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#2NuArtigo

Azul e vermelho

por Léo Coutinho

Imagem de Lucas Simões

Muito embora pelados não sejamos iguais, vestidos somos mais diferentes. Mais do que proteger, a roupa serve para distinguir cultura, estilo, estado de espírito, religião, posição social e até política. Como nos antigos clãs ingleses, nos Estados Unidos os membros do partido democrata são identificados pelas gravatas desenhadas, enquanto os republicanos preferem as listradas, chamadas regimentais. Aqui no Brasil, as militâncias dos principais partidos procuram repetir as cores de suas bandeiras nas camisas que vestem no dia a dia: petistas em vermelho, tucanos em azul.

Mas, se no vestir eles nunca combinam, o mesmo não se confirma na hora de despirem-se. Acalme-se o leitor da Amarello: este cronista não tem pendores voyeurísticos, ou pelo menos não em relação a uma classe fisicamente tão pouco atraente. Quero antes é tentar uma metáfora para a transparência, visto que a única unanimidade recente do cenário político nacional é a preferência pelas doações ocultas para campanhas políticas.

O raciocínio mais óbvio que vem com essa notícia é que são todos uns sem-vergonhas, corruptos, bandidos. Porém, como a gente sabe que em qualquer classe haverá pelo menos um membro decente, fica a dúvida de por que a unanimidade ocorre justamente quando é este o assunto.

A verdade, quem dizer que sabe, estará mentindo. No máximo temos palpites, e o meu é óbvio: nem só de ideologia se faz política, e a dose de pragmatismo necessária para enfrentar uma campanha eleitoral dentro do sistema vigente inclui os tortuosos caminhos do caixa dois. É claro que um ou outro candidato a cargo legislativo consegue fazer tudo direito e cumprir a lei, mas, numa campanha majoritária, isso seria impossível. Se alguém acredita que é possível alcançar o segundo turno de uma eleição presidencial gastando menos de cem milhões de reais, como declaram os que chegaram lá, é porque um número tão alto passa a ser abstrato e comportar qualquer coisa, feito prêmio de loteria.

Uma vez diante da realidade de custos financeiros de uma disputa eleitoral, algumas dúvidas suscitam no eleitor: de onde vem/para onde vai essa dinheirama? Comparado ao salário do cargo, o “investimento se justifica”? Quer dizer, dá retorno? Essas são as perguntas mais comuns, que estabelecem a enfermidade, mas não contribuem para o tratamento. O que deveríamos nos perguntar é como fazer para extinguir a doença.

Uma das faces mais conhecidas da nudez é a vizinhança. Muitas das vezes, mal sabemos o nome de um vizinho, mas temos noções sobre seu padrão de vida, hábitos sociais, atividade profissional, preferências alimentares e até frequência sexual, e vice-versa. Isto é: os vizinhos têm as mesmas noções sobre as nossas vidas. Ninguém pode fugir. Pior: quanto mais se tentar fugir, esconder, disfarçar, agachar para não ser percebido, mais a bunda aparece e, com efeito, mais vão reparar. É como ir vestido a uma praia de nudismo.

Não seria esta a chave para a nossa representação parlamentar? Digo: conhecer os políticos como conhecemos os vizinhos, de longe e de perto, com ou sem intimidade, mas acesso fácil garantido na esquina, na banca, praça, padaria ou pela janela? Assim poderíamos acompanhar e fiscalizar o trabalho deles, cobrar ações e propor ideias, aumentando a participação popular na vida política.

É o que querem os defensores do voto distrital, sistema em que os políticos candidatos ao legislativo se conteriam em fazer campanha respeitando os limites do distrito onde moram e são conhecidos, portanto mais sensíveis aos anseios e carências das pessoas. Se quiser saber da Lapa, não pergunte a um moqueiro. Como pregava o governador Franco Montoro, que a história posicionou acima das picuinhas politiqueiras, “ninguém vive na União ou nos estados: as pessoas moram nos municípios”. Numa megalópole como São Paulo, as pessoas vivem em seus bairros, e é deles que podem saber; portanto, é neles e por eles que devem votar.

E alguém há de perguntar: mas o que tem isso com o financiamento de campanhas políticas? Ora, é só fazer a conta: quanto vai custar um café na padaria da esquina, na cidade vizinha e do outro lado do estado. Pior: de tão alto, esse custo só se justifica na hora da colheita dos votos, de modo que representante e representado serão ilustres desconhecidos que só se encontram a cada quatro anos, anulando a participação popular e enfraquecendo a democracia – que, assim como os naturalistas, precisa estar nua para estar plena. Para ela, um boné já é disfarce.

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