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#33InfânciaArteArtes VisuaisCulturaSociedade

Um e três olhares

por Isabel de Castro

No mês de outubro, celebramos a infância. Dedico este texto a três olhares artísticos sobre a representação de crianças. O olhar de Diego Velázquez (1599-1660), artista barroco espanhol; de Pablo Picasso (1881-1973), também espanhol, porém do período modernista; e de Balthus (1908-2001), pintor francês de origem polonesa, esclarecendo que classificá-lo de moderno seria praticamente uma ofensa, uma vez que o próprio se dizia inclassificável. A escolha de três artistas com características tão díspares não é por acaso, isto porque possibilita evidenciar três facetas do período inicial da vida de todos nós.

Retrato de menina, de Diego Velázquez (1640)

“Retrato de menina” (1640), de Velázquez, é um exemplo da naturalidade que o artista captava de seus retratados. Embora a tela esteja inacabada, a face está pintada com terna dedicação e realismo. Não há informação de quem seja a modelo, e não é necessário saber. O pintor foi um dos expoentes do barroco e renomado artista da corte de Felipe IV de Espanha. Ele não registrou somente a nobreza, como também as figuras menosprezadas pela elite, sendo a série dos bobos da corte e da criadagem os melhores exemplos, resgatando a dignidade desses personagens. Sua pintura não apenas trouxe frescor ao barroco espanhol, mas também serviu de modelo aos pintores vanguardistas, como os impressionistas e o próprio Picasso. Velázquez soube tirar o máximo da representação em poucas pinceladas, como é possível ver nos cabelos brilhantes, nas pupilas negras e no acetinado da pele da menina. Poderia ser um retrato sério e pesado, mas o artista mostra leveza e, talvez, indagação. As feições da menina são ainda infantis, embora seu penteado já a introduza na moda do mundo adulto. Neste retrato aparentemente singelo, tem-se o nascimento de uma personalidade, o início de uma pessoa em formação retratada pelos olhos do artista.

Paul vestido de arlequim, de Pablo Picasso (1924)

Pablo Picasso é considerado o maior pintor do século XX, tendo passado por inúmeros movimentos, sempre deixando sua inquietude marcada em cada um deles. A experimentação foi seu procedimento mais destacado. Escolhi o retrato de seu filho, “Paul vestido de arlequim” (1924), como um representante da “primavera da vida”.
É como uma aula de pintura e desenho, com diversos tratamentos que se justapõem em harmonia e serenidade. O menino está acomodado entre duas manchas pretas, que representam a cadeira, e tem o rosto representado com traços simples e manchas que indicam o volume das faces. Sua roupa está estilizada em losangos amarelos e azuis e tornam seu corpo quase planificado. Se deduz que as manchas acinzentadas são os babados do figurino que emolduram o decote e os punhos. Os pés da cadeira estão simplesmente indicados por traços espontaneamente inacabados. O artista vanguardista não se preocupa em disfarçar a hesitação com a transparência da cena, porque deixou o sinal de um terceiro pé desenhado embaixo da cadeira. Aqui, Picasso explicita toda a liberdade lúdica da infância, afirmando-a com respeito e seriedade (e aqui penso estar evidente a influência de Velázquez na obra de Picasso). O menino está com uma roupa divertida sentado em um “trono”, e não uma cadeira qualquer. O artista enobrece a infância.

Joan Miró e sua filha Dolores, de Balthus (1938)

E, em terceiro lugar, elegi o retrato de “Joan Miró e sua filha Dolores” (1938), de Balthus, admirador de Velázquez e contemporâneo de Picasso. O artista franco-polonês é controverso pela temática erotizada de sua obra, embora aqui não seja o caso. É a representação de um pai artista e sua filha. A construção da cena é clássica, linha do horizonte localizada na metade da altura da tela, e as figuras estão centralizadas no espaço. A metade superior da imagem é clara, e a inferior, escura, o que dá peso ao espaço. Mas os aspectos clássicos acabam por aí. Miró e Dolores estão pintados com fortes traços expressionistas, feições marcadas, volumes exaltados e contornos definidos. As cores predominantes são neutras, com fortes contrastes de luz e nas linhas do vestido da menina. A figura do pai está sentada e tranquila, olhando diretamente para o observador. A da criança demonstra tensão, olha para um ponto abaixo à esquerda do espectador. Aparentemente, ela está apoiada na perna do pai, mas as listas do vestido, junto à posição suspensa da perna, indicam movimento, além de o corpo estar fora do eixo vertical. Ela pode ter acabado de chegar à frente do pai, ou pode estar com a intenção de sair de cena. Já o pai apoia uma mão no joelho e a outra envolve o corpo da filha, porém também sugere que ele esteja contendo o movimento da garota. A figura paterna está representada com proporção, mas a cabeça da menina é maior em relação ao corpo; inversamente, os pés e as mãos estão pequenos para este mesmo corpo, como se ainda estivesse em crescimento, necessitasse de ajustes. É uma imagem que, embora pareça posada, denota tensão e, por isso, é significativa. Mais que um retrato de pai e filha de caráter familiar, ele remete a outras simbologias; pode ser a proteção de um pai em relação à sua prole e/ou pode ser a infância que escapa, evidenciando o olhar aguçado de Balthus.

A arte é o campo que nos capta pela visão. E é boa arte quando apresenta camadas de leitura variadas, que podem se entregar de forma imediata e direta ou de forma mais sutil. Depende da sensibilidade do espectador também e, por essa razão, estimular nas crianças o senso de observação e indagação traz diversidade à realidade percebida. Assim, a naturalidade, a nobreza e, também, a ambiguidade são três olhares sensíveis voltados à infância por meio dos quais os artistas escolhidos realizaram suas obras. E meu olhar os uniu.


Isabel de Castro é Doutora em Comunicação Social (PUCRS), Mestre em Artes (USP) e professora do curso de Design, Moda e Comunicação Social da ESPM-POA.


Originalmente publicado na edição Infância

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