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#23EducaçãoCulturaSociedade

Redescobrimento

por Mico Toledo

Como todo Brasileiro no exterior, vivo uma constante dicotomia.

Estou longe da minha cultura e sofro para tentar entender um Brasil tão complexo, mas, ao mesmo tempo, me sinto em uma posição privilegiada, onde consigo ter uma visão de fora muito mais ampla. Daqui, enxergo o país em um eterno misto de nostalgia e olhar quase turístico, fascinado com a cultura do meu próprio país.

Com isso, acabei obcecado com o mundano e o cotidiano brasileiro, e, para tentar entender mais o país que deixei, e me aproximar mais de algo tão distante, comecei o Leitura.

Vivendo no Brasil, talvez nunca enxergaria, ou demoraria mais para enxergar, o que consigo ver hoje com esse distanciamento.

A beleza, a poesia e a arte nas pequenas coisas. Esse é o meu Brasil.

Como a minha mãe sempre diz, com sarcasmo, quando não percebo algo muito perto da minha vista: “Se fosse uma cobra te mordia”.

Retratos Pintados

O dia em que a fotografia digital foi introduzida mudou a vida de muita gente. Mas, principalmente, mudou a vida dos retratistas.

Essa arte popular tão difundida pelo Nordeste perdeu a maioria de seus consumidores, que agora carregavam seu próprio equipamento, antes exclusivo ao retratista. A onipresença de câmeras digitais foi lentamente tirando a arte da mão do artista e passando-a, sem muita estética e cuidado, ao grande público.

A selfie substituiu o retrato pintado, o pau de selfie substituiu o pincel, e a tela digital substitui o papel fotográfico.

Mas o que não pode ser substituído é o valor dessas imagens.

Os retratistas não só davam cor às imagens preto e branco, mas, como o fotógrafo William Eggleston, davam a essas imagens um novo significado, um novo olhar.

Interpretando e colorindo os retratados, eles os elevavam à condição de arte.

A Arte Pop dos Brasões


Com o fim do Estado Novo, em 1946, os estados e municípios brasileiros ganhavam autonomia e liberdade para escolherem seus próprios símbolos.

No momento em que os estados e cidades buscavam sua própria identidade e independência Federativa, os brasões foram muito importantes para unir pessoas, culturas e regiões do Brasil. Imagine a dificuldade de cada estado e cidade para criar seu próprio logo, escolher um ícone que representaria e agradaria a maioria dos seus clientes, os cidadãos. Ícones como a araucária, a foice, a arma, o mar, o milho foram escolhidos e desenhados de uma forma quase naïf, simplista, e que acabaram alcançando seu objetivo para a união necessária naquele período. Um ato quase altruísta de artistas
desconhecidos que, sem querer, alcançaram uma qualidade estética incomparável. Pop art dos Brasões.

Maracatu

O Maracatu da fotógrafa Barbara Wagner é distinto do Maracatu conhecido pela maioria dos brasileiros. Esses retratos não contêm as fantasias, os apetrechos e as camadas que geralmente descem as ruas de Recife e Pernambuco todos os anos. Nessas fotos, vemos um ritual mais cru, mais real, com um olhar quase antropológico da fotógrafa, que não tenta julgar nem buscar um clichê, mas sim capturar uma outra dimensão desse complexo ritual.

Barbara capturou os maracatuzeiros em ensaios noturnos pelo Nordeste. Muitas vezes, eles, os maracatuzeiros, estão imersos em um transe, um misto religioso e alcoólico. Daí as poses e caras, que parecem transcender o físico e atingir uma esfera espiritual.

Benjamin Guimarães

Um barco a vapor do Mississipi nas águas brasilienses? Parece conto de pescador, mas é verdade.

Benjamin Guimarães veio do Mississipi na década de 1910 e é o último barco a vapor em funcionamento do mundo. Minha mãe grávida da minha irmã, na década de 70, fez a jornada de Minas até o Pernambuco. Hoje, o Benjamin, mais velho e com mais de cem anos de serviço, faz só parte desse trajeto no Rio São Francisco.

Rendeiras de Cariri

O vale do Cariri em Pernambuco é um lugar onde o tempo ainda passa mais devagar, e as rendeiras aprenderam a lidar com o tempo de sua própria maneira, ponto a ponto. Esse ofício é passado de rendeira a rendeira, de geração em geração. Cada renda, cada manta, cada vestido é um esforço coletivo que às vezes toma um ano ou mais para ser completado. Em 2016, as rendeiras viraram fashion, o trabalho delas teve projeção nacional na coleção de Fernanda Yamamoto no São Paulo Fashion Week. É o Brasil profundo ditando moda.

Fé

O Brasil é um país predominantemente cristão. Mais precisamente, 87% da população. Mas quem não mistura tudo, santo, candomblé, mandinga, fita do Senhor do Bonfim?

O sincretismo que o país vive me encanta daqui de fora. Um grande amigo, cristão no papel mas sincretista de carteirinha, todo ano novo experimenta algo novo, numerologia, umbanda, camdomblé, espiritismo, borra de café; já passou por tudo e às vezes me leva junto com ele. Sua mente aberta à experimentação e a ausência total de intolerância religiosa, para mim, definem o Brasil. Um lugar onde todas as fés vivem em uma certa harmonia. Exceto o futebol, é claro.

Os Nonatos

Ouvi os Nonatos pela primeira vez no filme Boi Neon, de Gabriel Mascaro. A canção tema do filme, “O Astronauta”, não saiu da minha cabeça, como chiclete, mas chiclete bom.

Ela me levou para um lugar no Brasil que eu nunca havia estado.

Os Nonatos não são irmãos. Nasceram em cidades distintas, um no Paraíba e outro no Ceará, e são um dupla de repentistas, tratada como celebridade por quem os conhece.

Mais de trinta e cinco bandas brasileiras já interpretaram suas músicas, entre elas “Mudar pra quê?”, “Metamorfose” e “Ponto G”. Essas são algumas das mais tocadas na minha playlist.

Samico

Gilvan Samico é um desses artistas que trabalhava do seu jeito, avesso ao mundo que cada vez corre mais rápido. De uma forma calma e lenta se preocupou em resgatar e recuperar o romanceiro popular brasileiro e a literatura de cordel.

Nos últimos dez anos antes de sua morte, produziu apenas um trabalho por ano. Mesmo ao seu tempo, conquistou o mundo com suas xilogravuras complexas e seu reino rico de temas folclóricos brasileiros que já ocuparam as paredes do MoMA, do Caixa Cultural e outros museus mundo afora.


Miss Penitenciária

A primeira coisa que um grupo de soldados americanos fez ao descobrir prisioneiras nos campos de concentração da Alemanha nazista foi dar-lhes um batom. Esse ato simples devolvia a condição de humano e de mulher que as foi renegada durante o regime. O ato devolvia a autoestima.

Algo muito parecido acontece todos os anos em mais da metade dos estados brasileiros. Desde 2004, penitenciárias femininas de todo o Brasil tomam um ar mais leve, mais feminino, mais humano, pelo menos por um dia, quando realizam o concurso de beleza. O Miss Penitenciária de 2015 atraiu até personalidades como Raul Gil e Anna Hickman, e entre as vencedoras estavam, além das brasileiras, uma sueca e uma angolana.

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