Foto de João Wainer.
#48EróticaMúsica

Polivox: Silvia Machete

Sara Hana — A Silvia Machete é essa multiartista, cantora, compositora, performer, formada em artes circenses, e eu fico muito curiosa pra saber… Como foi a infância da Silvia, quem foi a Silvia quando criança?

Silvia — Eu tenho uma história interessante, que eu só concluí que é interessante há pouco tempo. Eu sou a filha mais velha da minha mãe e a filha mais nova do meu pai. Sou filha única do meu pai e da minha mãe, e juntando tudo, com todos os outros irmãos, eu sou a do meio. Então eu tive as dores e as delícias de estar nessa posição, de ser uma criatura que abriu portas pros meus irmãos, que teve uma educação um pouco mais severa, mas, ao mesmo tempo, foi muito paparicada pelo lado do meu pai, porque eu era a caçula, menina, meu pai já tinha dois filhos bem mais velhos, e acho que essa forma como você é tratada dentro da família com certeza te dá caráter. Também essa família partida. Minha mãe teve um relacionamento com meu pai, me tiveram, logo depois ela já estava em outro casamento, teve outros filhos, viagens. Eu nasci em Minas Gerais, minha mãe nem morava em Minas Gerais, ela foi do Rio pra Minas Gerais pra fazer o parto. Até hoje eu penso: como assim, uma pessoa grávida de nove meses sai do Rio de Janeiro de carro e vai pra Minas Gerais? Porque tinha um tio que era obstetra, era esse o combinado. Aí eu nasci, e voltando pro Rio, meu pai e minha mãe foram morar na Argentina. Então já começamos com experiências de mudanças bem radicais, de país, de língua, enfim, era tudo uma novidade.

Foto Alex Santana.

Interessante, você já é do mundo desde muito cedo.

Total, isso é outra coisa que você demora pra realizar também, você está acostumado a transitar em lugares longínquos. Eu acho que isso também influencia sua personalidade, o caráter da pessoa.

Sem dúvida.

E dentro de uma família bem criativa, bem artística. Meu pai era jornalista, minha mãe era jornalista, os dois envolvidos com política, política do Brasil, política internacional. E os filhos do meu pai, do primeiro casamento, os dois são músicos, o Doca e o Ivan. Então também teve essa proximidade com a música muito cedo. Meu pai, excelente cantor, tocava um violão maravilhoso e ensinou todas as irmãs da minha mãe a dançarem. Era um cara muito carismático, professor de português no fim da vida, e muito especial, um homem muito querido, muito amado. E um homem mais velho, meu pai era 25 anos mais velho que a minha mãe. E ele morreu cedo, então eu tive um pouco menos de contato com ele do que eu gostaria, mas era uma relação gostosa, apesar de ser aquela coisa de mãe separada, de pai de final de semana… Mas, ao mesmo tempo, o marido da minha mãe, com quem ela se casou depois, foi uma pessoa também que me adotou por completo, e eu aceitei isso e me senti muito incluída nessa nova família que foi surgindo.

Acolhida.

É, minha mãe escolheu muito bem os homens com quem ela se relacionou. E aí o Edmar foi esse pai pra mim durante uns dez anos, e aí eu tive mais uma irmã e um irmão, depois minha mãe se separou de novo e aí ela casou com o Jorge, com quem ela está casada até hoje, e a gente ama o Jorge, o Jorge ama a gente, a gente tem uma relação muito boa. Eu me sentia uma criança meio só, pra te falar a verdade, nesse turbilhão de gente, a minha mãe workaholic total, meu pai mais ausente no dia a dia, e eu tive que me virar bastante pra conseguir as coisas. Porque era muita gente, pais muito ocupados, prioridades. Eu e minha irmã e meu irmãozinho menor, a gente classe média carioca, com empregadas, a gente foi criado pelas empregadas, porque minha mãe trabalhava, meu pai, todo mundo trabalhava, não tinha essa. Mas, claro, também minha avó, a mãe da minha mãe, minha avó Marielza tinha cinco filhos, então era uma coisa assim, aquela casa lotada de gente. Minha mãe teve muito apoio dessa rede de mulheres também. Família interessante, são feministas, mas também machistas. Tem os dois lados da moeda, analisando as escolhas das minhas tias, da minha mãe. Mas eu sinto que elas fizeram tudo que sempre quiseram fazer na vida, sem depender dos homens, eu sinto isso. Minha mãe, imagina, nem casou com meu pai, foi lá e teve um filho nos anos 70, já era bem avançadinho isso.

Tem muito de uma construção social imposta sobre esses corpos.

Total. Tem milhões de coisas que eu discordo das opiniões da família, na nossa geração, eu e meus primos, a gente tem várias ideias diferentes e opiniões diferentes dos nossos pais e tios. Acho que eu sempre fui uma criança meio sozinha, não era muito da galera, nunca fui da galera, sempre fui uma outsider, até continuo sendo, na verdade. Eu sou totalmente sozinha, gosto de ficar sozinha, só consigo fazer o que eu faço porque eu sou sozinha. Claro que eu tenho uma entourage de pessoas que trabalham comigo, mas não tem nada a ver com a minha vida íntima, minha vida privada. Eu tenho meio pavor de andar em grupo, eu gosto de estar com poucas pessoas, gosto de coisas íntimas, gosto de ter atenção e dar a minha maior atenção a uma de cada vez. O que também é um pouco louco, porque, ao mesmo tempo, quando subo no palco, tem muita gente assistindo, e eu preciso comunicar e estar com todo mundo ali igualmente, então é muito interessante.

É aí que entra a artista.

É, cara, vira uma chavinha ali, que é como entreter quem está ali naquele momento, todo mundo vendo o que está acontecendo no palco e todo mundo reagindo ao mesmo tempo, todo mundo sentindo, recebendo a energia de quem está no palco, seja na atuação, com a música, existe uma ação e uma reação, e o que volta pra mim da reação do público é também uma força que vai gerando essa máquina criativa, de como não se comportar no palco, eu acho que o palco é o lugar onde eu mal me comporto, eu posso me comportar mal ali naquele momento.

Você é uma artista que transa muito bem variadas linguagens, você leva pro palco performances muito criativas, é humorada até quando propõe uma performance mais intimista. Você joga muito bem com a sua sensualidade, e a experiência na rua sem dúvidas agregou em suas construções cênicas. A rua e a cena, lugar onde se estabelece uma teia com as pessoas, transeuntes que estão indo para o trabalho, estão indo buscar a filha na escola ou atrasados pro cursinho… Como que você enxerga isso?

É muito doido esse negócio da rua, porque fazer a rua é tão difícil, exige uma paciência, uma resiliência, porque é muito humilhante também, você é ignorado, o tempo inteiro está sendo ignorado. É um negócio assim, te deixa muito casca-grossa, você aprende coisas sobre as pessoas que é difícil. E, ao mesmo tempo, não tem escola melhor que isso. Mas é “se fode aí que daqui a pouco a glória virá”.

Alô, glória, dá pra chegar logo?

Chega logo, pelo amor de Díos. Nossa, cara, a rua é sinistra, é a maior escola que tem. Eu ainda fui sortuda, eu fui pra Europa, onde isso ainda é aceitável, onde as pessoas estão na rua por opção, não por necessidade. Então tem uma mentalidade, mais respeito por parte do público, mas, mesmo assim, imagina, uma mulher na rua, mesmo eu tendo meu parceiro, que compunha a dupla de malabarista e acrobata, nossa, a quantidade de vezes que eu fui ofendida e desrespeitada e tal. Mas me deixou muito dura. Eu sou meio punk, na verdade, eu não dou… Diz a minha terapeuta que eu sou muito doce, mas eu acho que só pra quem me conhece mesmo. Não abro muito espaço. E eu acho que isso tem a ver com a rua, sabia? Eu não dou muita intimidade.

Foto Alex Santana

Você encontrou um mecanismo de defesa. 

Total. E uma coisa muito boa, me deixou com os pés no chão, muito pé no chão, muita consciência do que está rolando à minha volta, porque, quando você está na rua, você tem que estar muito ligada no que está acontecendo. Te deixa atenta. Então acho que também tem isso, você está meio num survival, modo sobrevivência também, sabe?

E a jornada como compositora, seu contato com a música? Você tem dois irmãos músicos, seu pai era uma pessoa altamente musical… Quando é que você descobre o desejo e tem o impulso de se lançar musicalmente, como isso ocorre?

É muito louco, eu sempre gostei muito desse lance da música, cantei no coral da escola, fui de grupos de música de jovens no Rio, tinha aula de violão, tinha aula de canto. Fiz aula de violão no Antonio Adolfo, no Rio, essas coisas todas. Sempre tive essa experiência de estudar e de me apresentar no palco, desde pequena. Eu acho que isso aí é tipo um vício. É um vício você estar na frente do público, é uma delícia. Eu acho que também tem a ver, o motivo pelo qual eu fiz isso também, foi por conta dessa infância meio sozinha. Como que eu vou chamar atenção? Como que eu vou conseguir ter os olhos das pessoas à minha volta em mim? Eu acho que também tem um pouco a ver com isso.

Então é um processo muito orgânico, também.

É, eu acho que sim. A gente vai concluindo ao longo da vida, porque as coisas acontecem, porque eu faço o que eu faço, é muito doido isso. Eu acho que sim, tem uma falta ali, um buraquinho, aí a gente preenche estando na frente de um público.

Preenche dando.

É, sim.

Nessa jornada são sete álbuns lançados?

Mais ou menos, porque tinha esse lance de lançar DVD, eu não conto isso como um disco. Eu tenho quatro álbuns de estúdio e estou indo pro quinto agora, que vai se chamar… É a trilogia Rhonda, esse é o segundo disco da trilogia e vai se chamar Invisiblewoman, Mulherinvisível, essa história de ser compositora. Eu sempre escrevi poesia, sempre gostei muito dessa parte, de escrever, redação, estou pensando lá atrás, como que isso veio. Como eu já tocava violão, escrevia umas musiquinhas lá do jeito que eu escrevia, mas nunca levei muito a sério isso, não. Isso aí era um hobby. Eu acho que continuo não levando a sério, mas é o que eu achei pra fazer e amo fazer. Aí encontrei o Alberto Continentino, que é meu parceiro nas músicas, e acho que a gente faz as músicas mais lindas. Então eu me sinto meio sortuda. Era uma brincadeira escrever e tocar violão, e eu inventei de gravar um disco. Eu tinha 30 anos, já tinha dado meu rolê pelo mundo inteiro fazendo show de rua. E aí eu estava numa relação já há muito tempo, me separei e vim pro Brasil. Eu saí de Nova Iorque e vim passar um tempo aqui no Brasil e acabei ficando. E foi aí que eu gravei o meu primeiro disco, Música safada para corações românticos. Caraca, gente, é muito tempo, socorro. Isso foi em 2008, quando voltei.

Aí corta pra 2020, o lançamento de Rhonda, que, aliás, é um álbum deslumbrante, é lindo desde a arte gráfica até a textura da tua voz, as melodias.

É lindo.

Foto de Carol Pires.

E um disco todo em inglês… Eu entendo muito pouco, quase nada de inglês, mas, desde pequena, sempre ouvi música americana nas rádios.

É, todo mundo, a gente tem a cultura de ouvir música americana, a cultura americana domina o mundo, pro bem e pro mal, tem coisas horríveis e tem coisas maravilhosas. Como no Brasil, tem coisas maravilhosas e tem coisas horríveis; como na França, tem coisas maravilhosas e tem coisas horríveis. Eu sou a favor de misturar tudo. Tem um monte de gente que torce o nariz, eu cantando em inglês, como se estivesse traindo a minha pátria. Pelo amor de Deus, eu não preciso fazer… Posso fazer a música que eu quiser. A essa altura do campeonato, as pessoas querem julgar a língua que você está cantando, mas…

Querem cristalizar você, porque talvez seja um trabalho que te destaca numa atmosfera muito diferente do que você vinha tendo com as performances anteriores. Quando, na verdade, isso é um marco de uma nova fase da artista, de uma nova fase de vida.

Exato, todo artista pensa nisso. E quer isso, quer uma nova fase, não quer o mesmo papel pra sempre.

E Rhonda nasce de quais desejos? O que a Rhonda quer comunicar, além disso que a gente falou?

Eu acho que rola um romantismo, todas as músicas são de amor, e totalmente pessoais. Na verdade, Rhonda é muito parecida comigo, muito mais íntima minha. Eu, no meu pessoal sou, muito mais Rhonda, mas também sou muito a mulher dos bambolês e da pomba e tudo, tem uma mistura aí de desejos. Mas são canções românticas, basicamente. O que não sai muito do primeiro disco, que era Músicas safadas pra corações românticos. E aí continua sendo. Eu sou uma romântica, essa é a verdade. O Amarante falou uma coisa sobre isso, escreveu uma frase muito linda. Ele falou: “eu sou romântico demais pro meu próprio bem”.

As onze faixas do disco foram compostas antes e durante a pandemia, não é?

É. Na verdade, foi composto no ano que precedeu a pandemia.

2019.

É, foi 2020. Em 2019 eu compus, gravei e estava previsto pra ser lançado no início de 2020, só que teve a pandemia e só foi lançado no meio de 2020. Eu mudei pra São Paulo, falei: “nossa, essa cidade…”. Me senti em outro país, de tão diferente que era do Rio, o ambiente. E aí isso me reaproximou do estrangeiro, e aí foi um passo muito pequeno pra começar a escrever poesia em inglês. Porque estava ali na ponta da língua esse inglês, é minha segunda língua, morei muito tempo fora, fui casada, me comuniquei, briguei em inglês.

Tem intimidade.

Muito íntima dessa língua que se escreve muito bacana pra música pop, a música radiofônica. É o maior barato. Aí tem essa coisa também de muitas pessoas me perguntarem “mas você quer entrar no mercado internacional?”. Não, gente, não é isso. Adoraria, legal. Imagina, jamais poderia. Se eu quisesse entrar no mercado internacional, era melhor que eu fizesse um disco de samba, bem brasileiro. Essa coisa de cantar em inglês porque quer ir pro mercado estrangeiro… Não tem nenhuma música mais internacional do que a música brasileira. Ela está por todos os cantos do mundo, e eu sei disso, porque eu já estive nos quatro cantos do mundo e tem sempre música brasileira tocando nos supermercados, nas lojas, nos restaurantes e em tudo mais.

Sem dúvida. Se utilizar de outro idioma que não o português deve ter sido um desafio gostoso e ao mesmo tempo, pensando na cena, na atriz, traz outras camadas pra construção dessa persona, revela outras Silvias Machete.

Isso, cara, é um acessório maravilhoso, porque… Ainda mais quando você canta em inglês, a sua voz está colocada de outra forma, você articula sua boca de outra forma, você soa de outra forma. Então é um ótimo… Como se fala? É uma super ferramenta pra montar personas, personagens, bem legal.

Então Rhonda parece ter tido alguns desafios: um álbum lançado em plena pandemia que teve seu show num palco dois anos depois. Uma narrativa que passeia entre o jazz e o soul, inteiramente em inglês… No show a Rhonda se comunica com o público em inglês, tem essa brincadeira. Você até já falou um pouco, mas qual é a sua percepção da recepção do público brasileiro?

Tem de tudo, é legal. Nessa brincadeira, depois as pessoas vêm falar em inglês comigo, maior barato, muito engraçado. É uma grande piada, na verdade.

É teatro, isso.

Sim! E o teatro é isso, teatro é brincadeira, você vê a palavra teatro em inglês, play, é brincadeira, as pessoas estão brincando ali. E é isso que estou fazendo, estou brincando, eu brinco com a minha nacionalidade, eu brinco com a minha sexualidade, eu brinco com meu corpo, eu brinco com o público, eu trago o público pra dentro dessa brincadeira, e eu sei fazer isso por conta da experiência da rua, que a gente também brinca na rua. Acho maior barato. As pessoas escrevem pra mim em inglês no Instagram, é uma piada maravilhosa sem fim.

Infinita. Essa liberdade pra brincar de ser ridículo.

É, Rhonda é completamente ridícula, é absurda. É muito bom.

E sobre a sua parceria com Alberto Continentino, quem produziu o disco foi…

Foi o Lalo Brusco e o Alberto, e as músicas são minhas e do Alberto.

Alberto é teu parceiro de muito tempo, teu parceiro mais recorrente?

Não, o Alberto é meu amigo há muito tempo, a gente já tocou em show juntos, já gravamos juntos muitas vezes, ele é esse cara, ele é o músico dos músicos, o Alberto realmente é um grande baixista, toca com Caetano Veloso e muitos outros artistas, e ele não toca comigo, a gente só compõe as músicas. Junto com Lalo Brusco, eles produziram esse disco, Rhonda, e produziram esse que vai ser lançado em abril. A gente gosta de pensar, e a gente concluiu que realmente é um trabalho a três pessoas, temos aí três cabeções fazendo esse lance acontecer. E, claro, convidando nossos músicos inspirados pra tocar no disco.

E você está prestes a lançar um novo disco, como você falou, o segundo da trilogia Rhonda?

Isso.

Se você quiser contar um pouquinho sobre Invisiblewoman, dar um spoiler

Invisiblewoman é mais pop, com certeza, do que o Rhonda, e ele continua tendo muito romantismo, mas tem músicas maravilhosas pra dançar também, tem umas três faixas excelentes pra dar uma mexidinha no esqueleto. Então eu sinto que a Rhonda botou um pé, ela está num bar bebendo um drinque agora, ela está animadinha, diferente do Rhonda primeiro, que estava realmente mais denso, um mood mais comprimido sexualmente, ela está mais presa, ela está bem apaixonada. Aqui ela já está tipo firulando, dançando mais, mais felizinha, mais aberta. Tem algumas músicas lindas, a gente fez uma música pro Burt Bacharach, que é um músico que faleceu ano passado, um dos músicos mais românticos pra mim, a gente fez uma música pra ele que é lindíssima, se chama Abracadabra, que é um casal se olhando juntos no espelho e se perguntando o que esse espelho enferrujado fala sobre eles e como você mantém uma relação com uma pessoa, o que faz você ficar numa relação, como se rega um amor, como se cuida desse amor. É uma música bem bonita. E tem música pra minha cachorrinha, que faleceu há um ano e meio atrás, Salomé. A Invisiblewoman é uma música super dançante, deliciosa, e bem política, eu fiz essa música por conta dessa coisa da mulher ser invisível muitas vezes, a maioria das vezes, dá uma raiva isso, nossa senhora. Então é uma música bem-humorada e tal, gostosa de dançar, mas ela tem um significado ali, bem a gente, pelo menos eu acho. Tem uma frase que ela fala, que é a famosa frase “don’t tell me to relax”.

Please!

Don’t tell me to relax. E essa coisa do olhar do homem não enxergar as mulheres, só enxergar quando elas são objetos sexuais. Essas coisas.