O trabalho que apresento segue minha investigação a partir da edificação de objetos de memória afetiva como forma de revisitar o passado, trazendo-os para o presente atual. Esses objetos, reconfigurados de valores, assumem uma transposição temporal e, a partir desta nova composição, reorganizam-se e acolhem novas formas.
Tensões caras ao meu universo, como o equilíbrio, o acaso, o volume, a sobreposição e o próprio processo de construção, se convergem na imagem que aqui está, e questiono: como pensar os dias atuais a partir dessa investigação?
A composição escultórica criada é única e suscetível à queda por vir, e a fotografia capta essa iminência ao criar uma suspensão no tempo, que nos traz novamente para o presente, mesmo que derradeiro e incerto.
Essa mesma incerteza aparece em questões que se fundem entre realidade e pictoriedade: como estamos em meio a todas as incertezas? A crise sanitária e política vai passar? Como estamos enfrentando o presente? A pilha de roupa vai desmoronar? Como pensamos o passado? Quem espero que vá chegar? Como pensamos o futuro? O copo de vidro vai se estilhaçar?
São perguntas que antecedem as ações-respostas e, por isso, o ato de esperar se torna tão presente. É viver segundo após segundo, e, aqui, a cadeira assume sua imagem mais simbólica, a espera, e as roupas virtuosamente dobradas, a obsessão acumulada pelo tempo.
O que vem acompanhado subjetivamente da imagem – a queda, a pós-queda, a vertigem, o tempo obcecado, a espera certa e a expectativa incerta – surge como reflexos dos dias atuais e nas formas de pensar o presente mesmo quando o fazemos criando projeções de um futuro.