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#11SilêncioArteCinema

Silêncio: ação

por Jair Lanes

Em 2012, dois filmes homenagearam a sétima arte e foram sucesso de público e crítica, angariando prêmios ao redor do mundo. O diretor norte-americano Martin Scorsese fez um ousado tributo em 3D a Georges Méliès em A invenção de Hugo Cabret; já o francês Michel Hazanavicius, diretor de O artista, optou por reviver nas telas do mundo inteiro um formato considerado extinto há várias décadas: o cinema mudo. Inesperadamente, O artista conquistou a crítica mundial; não somente por homenagear o cinema mudo norte-americano, mas também por resgatar o cinema de uma época onde letreiros de diálogos dividiam espaço com mímicas, com explícita influência expressionista. Ao conseguir destacar-se no cenário cinematográfico mundial, onde produções com explosões em ritmo acelerado e franquias bilionárias monopolizam os mercados, o longa trouxe de volta a inocência de assistir a uma trama em que o silêncio é tão presente.

O silêncio, tão explorado por filmes de arte, foi durante muito tempo a essência do cinema mudo. O diálogo era transmitido através de gestos, mímica e letreiros explicativos, e por meio de poucos cenários, quando não um apenas. Era praticamente um “teatro filmado”. Os atores do cinema mudo foram os pioneiros das técnicas de linguagem corporal, ainda o único modo de comunicação experimentado.

Durante os primeiros anos do cinema, boa parte dos filmes era documental. Em 1896, os irmãos Louis e Auguste Lumière enviaram a vários lugares do mundo fotógrafos com câmeras. O propósito dos “caçadores de imagens” era o de registrar imagens de vários países e assim difundir diversas culturas mundiais na França. Experimentações com diferentes narrativas pipocavam pelo mundo. A percepção geral era a de que o cinema não tinha limites e era uma invenção muito pouco explorada. Porém, a cada produção suas ferramentas evoluíam exponencialmente. O advento da edição permitiu que histórias com construção narrativa pudessem ser contadas, atraindo espectadores para tramas, personagens e outros elementos inexistentes nas primeiras experiências cinematográficas. Assim o cinema flertava com a arte, com contextos claramente literários e teatrais.

Na década de 1910, o diretor norte americano D.W. Griffith conseguiu ampliar as fronteiras da linguagem do cinema. Parece ter sido o primeiro a entender como as técnicas poderiam ser usadas para criar uma linguagem expressiva. Dois de seus filmes mais importantes conseguiram dar ao cinema um contexto de espetáculo épico impressionante. O nascimento de uma nação (The Birth of a Nation, 1915) e Intolerância (Intolerance, 1916) são pilares da gramática cinematográfica, influenciando gerações de cineastas.

As primeiras comédias foram feitas na França, onde se combinavam personagens divertidos com perseguições. O ator mais popular da época, Max Linder, foi o criador de um tipo refinado, elegante e melancólico de muito sucesso na primeira geração de comediantes. Mas o verdadeiro gênio da comédia silenciosa foi o inglês Charles Chaplin, que, com seu personagem Carlitos, mesclava humor, poesia e crítica social. Um dos sucessores da comedia de Max Linder, Chaplin foi ator, roteirista, diretor e produtor de seus filmes. Mestre da pantomima e autor de clássicos desta era, foi defensor enérgico do cinema mudo até depois da consolidação do cinema sonoro.

A comédia norte-americana conseguiu dominar o mercado interno e, no final da década de 1910, também o externo. Os filmes passaram a ter duração cada vez maior, e as produções, cada vez mais complexas, pressionavam os realizadores da época a repensar seus filmes baratos, de onde não obtinham muito lucro, e a tratar de recriar o cinema como uma indústria, e seus filmes, como produtos a serem vendidos. Era o fim da inocência.

Um antigo subúrbio de Los Angeles evoluiu de aglomerado de produtoras à força motriz do cinema mundial. Depois da Primeira Guerra mundial (1914-1918), Hollywood superou a concorrência europeia, consolidando sua indústria cinematográfica. Descobrindo e inventando astros que perpetuavam o sucesso de produções, tornando conhecidos em todo o mundo comediantes como Charles Chaplin e Buster Keaton; atores como Rodolfo Valentino e Wallace Reid; e as atrizes Gloria Swanson e Mary Pickford, que, em 1919, juntamente com Chaplin, Douglas Fairbanks e D.W.Griffith, fundaram a produtora United Artists.

Gradativamente, diferentes olhares em vários países transformaram o cinema. Na Alemanha, surge o expressionismo e seu esteticismo delirante retratado nos filmes O autômato (Der Golem, 1914), de Paul Wegener, e O gabinete do Dr. Caligari (Das Kabinet des Dr. Caligari, 1919), de Robert Wiene. O realismo russo fez parte do projeto bolchevique de poder. Porém, mesmo com esta premissa, obras fundamentais surgiram e cineastas criaram técnicas mimetizadas mundo afora. Surgiram nomes como Serguei Eisenstein, diretor de O encouraçado Potemkin (Bronenósets Potiomkin, 1925), e Vsevolod Pudovkin, de Mãe (Mat, 1926). A vanguarda francesa, a chamada renovação do cinema francês, coincidiu e assimilou os movimentos impressionista, dadaísta e surrealista. O cão andaluz (Un Chien Andalou, 1928) e A idade dourada (L’Âge d’or, 1930), de Luis Buñuel e Salvador Dalí, são referências. Hollywood bebia nestas fontes e invariavelmente convidava expoentes destas correntes cinematográficas para trabalhar em suas lucrativas fileiras. Tecnicamente, o desejo de sincronizar filmes com sons gravados é tão antigo quanto o próprio cinema. Até o fim dos anos 1920, devido à falta de tecnologia, os filmes em sua maior parte eram mudos. Curiosamente, cinema mudo nunca foi realmente mudo, pois utilizava orquestrações e até narradores durante as exibições. O som apenas acompanhava a imagem, antecipando ou não a atmosfera dos planos seguintes. A utilização da música proporcionava reações entre o filme e o público, ajudando a criar sensações.

Como sempre ocorre no capitalismo, a inovação é uma aposta arriscada, mas às vezes pode ser um tiro certeiro. À beira da falência, os irmãos norte-americanos Warner apostaram as fichas no arriscado sistema sonoro, e a ótima bilheteria de O cantor de Jazz (The Jazz Singer, 1927) consagrou o “cinema falado”. A partir dos anos 1930, com o aperfeiçoamento do som, o diálogo cinematográfico ganhou destaque junto com a mixagem de música, ruídos e silêncios. O cinema industrial se deparou com uma de suas mais complexas revisões e desenvolveu uma dramaturgia diferente das experiências já vividas com o cinema mudo. Por isto, todos os profissionais da indústria cinematográfica precisaram de alguns anos para absorver os novos recursos, até desenvolver a maturidade narrativa que permitiria o surgimento de novas técnicas dramáticas. No Brasil, em 1930, foi produzido Limite, de Mario Peixoto, filme mudo e surrealista cujo enredo consistia numa afirmação, melancólica e um pouco agressiva, sobre a limitação e a futilidade da existência. É considerado um filme fundamental na história do cinema brasileiro.

Na contramão dos seus pares, Charles Chaplin continuou a criar obras-primas à base de pantomima, como Luzes da cidade (City Lights, 1931) e Tempos modernos (Modern Times, 1936). Para ele, a pantomima e as imagens eram as principais conexões com seu público. O som tinha o poder de tanto ampliar e trazer maior realidade ao cinema quanto de restringir sua percepção, limitando seu significado. Rendeu-se, enfim, mas sua genial vingança foi continuar produzindo obras-primas, agora sonoras.

O frenesi visto em torno do filme O artista é, na verdade, uma celebração ao silêncio cinematográfico, que diz tanto a nossa alma e que nos relembra o ato quase banal de olhar uma sequência de imagens em movimento e compreendê-la em diversas dimensões. Para a maioria das pessoas de 115 anos atrás, este raciocínio lógico que é disparado e nos ajuda a entender o que estamos assistindo simplesmente não existia. Comparado a outras formas de linguagem, o cinema ainda esta em seu limiar, apesar dos excessos e piruetas técnicas. A imagem, na sua essência, tem movimento, tem dimensão e significado. Expandir os limites do silêncio e de bons roteiros parece ser, neste sentido, a lição que O artista ensinou ao cinema de hoje.

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