No processo de alienação, se antes o inimigo era a televisão, hoje o alienador é a internet.
O mundo mudou. Não podemos negar.
Estamos submersos em informação. Já somos considerados não apenas pós-modernos, mas um povo pós-internet. A simples ideia de vivermos sem a rede – sem seu fácil fluxo de notícias, de entretenimento e de exposição – é impensável para nossa geração acostumada às mídias sociais e à prática “cultural” de compartilhar cada passo que damos com amigos e estranhos. Os já antigos rituais secretos adolescentes – como a descoberta da Playboy no banheiro do irmão mais velho, a primeira tragada desajeitada de cigarro roubado da avó, entre outras coisas mais – agora passaram à esfera pública como um sintoma de comportamento dessa cultura jovem pós-internet.
O Youtube é visitado, em média, por 800 milhões de pessoas por dia, e três bilhões de horas de vídeos são assistidos, cada mês, por usuários em 39 países diferentes. A internet é uma excelente ferramenta para os jovens em vários sentidos, mas também pode ser como dormir; como ficar anestesiado diante da tela, espiando a vida de pessoas desconhecidas, ou recebendo informações nem sempre, como dizer… necessárias. Nesse processo de alienação, se antes o inimigo era a televisão – uma sereia que seduzia a criança preguiçosa, que passava a tarde comendo Doritos em frente à tela –, hoje o alienador é a internet. Conforme artigo publicado na revista Time, o Youtube transmite, em um mês, o que os três maiores canais de TV americanos transmitem em sessenta anos!
Para entendermos um pouco mais do que está acontecendo agora no mundo da comunicação digital, temos de voltar um pouco no tempo e ir para os Estados Unidos dos anos 1960, mais precisamente na Califórnia. Época dos hippies, dos Beatles, do ácido lisérgico, tempo em que os jovens realmente tinham um ideal e lutavam por algum tipo de mudança real. Graças a essa turma revolucionária, que a princípio podia parecer um bando de desocupados fumando maconha com seus amigos nos parques públicos de suas cidades, o mundo realmente tomou um novo rumo. Talvez não da maneira como planejavam e idealizavam, mas…
Inventores como Steve Jobs, Bill Gates, Steve Wozniak, Mike Markkulaos, os baby boomers (os filhos da Segunda Guerra Mundial), são alguns dos personagens que construíram peças chave do mundo em que vivemos – PC, Mac, iPod, iPad, iPhone. Aliás, devemos muito a Steve Jobs e seu iPhone. Muito foi escrito a respeito desde sua morte, “gênio”, “revolucionário”, mas ele não teria criado tudo o que criou não fosse um nerd. Os nerds são pessoas que têm um comprometimento com seu ofício, e nutrem grande fascínio por conhecimento e tecnologia. Claro que uso esse termo com uma boa conotação. Ele realmente foi um gênio da inovação; um dos caras que inventou o mundo como vivemos.
Talvez a nova geração cresça livre de rótulos e estigmas (xô baby boomer, xyz phi!) e tire proveito da oportunidade de mudar a cara de nossa economia. Montar uma nova empresa, começar um novo negócio – ficou muito mais próximo da realidade das pessoas. Se pegarmos o Brasil, por exemplo, existe uma mudança enorme na ambição dos jovens. Dez anos atrás, se você perguntasse a um jovem brasileiro o que queria de sua vida, a maioria diria que gostaria de trabalhar em uma grande empresa, ter a segurança da carteira assinada, décimo terceiro etc. Hoje, se você pergunta, a maioria diz que quer ter, ou começar, seu próprio negócio. Isso é uma grande mudança; uma mudança de geração. Esse, sim, é um grande barato.
Fico me perguntando o que essa turminha que nasceu com o mundo na ponta dos dedos irá fazer pelos que virão depois. Talvez tomar ácido não seja mais o caminho; manter a sanidade nesse bombardeio de emoções e informação, sim. E, com os pés no chão, buscar na internet e na devassa da mídia social aquilo que é útil para si próprio, sem se perder e se machucar. Ser o mestre da tecnologia e de seus recursos, e não seu escravo.
Outro dia, mostrando uma foto antiga de minha avó de quase noventa anos para meu sobrinho de três, ele a pegou na mão e tentou dar zoom com os dedos, como se faz no iPad. É… Como disse lá em cima, não podemos negar, o mundo realmente mudou.