Sofia Borges (Ribeirão Preto, 1984) vive em São Paulo e, no momento, realiza residência artística em Jerusalém. É uma artista conceitual, que se utiliza do meio fotográfico há mais de uma década para estudar noções filosóficas sobre a relação entre matéria e significado. Ao se valer da colagem, da performance, do fogo e das camadas de pigmentos, Borges cria imagens que parecem irreais, muitas vezes interpretadas erroneamente como projetadas ou manipuladas por software. A estética radicalmente estranha de suas “fotografias tradicionais” vem do fato de construir cenários fotográficos complexos, que nascem ora de algo existente, ora de algo que é construído e depois fotografado.

Em uma prática espiralada de busca pela origem e densidade da imagem, Sofia Borges explora um exercício de observação e adição de camadas de sentido — conteúdo e material — sobre o que é a superfície do visto e o que somente se faz possível desvelar por trás dessa superfície. Sua prática é antitética à mídia fotográfica, que se propõe a registrar o visível, quase em uma atividade ontológica prática, abordando a concepção do entendimento sobre o todo. Nessa perspectiva, Borges nos dá a dúvida do inverso: imagens materiais, documentando o lado invisível da percepção.

Na capa desta Amarello, Sofia apresenta obra inédita, criada especialmente para concluir os três atos que propôs como sua participação na exposição Imagens que não se conformam, realizada pelo Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro em parceria com o Museu de Arte do Rio. Ao trabalhar com a coleção do Brasil Império, a artista realizou, nesse terceiro ato, uma performance dentro da instalação que criou para a exposição. A instalação (segundo ato de sua proposição) era composta por fotografias de Borges, cortinas de veludo dourado, a pintura de uma indígena Tapuia sem autoria conhecida e, à frente da pintura, a “mão moldada em bronze do Imperador Menino”, uma das insígnias da monarquia brasileira durante a coroação do imperador D. Pedro II. Nesse terceiro ato, a artista se fotografa entregando ou devolvendo a mão do imperador à Tapuia, investindo nesse gesto uma vontade infinita de reparação, bem como de futuro.