O tecido, material escolhido por mim para esta série, é constituído de uma estrutura de fios que se cruzam ordenadamente. As direções são sempre as do urdume, vertical, e da trama, horizontal. Essas linhas, perpendiculares entre si, criam minúsculos encontros, perfeitos e estáveis, que possibilitam ao todo a realização de uma superfície única, um plano outro, maleável e resiliente. Meus trabalhos com tecido se valem da lógica construtiva inerente ao próprio material para explorar questões como cheio e vazio, leve e pesado, tensão e distensão, superfície e profundidade, e a passagem do tempo. As ações de cortar e desfiar, pregar e esticar são os únicos elementos do jogo.
Os trabalhos, em sua maioria de cores claras, são esticados diretamente sobre a parede, fazendo com que sua sombra seja incorporada à imagem da obra. Esse sútil rebatimento de luz e sombra entrecruza o desenho da nova trama, ao mesmo tempo que a insufla de ar, formando uma espécie de caixa vazada de linhas reagentes ao mínimo sopro. Revela um procedimento de escultura àquilo que, em um primeiro momento, pode parecer algo bidimensional, como um desenho ou uma pintura. Os padrões de movimento, que aparecem com a ação da mais sutil entrada de ar, muitas vezes assemelham-se à imagem do sopro do vento em uma superfície de água. A rarefação da superfície e sua fragilidade visual e física contribuem para sua dissolução no espaço. Essa relação com o espaço e com a luz que atravessa as tramas dos tecidos exige do observador um permanente esforço para corporificar essas estruturas-limite.