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Criança ou quando a água do tobogã acaba

por Marina Lattuca

Tínhamos ido passar um final de semana no parque aquático de Caldas Novas, em Goiás. Lá tem um dos maiores toboáguas do Brasil. E eu sabia que deveria testar essa maravilha da engenharia moderna com os meus próprios bracinhos e perninhas. O escorrega era daqueles hermeticamente fechados que parecem um canudo de milk-shake infinito. Dentro, há como se fosse uma espécie de corredeira d’água que faz as nossas coxinhas infantis não entalarem nas curvas do canudo de milkshake.

Aí a moça falou: pode ir, vai lá, garota. Eu entrei rápido num pulo para mostrar que coragem não me faltava, né. Fui escorregando naquele túnel eterno entre curvas e descidas quando, em determinado momento, eu paro. Fico pensando um pouco para entender se fiz algo de errado. Afinal aquele é realmente o maior toboágua do Brasil e se eu não consigo escorregar nele, devo ter pouca ou nenhuma aptidão para escorregar. Moça! Moça. Alguém? E ninguém parece estar interessado no mau funcionamento do maior tobogã nacional. Está escuro e quente dentro do túnel. Começo a ficar nervosinha e entendo que a água acabou. Vou me arrastando para baixo com dificuldade ao longo daquela minhoca oca de fibra sintética. Uso principalmente os cotovelos que vão queimando em atrito com a superfície e vou levantando a bunda todo o trajeto. As coxas e bunda cismam em ir entalando e freando o meu desespero de sair. Passo por curvas e mais curvas. Finalmente chego perto do pontinho de luz aquático que indica o fim do tobogã sem água, e o início da piscina com água. Me jogo do escorrega na piscina e caio com pouca graça. Vou correndo procurar meus pais, afinal, eles devem estar preocupados. Devo ter passado anos, séculos, dentro do maior tobogã do Brasil.

Avisto o chapéu da minha mãe de longe e saio correndo. Quando chego lá ela parece estar pouco preocupada com a minha aventura pouco lubrificada no tobogã. 

Cadê o Henrique?

Meu irmão mais novo sumiu.

Aí sim, eu fiquei desesperada. Meu maior medo sempre foi virar uma criança desaparecida. Minha mãe sempre fez esse terror comigo.

Se você ficar dançando aí longe dos seus pais pode virar uma criança desaparecida. Se você vai brincar onde eu não te enxergo, você pode desaparecer, ela me dizia.

Não sei exatamente o que é virar uma criança desaparecida, mas sei que tenho medo e que não quero participar desse grupo sombrio. E não saber para onde vão as crianças desaparecidas, o que comem, o que fazem e pior, porque desaparecem, me deixava sem dormir. Por que esses homens roubam as crianças? Sim, homens, porque certamente são. Se o Henrique virar uma criança desaparecida eu nunca vou saber as respostas para essas perguntas, pensei. E aí eu vou ter mais medo, porque eu vou ter conhecido uma criança desaparecida e, por isso, vou estar mais suscetível a ser uma criança que desaparece também.

O Henrique reapareceu, mas eu continuei com medo de desaparecer. Acho que quero crescer logo, sabe. Que aí, logo, logo não tem como ser mais criança desaparecida.

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