Brasa, série fotográfica de Gleeson Paulino, gentilmente cedida para a edição O Homem: Amarello 15 anos. Todos os direitos reservados.
#51O Homem: Amarello 15 anosCultura

A Guardiã e o Voluntariado Transformador

E depois… Uma xícara vazia fora colocada à mesa, na simbologia transcendental da chegada do velho, tanto físico quanto temporal, pois, na realidade da vida, representava o novo!

A guardiã ocupa-se dia e noite a restaurar vilas, aldeias, pequenas cidades, grandes cidades e, por que não?, casas humildes, casas burguesas e até palacetes. Independia, sua ação, de classes sociais, países e continentes! O importante era restaurar nem que fosse a Casa Branca, a NASA, o Congresso Nacional brasileiro, até o Serviço Nacional de Informações! Se a missão era restaurar, mãos mágicas começavam a agir com a força do fogo violeta transubstanciando o Rio Ganges, o Rio Amazonas e todos os rios do Brasil, os mares do Atlântico ou os vulcões incandescentes.

A última restauração, passados alguns séculos de destruição e desrespeito a um povo tradicional, fora no Nordeste brasileiro (uma Amazônia destruída), onde, a partir da expansão da consciência das crianças, à época áurea e cristalina, ela aconteceu com êxito. A reconstrução de sua identidade cultural e étnica se deu a partir de uma nova forma de educação, que hoje se chama “paulofreiriana”, que nada mais era do que reconhecer os valores culturais e os conhecimentos tradicionais do povo e aplicá-los à aprendizagem do dia a dia. Aí, é claro, as seculares gerações festejavam a ação desse papel transgeracional com ofertas de luzes de cristal e força espiritual!

O que representava, então, o papel da guardiã? Além do fortalecimento das funções políticas, sociais e espirituais, o belo renascer da humanidade para a força mental e espiritual do voluntariado transformador! Assim se deu com os grandes líderes, como Nelson Mandela, Madre Teresa de Calcutá, Gandhi, Jeane Sindab, Manoel da Conceição, Chico Mendes, Luiz Carlos Prestes, Mário Juruna, Raoni, Megaron e milhares de “apoiadores de luz do comando planetário”, que se distribuíram em segmentos nas artes, nas políticas, nas ciências local, nacional e internacional, independentemente de obterem vantagens pessoais, promoções e segurança de vida. Num plano mais elevado, citam-se os diversos espíritos supremos, como o Divino mestre Jesus de Nazaré (Sananda), Krishna, Shiva, Sidarta, Brahma, Zeus, Alah, Oxalá, Platão, entre outros.

É difícil viver uma vida de voluntariado transformador? Sim, mas é dentro do trabalho voluntário que os recursos financeiros, através de doações pessoais, culminam nos institucionais, que surgem para a sobrevivência pessoal, social e global do trabalhador. É dando que se recebe! Alguns desses líderes morreram de fome, e é por isso que os governos devem apoiar o trabalho do voluntariado transformador, como os catadores de lixo para material reciclável, as quebradeiras de coco, os pescadores. Enfim, os curadores da terra, como aqueles que combatem o fogo nas florestas, que preservam o meio ambiente e protegem os seres humanos e animais. Segmentos como escritores, pensadores, artistas, filósofos, professores, médicos e enfermeiros fazem parte do grande voluntariado transformador, e não deveriam passar por burocracias, papeladas online aterrorizantes e desestimuladoras, que só servem para uma minoria articulada. Seus salários são migalhas do poder.

Recentemente, o mundo transcendental convocou a guardiã para restaurar grandes cidades conflituosas no mundo inteiro, entre estupros, pedofilia, máfias, tráfego e uso de drogas e corrupção política e de menores, entre outros crimes. É óbvio que essa força atuante da guardiã conta com milhares de mãos trabalhadoras de luz. É o voluntariado transformador! Seja física, ancestral ou espiritual.

Nos velhos casarões, há de se limpar, organizar e purificar paredes e telhados, fazer revelar as linhas, as artes, a beleza das paredes, dos corrimãos de madeira envernizada, dos quadros seculares de pintores do presente e do passado, de peças de porcelana, das estátuas das mais diversas formas e dos artesanatos em plumagem, pedrarias e cestarias.

No ambiente exterior, os jardins, os canais dos riachos, os grandes muros e as ruas terão de ser limpos das terríveis baratas aglomeradas e ratazanas fétidas e dos lixos acumulados há tempos, poluidores do ambiente e do ar. As igrejas hão de se restaurar e devolver o ouro, a prata e os diamantes a quem pertencem por direito secular, já que foram arrancados a dor e suor pelo trabalho escravo de indígenas e africanos das Américas e da África.

Referendando à natureza, as águas, as terras e as montanhas são desinfetadas pela força do trabalho da mente do legislativo, do judiciário e do executivo, atrelado à consciência popular no cumprimento das leis, de seus papéis e de suas responsabilidades.

O planeta Terra está a passar por mudanças radicais. Uma delas é a rebelião do clima, que está a acontecer para que uma nova capa seja reposta em substituição à grande poluição ambiental e atmosférica. É como a mudança da pele das cobras. O planeta está a ganhar, paulatinamente, uma nova pele. O novo planeta azul!

A guardiã cumpre seu papel. Nesse contexto, ela foi designada a dar as boas-vindas à nova geração. Arrumou as camas para o sono profundo dos que trabalharam firme nos últimos séculos e preparou a mesa. Uma xícara de porcelana lindamente colorida e pintada anunciava a chegada de algo velho, carcomido e depauperado, mas cheio de experiências. Logo entra uma jovem a propagandear a nova humanidade e a transição planetária. Ela trazia na sua essência os conhecimentos, a sabedoria, a “Senhora Si”, andarilha pela paz e pelo amor entre povos. Era a representação de novas mentalidades, de uma nova ética: a humanidade e o planeta restaurados. Esperança do universo! A nova guardiã de todos os tempos sorria. O novo voluntariado transformador emanava luz, força, energia e alegria de viver! Sigamos com esse voluntariado, porque as bênçãos, o amor, o trabalho e o desenvolvimento são seus amigos fiéis. Dele depende a sobrevivência e purificação do planeta Terra. Assim aprendi com minha avó, Maria de Lourdes de Souza, indígena Potiguara, paraibana, pobre, mas  sacerdotisa de grande riqueza dos conhecimentos tradicionais e imemoriais dos povos indígenas.

TERRA E ÁGUA

“A Terra é um organismo vivo que fala conosco através das chuvas, dos trovões, da luz do sol que faz crescer a vegetação, que ilumina o dia, que nos dá o néctar da vida, não só para nós, mas para todos os seres vivos terrestres, marítimos, fluviais. A lua é nossa avó, o sol é nosso avô. Nossos corpos são sagrados, e de nossos úteros brotam vidas. Nossas culturas e cosmovisões são os maiores patrimônios para vidas futuras, pois o planeta Terra é nosso avô, e as mulheres indígenas são sagradas como a natureza.”

Oração à natureza, Eliane Potiguara

No dia em que a sociedade brasileira definitivamente entender a filosofia indígena, ela será mais feliz e menos competitiva. As bases da cultura indígena são a cooperação, a colaboração, o amor e a solidariedade ao outro. O sistema atual de vivência da sociedade baseia-se no dinheiro, enquanto, no sistema dos povos originários, as relações de troca e a sustentabilidade são mais fortes. Isso não significa que eles não utilizam o dinheiro, mas o fazem de forma mais humanitária. O sentimento de pertencimento a uma terra, seu meio ambiente e sua ancestralidade são as linhas mestras da sobrevivência — o que deveria ser vivência, não fosse a falta de apoio do Estado e de reconhecimento de suas diferenças.

Dessa forma, as sociedades indígenas que pareciam prestes a serem extintas veem, a cada dia, crescer sua população. E seus valores podem muito contribuir para a sociedade. Vamos dar um exemplo disso falando de um elemento essencial que serve como mantenimento cultural: a água.

A água tem sido motivo de debates em salas de aula e encontros ecológicos, e todos parecem dispostos a refletir e discutir sobre ela, porém, como sempre, são discutidas formas e apresentadas importantes ideias unicamente para sua preservação no planeta Terra. Não duvide de que toda e qualquer sugestão será bem-vinda, mas, como isso, a solução para a questão será protelada mais algumas décadas.

Precisamos nos fazer mais alguns questionamentos: quanto tempo temos? Nossos filhos, netos e gerações seguintes vão ter a chance de reverter esse tempo? Por que nossa geração e as antecedentes não conseguiram aproveitar o tempo que tiveram? Conseguimos imaginar o que será da vida nesta nossa casa chamada Terra quando não mais houver água para nada? Quando isso acontecer, teremos para onde ir para sobrevivermos? Onde está o nosso instinto de preservação da espécie quando se trata de cuidar da nossa sobrevivência? Essas perguntas vitais podem ser tema de debate para a conscientização de professores e alunos. Afinal, a essencialidade da água é evidente e nos remete para muitas dimensões da existência.

Em muitos preceitos espirituais, a água é fonte não só de vida, mas é cura, coloca-nos ao pé do Divino, transcende-nos e acolhe-nos em inúmeras culturas.

Os povos originários de todos os cantos do mundo precisam ser escutados com seus saberes e ações. No Brasil, por exemplo, indígenas e quilombolas são vetores importantes, nos dando exemplos valiosos de como preservar e usar a água de forma consciente e sustentável.

O tema sobre a água dá asas à imaginação para outras diversas pautas relativas à natureza e ao meio ambiente que podem ser tratadas por professores e alunos. Dessa forma, teremos uma educação diferenciada daquela imposta pela colonização contemporânea. Deixemos esses povos falarem.