somadas a imagens achatadas. De tão nítidas, suas linhas chegam a arrepiar a nuca de qualquer espectador, propondo uma espécie de encontro com aquilo que não queremos enfrentar, um momento de fascínio que não permite o desviar de olhos mas que suscita as mais fortes palpitações. Munido de um automatismo que leva, inclusive, a leituras de símbolos sexuais, percorreu temáticas ligadas ao mundo onírico e cósmico.

“Dançarina” (1925), por Joan Miró.

Alexander Calder, por sua vez, resgatando as raízes da formação em engenharia, elaborou os seus célebres e altamente influentes móbiles. Ao contrário da impetuosidade advinda das linhas de Miró, o norte-americano nos tira para dançar, fazendo da leveza a grande protagonista do seu palco. Com olhar direcionado aos futuristas e construtivistas, criou objetos incorporando fios e formas abstratas que flutuavam no ar em perfeito equilíbrio — marca registrada de sua prática. Curiosamente, muito embora estejamos falando sobre sensações díspares, os princípios de Calder vão muito de encontro aos do companheiro espanhol, como o uso de cores puras e formas abstratas. Há quem descreva esses móbiles como “uma manifestação viva do trabalho de Miró”.

Alexander Calder ao lado de uma de suas esculturas. Imagem: Bettmann Archive / Getty Images

Trabalho conjunto e a série Constelações

Ao longo da década de 1930, fizeram muitas exposições coletivas. Entre elas, uma ordenada pelo governo republicano espanhol, que demandou que os artistas criassem um conjunto de novas obras para o Pavilhão da Espanha na Feira Mundial de Paris, onde, em 1937, suas obras foram expostas ao lado da Guernica de Picasso.

Alexander Calder no pátio do Pavilhão Espanhol na Exposição Internacional de Paris (1937). Imagem: Christian Herdeg / Hugo Paul Herdeg

Prova maior do alinhamento espiritual dos dois é o conjunto de obras Constelações, realizada simultaneamente — mas separadamente — durante a Segunda Guerra Mundial, sem que qualquer comunicação acontecesse entre eles. Para Calder e Miró, a série representou uma maneira de explorar pensamentos internos, por meio de suas próprias experiências pessoais durante a guerra. Chega a ser tocante captar as tantas similaridades que se evidenciam, ainda que os estados emocionais se distinguem aqui e ali conforme o momento de cada um. A coreografia das produções de Calder encontram um eco ainda mais poderoso na tourada elegante de Miró: a afluência das linhas parece o continuum de uma amizade feita de sonhos, poeira espacial e desejos cadentes, indo cada qual em direção ao seu próprio universo. 

À esquerda, “L’oiseau-migrateur” (1941), de Joan Miró; à direita, “Constellation” (1943), de Alexander Calder.

Relação com o Brasil

A partir de 1948, Alexander Calder começou a frequentar o Brasil, onde criou grandes amizades, como, por exemplo, os fortes laços que criou com o escritor Mário Pedrosa e o arquiteto Henrique Mindlin. Chegou a realizar grandes exposições no prédio do Ministério da Educação e Saúde (MES) e no Museu de Arte de São Paulo (MASP). Joan Miró, apesar de nunca ter aterrissado sobre territórios brasileiros, desenvolveu sua ligação com o Brasil através da amizade que tinha com um poeta, à época jovem, que morava em Barcelona, chamado João Cabral de Melo Neto. Entre os anos de 1948 e 1950, aliás, João Cabral escreveu o livro Joan Miró e, no ano seguinte, o pintor realizou uma série composta por duas xilogravuras e uma estampa exclusiva para a obra.

A mostra Calder + Miró, em cartaz na Casa Roberto Marinho até 20 de novembro, no Rio de Janeiro, conta um pouco sobre a ligação entre eles e suas relações com o Brasil, nos levando em uma fascinante viagem pelos desdobramentos dos dois corpos de trabalho na cena internacional e nacional. 

Que tanto aqui quanto em qualquer outro lugar do mundo essa amizade possa seguir rendendo frutos palpáveis que nada têm de surreais. Se as circunstâncias nem sempre estiveram do lado dos encontros entre Alexander Calder e Joan Miró, a intensidade e o afeto fizeram questão de se sobrepor a elas enquanto ao menos o tempo remava a favor. 

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