Skip to content
Revista Amarello
  • Cultura
    • Educação
    • Filosofia
    • Literatura
      • Crônicas
    • Sociedade
  • Design
    • Arquitetura
    • Estilo
    • Interiores
    • Mobiliário/objetos
  • Revista
  • Entrar
  • Newsletter
  • Sair

Busca

  • Loja
  • Assine
  • Encontre
#6VerdeCulturaEducaçãoSociedade

Em defesa das calçadas

por Eduardo Andrade de Carvalho

Não existe alternativa de transporte ambientalmente mais correta do que andar a pé. O pedestre é totalmente inofensivo para o ar da cidade e consome pouquíssima energia. É estranho, portanto, que – num momento em que tudo precisa ser sustentável, ecológico, orgânico – esse hábito não seja mais estimulado. Em São Paulo, por exemplo, andar a pé ainda é considerado um hábito excêntrico ou impossível.

Mas não é. Na verdade, caminhar é a modalidade de transporte mais popular em São Paulo. Ainda assim, não deixa de ser também uma aventura. A situação das calçadas – talvez o espaço público mais importante de uma cidade – é provavelmente nossa mais absurda calamidade urbana.

Não é à toa que Jane Jacobs – no clássico maravilhosamente bem escrito Morte e vida das grandes cidades – dedica os três primeiros capítulos a calçadas e a questões da vida urbana que dependem diretamente delas: segurança, contatos e, curiosamente, assimilating children. Segundo a autora, o movimento de pessoas numa calçada não é importante apenas para a segurança da rua ou para estreitar a relação entre os habitantes do mesmo bairro: a calçada – que é também um ambiente para crianças se divertirem sob o olhar de adultos – tem ainda uma função pedagógica, civilizadora.

É muito triste ler Jane Jacobs e andar por São Paulo. Só o fato de a obrigação em conservar a calçada ser do proprietário do imóvel lindeiro já é uma aberração: porque o piso perde a regularidade, a manutenção não acontece, o custo é mais alto e a responsabilidade dilui-se entre milhões de anônimos. Uma das consequências desse modelo tropical de manutenção é que o estado de nossas calçadas consegue ser pior do que o de nossas ruas.

Os problemas variam, mas são graves em todos os bairros paulistanos. Nos mais ricos, arquitetos são incapazes de diferenciar uma área que precisa funcionar – como uma zona de pedestres, em que as pessoas precisam antes de tudo andar – de um espaço mais, digamos, contemplativo. Na Faria Lima, por exemplo, em frente a um desses prédios que se consideram sustentáveis e inteligentes, uma calçada chega ao cúmulo de ter o traçado em zigue-zague, obrigando o pedestre quase a rebolar.

Regiões em transformação estão perdendo a oportunidade de se organizar de maneira mais urbana. Quarteirões inteiros ora são fechados para abrigar condomínios-clubes. Um bairro agradável oferece padarias, mercados, lojas de roupas, lavanderias, livrarias etc. – elementos que dão vida à vizinhança. Sem esse pequeno comércio, esvazia-se. E, suburbano, fica menos divertido e mais perigoso. Na Vila Olímpia, o problema com as calçadas se repete, mas em outro sentido: multiplicou-se infinitamente a quantidade de pessoas que frequentam a região; a infraestrutura, porém, continua igual. Os pedestres então se acotovelam nas calçadas, onde disputam espaço com carrinhos de cachorro-quente, ou são obrigados a andar no meio da rua.

É verdade que existem projetos pontuais na direção oposta, em geral de iniciativa privada. O Branscan Century Plaza, no Itaim, abriu uma praça que é praticamente uma extensão do calçamento em seu entorno. O alargamento e a padronização da calçada num trecho da Oscar Freire melhoraram seu aspecto e circulação. No Centro, a família Manccini recuperou um trecho da rua Avanhandava. Na Vila Madalena, o edifício residencial Simpatia 236 afasta a grade da rua e oferece um banco ao pedestre. É de iniciativas generosas, inteligentes e baratas assim que São Paulo precisa.

Se não me engano, foi Bernard Shaw quem disse que, quanto mais altos os muros de uma cidade, menos civilizada ela é. A lógica funciona também com relação à qualidade das calçadas. Daí – independentemente do carro que guiamos, das pontes que atravessamos, da quantidade de helicópteros que sobrevoam São Paulo – é possível estimar o estágio de civilização em que nos encontramos. E, se pretendemos sair dele, portanto, precisamos aprender a andar de pé. Ops, a pé.

Compartilhar
  • Twitter
  • Facebook
  • WhatsApp

Conteúdo relacionado


Sonhos não envelhecem

#49 Sonho Cultura

por Luciana Branco Conteúdo exclusivo para assinantes

Os pontos luminosos da educação brasileira

#23 Educação Cultura

por Caio Dib Conteúdo exclusivo para assinantes

O outro lado de Anita Malfatti

Arte

por Poli Pieratti

Papel picado e lâmpadas queimadas: vivendo a obsolescência programada

#44 O que me falta Cultura

por Jayme Jovegelevicius Conteúdo exclusivo para assinantes

A revolução que vem do berço

#23 Educação Cultura

por Léo Coutinho Conteúdo exclusivo para assinantes

Andando na linha

#19 Unidade Cidades

por Eduardo Andrade de Carvalho Conteúdo exclusivo para assinantes

“Coragem é medo administrado. Falta de medo é burrice.”

#3 Medo Cultura

por Léo Coutinho Conteúdo exclusivo para assinantes

Delírio em série

#26 Delírio Tropical Revista

por Léo Coutinho Conteúdo exclusivo para assinantes

Tudo que é sólido desmancha no ar

#13 Qual é o seu legado? Cultura

por Daniela Carbognin Conteúdo exclusivo para assinantes

Gambiarra

Arte

Dois e Dois são Dois: Shundi e Fanucci

Arquitetura

Schrödinger

#51 O Homem: Amarello 15 anos Literatura

por Ananda Rubinstein Conteúdo exclusivo para assinantes

O segredo da educação privada

#23 Educação Cultura

por Joel Pinheiro da Fonseca Conteúdo exclusivo para assinantes

  • Loja
  • Assine
  • Encontre

O Amarello é um coletivo que acredita no poder e na capacidade de transformação individual do ser humano. Um coletivo criativo, uma ferramenta que provoca reflexão através das artes, da beleza, do design, da filosofia e da arquitetura.

  • Facebook
  • Vimeo
  • Instagram
  • Cultura
    • Educação
    • Filosofia
    • Literatura
      • Crônicas
    • Sociedade
  • Design
    • Arquitetura
    • Estilo
    • Interiores
    • Mobiliário/objetos
  • Revista
  • Amarello Visita

Usamos cookies para oferecer a você a melhor experiência em nosso site.

Você pode saber mais sobre quais cookies estamos usando ou desativá-los em .

Powered by  GDPR Cookie Compliance
Visão geral da privacidade

Este site utiliza cookies para que possamos lhe proporcionar a melhor experiência de usuário possível. As informações dos cookies são armazenadas em seu navegador e executam funções como reconhecê-lo quando você retorna ao nosso site e ajudar nossa equipe a entender quais seções do site você considera mais interessantes e úteis.

Cookies estritamente necessários

O cookie estritamente necessário deve estar sempre ativado para que possamos salvar suas preferências de configuração de cookies.

Se desativar este cookie, não poderemos guardar as suas preferências. Isto significa que sempre que visitar este website terá de ativar ou desativar novamente os cookies.