Para sempre é para já. Para amanhã é para sempre também, para todos. Mas ontem, mudei de ideia. Porque vi o passado sentado ao meu lado, com cara de ontem, como quem sempre quis algo que durasse para sempre, mas nunca sentiu nada além de um sopro passageiro. E vi ali que para sempre é para poucos. E bons. Porque sempre é grande demais, é tempo demais. Difícil de alcançar, pela grandiosidade da coisa. Assim, ó: sempre é para sempre, muito mais eterno do que o tempo que dura. Pensar sempre é pensar grande, é ser maior que a própria vida em si. Será que te dou uma ideia da dimensão que para sempre pode ter? Está além do alcance, mas você ainda pode ser, há tempo. Porque não faz sentido estar onde se quer sem sequer saber o seu lugar. E sempre foi assim. Ontem mesmo vi. E por alguns minutos tive a impressão que aquela noite duraria para sempre. Até poderia, mas, de repente, para sempre ficou oco, sem sentido, como quando um diz para o outro “te amo pra sempre” só por assim dizer. E por assim dizer não me diz nada, nunca me disse. Não estimula, não sobe. Não rola. Rola no sentido de não acontecer e também no sentido “picatórico” da palavra. Por assim dizer, não me fala ao pau. E no broxar da noite, para sempre se tornou uma jornada longa e exaustiva, arrastada com uma internação, como assistir o soro fisiológico pingando, descendo lentamente pelo tubo até a veia. E para sempre nunca é a conta gotas. Para sempre é dose cavalar. É muito. Muito mais, muito maior. Para sempre. Sabe?
Para sempre é para poucos
por Hermés Galvão