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#20DesejoCulturaLiteratura

Pão de queijo

por Eduardo Araújo

Quando eu era criança, ia para a casa da minha vó em Goiânia, onde morava, todos os finais de semana. Lá, meus primos e eu subíamos na jabuticabeira, que ficava nos fundos da casa, e fazíamos “elevadorzinho” com potes de Kibon amarrados com barbantes em uma pedra, que servia como contra peso. Os potes eram daqueles amarelos com a tampa azul, alguém ainda se lembra daquilo? Também fazíamos lagos na terra, com comportas e tudo, utilizando uma mangueira. Eu não me lembro bem, mas com certeza fazia uma sujeira tremenda.

O ponto alto das manhãs era quando meus pais, tios e tias reuniam toda a criançada para chupar laranja. Para quem não sabe, descascar laranja, sem ferir a parte branca dela, dá um trabalho do cão. Minha teoria é que os adultos procrastinavam ao máximo esse trabalho, nos deixando fazer o que queríamos, sujando o que quiséssemos, algumas vezes nos estropiando inteiros. E garanto: limpar toda aquela lambança, toda aquela molecada suja de barro, nem se compara com o trabalho de descascar dúzias de laranjas.

E o que mais eu comia quando era criança? Nas tardes de domingo, tinham os bolinhos de nó que a minha mãe fazia. Bolinhos de nó são isso mesmo que o nome diz, uma massa bem fofinha, em formato de nó, que cresce duas vezes, é frita e depois passada em uma calda de açúcar. Só de falar deles me lembro de quando caçava loucamente os menorzinhos, ainda quentes, que tinham a proporção perfeita entre a massa e a calda. Também tinha as rabanadas. Ah, as rabanadas! Rabanadas são, basicamente, pães velhos transformados em um dia de Natal.

Durante a semana, o cardápio era diferente. Comida simples, de mãe. Muito arroz com feijão, carne de panela, macarrão com molho de carne moída. Algumas vezes, feijão com bacon, outras, um feijão “gordo”, com linguiça, mas, na maioria delas, era feijão de caldo grosso mesmo, bem temperado e sem muitas frescuras.

À tarde, depois de chegar do colégio, assistia a um programa ou outro. Tirando poucos programas, televisão me entedia até hoje, então acho que enrolava na frente dela só até a hora do lanche, para depois poder brincar no playground do prédio. E sim, desde pequeno eu já pensava bastante em comida.

Nesses cafés da tarde, costumava tomar leite batido com chocolate, uma paixão do meu pai. Imitava-o colocando bastante Toddy no copo e completando com leite! Para acompanhar, minha mãe preparava pão na chapa ou pão de queijo. O pão na chapa era feito com pão de forma, macio por dentro e com aquela casquinha crocante de manteiga por fora. E o pão de queijo era uma receita que minha mãe descobriu, e que dizia ser a mesma “de uma marca famosa de Minas”! Eu ficava imaginando: “Será que na fábrica desta tal ‘marca famosa’ o cheiro era o mesmo que saia da nossa cozinha? Como os funcionários se seguravam para não abocanhar aquelas delícias?”

Hoje percebo que todas essas lembranças de criança construíram os meus desejos de agora, que muito do amor que minha mãe me deu foi através da comida. Mimando-me com centenas de laranjas arduamente descascadas, bolinhos de nó, rabanadas, pães na chapa e pães de queijo. Percebo também que essa é uma das formas como amo a minha namorada, meus familiares e meus amigos. Cozinhando para eles, dividindo uma boa mesa.

Espero que os modismos atuais do “sem glúten”, “sem lactose” ou sem sabor não acabem com os nossos desejos. Pois não comíamos pão de queijo porque não tem glúten, mas porque era gostoso mesmo. Não comíamos bolo de chocolate sem farinha de trigo porque, desta forma, não teria a mal falada “farinha branca, que é refinada”, mas porque a farinha de trigo tinha acabado – e “ah vá” que minha mãe ia buscar farinha só pra fazer um bolo!

E você, o que comia quando era pequeno? O que deseja hoje e o que vai desejar amanhã? Pão de queijo sem glúten?

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