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Wilhelm Reich (1897 – 1957)
#40DemoliçãoCulturaSociedade

Reich: o demolidor de couraças

por Eduardo Alexander

Ele foi ousado, demasiadamente ousado. E a ousadia, cedo ou tarde, cobra seu preço. O homem que desejou demolir os impedimentos ao desenvolvimento da potência humana não teve uma vida fácil. O contexto era o início do século XX. Certas figuras proeminentes na Europa estavam mergulhando nos estudos da psique humana. O viés era da ciência moderna. A psique e sua potência vital estavam prestes a ser analisadas pela razão e testadas por métodos e aparelhos.
Potencial filho pródigo do movimento psicanalítico, Wilhelm Reich rapidamente se torna o filho contestador: foi repelido pelo Partido Comunista por ser psicanalista, e repelido pelo círculo psicanalítico por apoiar ideias de revolução social. Mas ele quis desestabilizar ainda mais. Esticou a corda, contestando o modelo teórico psicanalítico.

Por que os pacientes que passavam pelo processo terapêutico, tornando-se conscientes de suas dinâmicas neuróticas, permaneciam com sintomas?

Suas pesquisas culminaram no desenvolvimento da noção de potência orgástica. Enquanto não fosse recuperada a capacidade de vivenciar um orgasmo pleno, capaz de descarregar completamente a carga de excitação sexual, a neurose permaneceria tendo uma fonte de alimentação.

Mas ele ainda não estava satisfeito. Para reposicionar a importância do ato sexual na saúde psíquica, Reich precisou resgatar algo que havia sido perdido naquele contexto: o vitalismo.

A força vital, como o elemento que conecta corpo e psique, reaparece na cena teórica e mesmo em seu laboratório com um novo nome: orgone.

Com psique e soma reunidas, seu processo de leitura do ser humano em adoecimento passa a incluir a couraça corporal como um fenômeno de bloqueio do fluxo de energia no corpo físico, associado ao conflito psíquico que sustenta a neurose. O adoecimento e a saúde voltam a ser, simultaneamente, físicos e psíquicos.

Agora, sim, chegou a hora da demolição! Tendo um modelo integrativo de corpo e psique, e definindo a couraça como a expressão corporal de conflitos psíquicos, a prática terapêutica tem o dever de quebrar essas couraças, de forma ativa, até incisiva. Para que o ser humano resgate a saúde plena, é necessário o rompimento dos bloqueios ao fluxo da vida, com o tratamento dos afetos associados aos conflitos, para que então a potência orgástica se manifeste, conduzindo o ser humano a seu lugar de direito no mundo, em plenitude de prazer, de vida, de saúde.

Seu caráter revolucionário repercute. Se você achou que ele ficou satisfeito em criar um sistema terapêutico, enganou-se. Ele ousou mais: empurrou as fronteiras para uma proposta de revolução social, que chamou revolução sexual.

A proposta de Reich implicava no reposicionamento radical da importância do ato sexual humano como elemento que define saúde ou doença, caráter que somente havia sido proposto por medicinas das antigas civilizações da China e da Índia.

O passo seguinte foi elaborado pela noção de praga emocional, a disseminação de afetos patológicos, transmitidos como vírus, entre sujeitos encouraçados, que passam a constituir o próprio tecido social. A sociedade encouraçada.

E que tal se pudéssemos quebrar as couraças não somente na clínica individual, mas também na sociedade como um todo? Bem… Para isso teríamos de fazer o coletivo resgatar sua potência orgástica. Um projeto com tons dionisíacos que influencia em sua época certos projetos educativos, como a escola Summerhill.

Tal projeto exige a demolição da moral sexual da época, algo que ele compreende como expressão do próprio encouraçamento. Em sua obra A irrupção da moral sexual repressiva, Reich elabora a gênese e a história da moral, sugerindo que sociedades desencouraçadas, ou menos encouraçadas, já habitaram este planeta, apontando a viabilidade de seu projeto.

Antes de contar o fim da história, eu gostaria de propor um mergulho em outra dimensão da expressão da energia sexual: a criatividade artística. Afinal, o deus do êxtase também regia algumas formas de arte, como a música e o teatro. Para antigas religiões que tinham na energia sexual a expressão do divino, como o taoismo ou o tantrismo, a criação de um novo ser ou de uma obra de arte tem na energia sexual a sua fonte, apenas diferenciada por sua densidade.

Como professor e terapeuta, acompanhei a trajetória de desencouraçamento de diversos artistas, e faço aqui uma sugestão para que observem esta proposição: quanto mais desencouraçado o artista, mais pleno de sua potência orgástica, menos haverá em suas obras expressões inconscientes de suas próprias neuroses, e mais seu público será tocado por uma potência que incita a vida.

De volta a Reich. Um homem como ele não poderia ser deixado à solta. Fio muito desafiador. Sua proposta de demolição foi muito ousada. Ele foi perseguido, e até mesmo preso. Sua obra permaneceu desqualificada por muitos anos, sendo resgatada a partir dos movimentos contraculturais do fim dos anos 1960. Teve destino semelhante ao próprio Dioniso, conforme Eurípides retrata n’As bacantes: “Ao se aproximar da cidade, os cidadãos se sentem ameaçados pelo caos que ele pode promover. Ele precisa ser preso”.

A humanidade não anda em linha reta. As revoluções deixam suas sementes, para que as futuras gerações as plantem. Como disse Chico Buarque em sua canção Tanto mar, referindo-se a revoluções bem-sucedidas e outras censuradas:

Foi bonita a festa, pá
Fiquei contente
Ainda guardo renitente
um velho cravo para mim
Já murcharam tua festa, pá
Mas certamente
esqueceram uma semente
nalgum canto de jardim

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