Se não está mais na internet, você praticamente nunca existiu
Desde que me lembro por gente, ao conhecer uma pessoa, tenho a terrível mania de enchê-la de perguntas. Gosto de saber sobre seus filmes preferidos, restaurantes prediletos e pessoas nas quais se inspira. Pratica esportes? Qual o livro de sua vida? Me mostre suas fotos! (Eu sempre quero ver todas)!
E, depois de muito ver e ouvir, solto a pergunta final – aquela que me apontará os verdadeiros valores de cada um: se você morresse nesse exato instante e todas suas lembranças fossem deletadas da memória, qual seria o único momento que guardaria por toda a eternidade?
Um silêncio repentino sempre decorre. São poucas as pessoas que respondem no ato e com convicção.
Porém, depois que a internet apareceu como necessidade de sobrevivência humana e, com ela, as redes sociais, tudo simplificou-se. Não há mais porquê afogar alguém em pontos de interrogação. Está tudo lá! Abra o Facebook e pronto; faça sua própria análise. Veja os filmes wannabe cult preferidos, o livro pseudo-intelectual da vida, os restaurantes caros prediletos, todas as fotos das incríveis viagens e a citação brega favorita.
Sinto, entretanto, que ainda fica faltando a questão que revela os verdadeiros valores. Falta também o silêncio repentino, a resposta que demora e a não-convicção. Tudo o que se vê é tão superficial e egocêntrico quanto uma foto tirada na frente de um espelho.
De qualquer forma, ando pensando: talvez essa minha pergunta já não faça mais sentido. Afinal, na era digital, não somos só nós que escolhemos o que ficará guardado. A internet simplificou muitas coisas e complicou tantas outras.
Tudo o que, de alguma forma, compartilhamos nas nossas redes sociais não é mais nosso. Assim, o que não está mais em nosso poder não tem mais nosso controle. Na verdade, não importa se você está vivo ou morto, as coisas que fez online estarão lá independentemente de sua vontade.
Por isso, considero a internet o canal da contradição: vídeos nos fazem rir, palavras nos fazem refletir, fotos nos fazem lembrar, mensagens nos fazem chorar. E, diferentemente das fotos reveladas e das cartas escritas à mão, essas informações nunca mais serão perdidas por completo.
Nossa caixa de cartas pode pegar fogo e nossas fotos podem perder a cor. Apesar disso, se jogadas no mar da grande rede, um dia serão encontradas pelo Google dentro de garrafas de vidro, boiando entre outras infinitas informações.
Não à toa, já foram criados sites especializados em deletar tudo a seu respeito antes que vire algo para sempre.
Estranho é pensar que, se não está mais na internet, você praticamente nunca existiu.
Por fim, caso a gente se conheça e você me pergunte qual a única lembrança que guardaria por toda a eternidade caso morresse nesse exato momento, responderia rapidamente e com toda convicção: o dia em que acessei a internet pela primeira vez e descobri que podia fazer eternos todos os meus mais incríveis momentos.
Bruno Höera é publicitário, entusiasta das mídias sociais e acredita que a evolução da humanidade está na orkutização das boas ideias.