Querem me envelhecer de qualquer maneira e me convencer de que fiquei para trás, amarrado lá nos fundos da geração Y. Sei que já vieram outras depois da minha, mas eu nasci ontem e tenho planos infalíveis para continuar jovem amanhã. Sei também, não é de hoje, que já não me chamam de futuro. Logo eu, que nunca fiquei preso ao passado, agora sou visto como assunto encerrado. Talvez porque ainda tenha hábitos manuais, e não somente digitais. E porque coleciono amigos reais e não virtuais + um par de gadgets em vez de um acervo eletrônico que, no meu tempo, só japonês tinha grana para ter.
Mas, por favor, não me estacionem porque ainda posso andar. Apenas não tenho tanta pressa assim, embora tampouco seja devagar – e pra quê correr se lá na frente a gente vai se encontrar? O tempo dirá. Então, que tal me esperar? Me recuso a ser chamado de velho. Porque tenho no DNA traços das gerações Z e M (de multifacetado), que acabam de chegar. Só não me peça para interagir com quem veio ao mundo quando já frequentava o submundo – veteranos merecem escolher suas companhias, é mérito que só pode ser conquistado com os anos.
Sim, ainda guardo CDs na estante e chamo club de boite, mas exijo espaço para me encaixar onde possa me sentir à vontade. Nostálgico e obsoleto é a sua avó, antes que me esqueça. Escrevo em um MacBook de cinco anos atrás e não me identifico com quem se orgulha disso – por mim, comprava o de última geração, para me equiparar aos meninos que tocam no visor como quem beija um grande amor. Mas papai, que é baby boomer, me ensinou a comprar uma coisa de cada vez. E agora minha prioridade é tratar a cabecinha oca, como todos meus contemporâneos concebidos num Dodge 74.
Como eles, e como todos, fui definido de forma aleatória, ajustado numa linha do tempo com raciocínio bambo que, aposto, veio da cabeça de um publicitário que viu a vida passar pela janela da agência. Ou encomendado por alguma fundação que enquadra países, bancos e, claro, pessoas de acordo com o que compra, come e vive. Fui batizado de Y por uma turma que nasceu entre o pós-guerra e o ano de 1964, por gente que nomeou de X os que vieram em seguida e registrados até, sei lá, 1981. Até hoje não souberam explicar, sei lá, porque uma geração começa em 1982 e a outra entre 58 e 62, por exemplo. Talvez em ano de Copa a coisa mude, vai entender. Ou não, vamos esquecer.
Sem definições para um futuro sem restrições. Para recomeçar. E ir atrás do tempo esquecido para que não se perca. Voltar ao passado e revivê-lo agora para redirecionar o que vem pela frente. Para que o presente não se repita diariamente, para que cotidiano e rotina tornem-se ideias opostas. E os dias ganhem movimentos tão dinâmicos que a noite passa a ser uma certeza inconclusiva. Não quero ter medo das surpresas, quero estar pronto para quando o inesperado chegar. Que entre na hora que for, mas que venha para ficar. Isso de ser passageiro é das vinganças mais cruéis que se pode fazer com o outro, isso de dizer que tudo sempre será quando, na verdade, tudo vai. Aconteceu, passou, se foi. E voltamos de onde paramos. De onde mesmo? Do início e nunca do meio. Porque, para começar de novo, é preciso juntar o alfabeto inteiro, do A para frente.