Capas do artista Sergio Lucena.
Revista

Amarello Miragem — número 43

A Amarello Miragem inspira-se no fenômeno ótico para receber o sociólogo Jessé Souza como editor convidado e pensar a realidade do país, apresentando um panorama das principais miragens brasileiras.

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Miragem tem origem no vocábulo francês mirage, que provém do latim popular mirare para significar “olhar com espanto, admirar-se”. Mirar-se, em português, frente a um espelho.

As miragens se formam a partir de um fenômeno físicos chamado de refração – que nada mais é do que o desvio dos raios de luz. Ao contrário do que acreditam muitas pessoas, as miragens não são uma alucinação provocada pelo forte calor. Elas são um fenômeno ótico real que ocorre na atmosfera e que pode ser fotografado.

Fenômeno ótico esse construído em nossa memória através de uma história deturpada, violenta e torta. Forjada e interceptada de maneira que os interesses de domínio se mantivessem. Bibliotecas, indústrias, comércio, faculdades, jornais, revistas. A miragem brasileira, vista através do escudo racista, foi construída por intelectuais e perpetuada pelas elites.

Hoje, as redes sociais amplificam o papel que foi da elite até então. O algoritmo racial perpetua os interesses escravistas, e a cultura do politicamente correto isenta o racismo estrutural de ser olhado. Ao mesmo tempo, elas dão voz e empoderam nomes até então marginalizados, mudando o eixo do fenômeno ótico. Será que estou vendo uma miragem?

No pico do capitalismo em que vivemos, necessitamos nos olhar no espelho. A indústria cria subterfúgios como ferramenta de bem-estar, e nos anestesia para se apropriar de pessoas, vidas e identidades, a fim de manter a máquina girando. Tudo vira produto. Todos viramos produtos. Será que estou vendo uma miragem?

O viajante cansado e com sede já não corre mais em direção àquele Oásis tropical. O lago rodeado de palmeiras secou.

Dizem que o pior cego é aquele que não quer ver.