Moda, identidade e (re)conhecimento
Fotografias: Gustavo Paixão
Modelo: Zaya
Styling e Direção de Arte: Dayana Molina
O viés social aguça minha força criativa. Criar algo que faça sentido além da estética é possível? Eu penso que sim. O conjunto de características para construir sua identidade implica definir quem você é, quais seus valores e quais direções deseja seguir pela vida. Entende-se que identidade é uma concepção de si mesmo, composta de valores, crenças e metas com os quais o indivíduo esteja solidamente comprometido – o conjunto de características que distingue uma pessoa ou uma coisa e possibilita individualizá-la. Isso justifica o fato de que a minha quase desistência em integrar esse mercado de moda era uma falta de me (re)conhecer nesse espaço.
Uma ausência de representatividade que nos faz questionar a relevância das nossas vidas.
Como os processos individuais refletem coletivamente? Como o trabalho produzido por um indivíduo pode fazer sentido para alguns e outros não? Identificações. Por meio da identidade, me enxergo além da individualidade. Dessa forma, vou tecendo, questionando, conscientizando e abrindo caminhos.
Crises identitárias também acontecem por questões externas. Pela forma como algumas circunstâncias podem afetar como você se enxerga. E quando você não se enxerga em lugar algum? Essa falta de representatividade gera um vazio sobre quem você é e onde seu corpo não está.
O autoconhecimento é um processo importantíssimo na busca por sua identidade originária. Só nos conhecendo conseguimos nos (re)conectar com nós mesmos. Na nossa forma mais pura, já estávamos conectados. Mas o mundo nos tira algo até se tornar inviável viver sem essa reconexão com nós mesmos, nossa identidade e a natureza integrada.
Comunicar-se através de imagens pode produzir impactos positivos ou negativos. Quando se pensa sob a lente eurocêntrica em um país latino, esse lugar de referências originárias torna-se um abismo. Mas, quando se produz de forma mais consciente, isso pode libertar as pessoas dessa necessidade de padrões inalcançáveis.
Refletir sobre essas questões me fez compreender a importância da pluralidade. As crises que atravessaram minha vida atravessaram muitas outras. A diferença de se perceber e conseguir mudar os rumos da história a partir disso é um dos caminhos que pode revolucionar os mundos, internamente e externamente.
Sendo assim, eu diria que a autenticidade é a ponte para muitas mudanças. Sem a coragem de ser quem se é, não se pode avistar horizontes. É urgente conectar-se a si mesmo e refletir sobre a diversidade que compõe a sociedade. Dentro e fora, na moda e na vida. Toda vez que nos reconhecemos nos traços de outros parentes, caravelas afundam e nosso povo avista um futuro com mais sentido e esperança.