Skip to content
Revista Amarello
  • Cultura
    • Educação
    • Filosofia
    • Literatura
      • Crônicas
    • Sociedade
  • Design
    • Arquitetura
    • Estilo
    • Interiores
    • Mobiliário/objetos
  • Revista
  • Entrar
  • Newsletter
  • Sair

Busca

  • Loja
  • Assine
  • Encontre
CulturaLiteratura

Morte ou a iminência do que está prestes a parar de existir

por Marina Lattuca

Nasci em um 2 de novembro de muita chuva: dia de Finados. Minha mãe achou que, de alguma forma, aquilo não era bom augúrio e me registrou no dia seguinte. Não posso dizer que necessariamente era um mau sinal. 

Veja, por exemplo, o Dia de Los Muertos, no México. Para eles, nascer nesta data, deve ser motivo de muita alegria e festa. Os mexicanos alimentam-se da morte. Um dos quitutes mais comuns dessa incrível festa são as calaveras dulces, doces tradicionalmente feitos de açúcar simulando o formato de uma caveira.

A morte pode ser doce.

Carrego a questão do fim, na minha história, desde o dia em que vim a vida no dia dos mortos. Mas um dia em específico houve uma morte muito diferente da que conhecia. Era um final de semana de acampamento na serra. Estávamos em um grande grupo, fazendo uma trilha íngreme que levava por caminhos tortuosos a um pico, de onde se debruçava um véu branco d’água. Eu seguia de uma perna a outra em pequenos pulos buscando acelerar o trajeto. Chutando pedras, folhas, tocos. Quando avistei uma pedra escura, do tamanho de uma cabeça, quase no topo do fim do trajeto. Perfeita. Acelerei o passo correndo e ensaiando a perna direita para o chute. Chutei. 

Em uma fração de segundos, consegui entender o que estava por vir, como em uma espécie de efeito borboleta.

Logo abaixo do pico, estava a queda d’água. Logo abaixo da queda d’água, três pessoas com os olhos fechados desfrutando do mergulho. Logo abaixo de mim, uma pedra escura, do tamanho de uma cabeça, caindo em direção aos crânios das pessoas que estavam embaixo. Grunhi alto tentando gritar mais alto que a água. Mas não se ouvia o grito-grunhido. O mergulho acabou antes da pedra cair. 

O grupo lá embaixo, por alguma força cósmica, se retirou antes da pedra atingir o poço calmamente. A pedra não tinha pressa, a água não tinha pressa, eles não tinham pressa. Eu tinha, muita. 

Como eles não sabiam o que estava por vir, e – de fato – o que estava para vir, não veio, nem mesmo perceberam o que tinha acabado de não acontecer. 

Pensei que a vida é bem assim. 

Não percebemos o que não aconteceu nunca. Quantas pedras devem ter despencado e quase atingido nossas cabeças? E quantas vezes nos desviamos delas, em uma inocência débil, sem nem perceber. Essa morte, de certa forma, é uma morte da morte. Explico melhor: é a morte, de uma possível morte. 

A morte pode ser doce. 

Às pedras, eu disse mais tarde a mim mesma, que continuem desviando de nós, antes que precisemos nos desviar delas. 

Compartilhar
  • Twitter
  • Facebook
  • WhatsApp

Conteúdo relacionado


Sonhos não envelhecem

#49 Sonho Cultura

por Luciana Branco Conteúdo exclusivo para assinantes

Quando a arte pode curar?

Arte

por Revista Amarello Conteúdo exclusivo para assinantes

Tempos de crise

#24 Pausa Cultura

por Vanessa Agricola Conteúdo exclusivo para assinantes

Wunderamestal

#13 Qual é o seu legado? Arte

por Ricardo Rodrigues Conteúdo exclusivo para assinantes

Amarello Água — número 42

#42 Água Editorial

por Tomás Biagi Carvalho

Um tiro concreto

#13 Qual é o seu legado? Arte

por Silas Martí Conteúdo exclusivo para assinantes

Água Viva e a vida completa na linguagem

#42 Água Cultura

por Arthur Telló

Climatério e reposição hormonal: uma conversa com Marcelo Steiner

#46 Tempo Vivido Sociedade

por Revista Amarello

Nós e eles: como pensar o direito dos animais?

Cultura

por Leticia Lima

Corpo campo

#23 Educação Cultura

por Poli Pieratti Conteúdo exclusivo para assinantes

Extacity

#10 Futuro Cultura

por Marko Brajovic Conteúdo exclusivo para assinantes

Abbas Kiarostami: O rosto como abismo do real

#38 O Rosto Arte

por Kevin Rodrigues Conteúdo exclusivo para assinantes

Favelas: celeiros de empreendedorismo

#26 Delírio Tropical Cidades

por Joel Pinheiro da Fonseca Conteúdo exclusivo para assinantes

  • Loja
  • Assine
  • Encontre

O Amarello é um coletivo que acredita no poder e na capacidade de transformação individual do ser humano. Um coletivo criativo, uma ferramenta que provoca reflexão através das artes, da beleza, do design, da filosofia e da arquitetura.

  • Facebook
  • Vimeo
  • Instagram
  • Cultura
    • Educação
    • Filosofia
    • Literatura
      • Crônicas
    • Sociedade
  • Design
    • Arquitetura
    • Estilo
    • Interiores
    • Mobiliário/objetos
  • Revista
  • Amarello Visita

Usamos cookies para oferecer a você a melhor experiência em nosso site.

Você pode saber mais sobre quais cookies estamos usando ou desativá-los em .

Powered by  GDPR Cookie Compliance
Visão geral da privacidade

Este site utiliza cookies para que possamos lhe proporcionar a melhor experiência de usuário possível. As informações dos cookies são armazenadas em seu navegador e executam funções como reconhecê-lo quando você retorna ao nosso site e ajudar nossa equipe a entender quais seções do site você considera mais interessantes e úteis.

Cookies estritamente necessários

O cookie estritamente necessário deve estar sempre ativado para que possamos salvar suas preferências de configuração de cookies.

Se desativar este cookie, não poderemos guardar as suas preferências. Isto significa que sempre que visitar este website terá de ativar ou desativar novamente os cookies.