A Islândia é desses cantos do globo que pertencem à ordem da ficção, lugares que só Julio Verne escolheria como centro do mundo. A sensação é a de estar no começo e no fim de tudo. O vento gelado, o verde do musgo, o cinza da pedra, o azul do mar e do céu, a luz constante do verão que lembra, a cada minuto, que você está na extremidade do mundo.
Durante meu período de residência em Reykjavík, li numa enciclopédia que as ilhas começam no fundo do mar, que são coisas passageiras, criadas hoje, destruídas amanhã. Fotografar ilhas a partir de uma ilha, ou mesmo de uma ilha-barco em movimento, inverte o olhar para uma perspectiva quase tautológica. Tarefa obsessiva a que me dediquei sempre que estava em trânsito pelo país, e que a foto instantânea ajudou a promover, sobretudo a experimentação com a luz. O erros decorrem da linguagem escolhida, embora por vezes o que surge seja o nada, aquilo que some no escuro ou explode em luz, em outros momentos pontos, linhas, traços, riscos. As ilhas emolduradas demarcam fronteiras entre o mar e um formalismo geográfico que vai delineando a sequência desses pedaços de terra que emergem e desaparecem ao mar.
Drummond, divagando sobre ilhas, em algum momento disse que seriam “uma fuga relativa”. Já Deleuze pensa que a partir da ilha que se opera “a recriação, não o começo, mas o recomeço. Ela é origem, mas origem segunda. A partir dela tudo recomeça. A ilha é o mínimo necessário para esse recomeço, (…)”. Eu, assim como Verne, diria que a Islândia é uma viagem ao centro da Terra.