Terça-feira é dia de comprar flores e acender uma vela para Nossa Senhora Aparecida.

Estes eram os únicos motivos que me faziam sair da cama no primeiro mês após o falecimento da minha mãe, numa terça-feira de maio do ano passado.

Era inaceitável, para mim, que uma pessoa de 66 anos, tão amável, fosse embora após 6 meses de tanto sofrimento. Dona Eva, mulher forte, guerreira, de fibra!



Comprar e fotografar flores nunca foi uma novidade para mim, mas, após esse momento, por algum motivo, isso passou a ter outro significado.

Dona Eva sempre gostou de flores, principalmente de “amor-perfeito” – em francês, “Pensée”, que significa “pensamento” e que os amantes davam como presente antes de se ausentarem durante tempo indefinido, como garantia de que o seu amor nunca cairia no esquecimento.

O amor-perfeito está associado ao amor de mãe. É a mensagem simbólica de um amor que não se acaba. É infinito.

Esse hábito virou uma obsessão.

Começaram a ser frequentes as madrugadas no CEAGESP, assim como as madrugadas fotografando essas flores; uma maneira de ocupar minha insônia.

Passei horas atrás de uma câmera 4×5”, fotografando uma única flor, nos mais variados formatos de filmes e polaroides que eu vinha guardando desde 2010.

Mais que uma obsessão, esse hábito se tornou uma maneira de, em cada foto, eu estar conectado em silêncio com minha mãe.

For_Eva, uma sutil brincadeira com forever, algo que não se acaba, infinito.

O tempo passou, e o meu luto se acalmou, mas o hábito de fotografar flores e dedicar à Dona Eva vai continuar por toda a minha vida.