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#28O FemininoCulturaSociedade

Lixo eletrônico tóxico

por Helena Cunha Di Ciero

Os adolescentes denunciam, atualmente, na clínica psicanalítica, algumas contradições importantes da nossa sociedade atual. Ao trazerem questões a serem valorizadas, algumas merecem que nos debrucemos com mais cuidado.

Explico. Em primeiro lugar, hoje em dia, ser homofóbico é tido como um defeito inadmissível. Existe um respeito por aquilo que é diferente. Ponto para a nova geração. Nos anos 90, ninguém sabia que essa palavra existia, e hoje ela é repetida inúmeras vezes como uma falha que deve ser levada a sério: “Não falo mais com fulano, ele é homofóbico, você acredita? Que absurdo”. Escuto essa frase com frequência no consultório e recebo com animação a geração que está chegando. Talvez o futuro possa ter um horizonte mais tolerante, com mais respeito e mais compreensão.

É também muito rico esse movimento das meninas que lutam pelo feminismo, se questionando sobre ser mulher. Brigam para serem ouvidas na escola, enfrentando, a seu modo, uma sociedade que emoldura e enfraquece as mulheres. Às vezes, elas até exageram, achando que qualquer gentileza é sinal de machismo: “Ele abriu a porta do carro no primeiro encontro, que machismo!”.

Adolescente costuma exagerar no tom, para se fazer ser visto e ouvido, para tentar compreender e ser compreendido. Tudo nessa fase da vida é grande, em CAPS LOCK. Mas, de maneira geral, é bastante esperançoso ver meninas de 13 anos pensando sobre isso durante suas sessões de análise. Parece-me que esse questionamento tem aparecido antes de sentirem-se acuadas no papel de mulher. Percebo que hoje a feminilidade é construída junto dessa reflexão.

Por outro lado, alguns temas merecem mais cautela: a propagação de letras de funk que são absolutamente misóginas é um deles. Essas mesmas meninas que brigam para serem respeitadas pelas suas escolhas sexuais, por outro lado, entoam mantras de funkeiros que são absolutamente desrespeitosos com a figura feminina e até violentos. Às vezes, penso que essas jovens que cantam essas canções não compreendem de fato o que estão propagando. Será que gostariam de ser tratadas pelos parceiros como as personagens que vivem em suas playlists? É só ouvir Mc Jhon Jhon. Mc Princesa ou Baile de Favela para saber do que estou falando. A velha Tati Quebra-Barraco fica no chinelo.

O fato é que o que toca hoje nas ondas do rádio e no YouTube dos funkeiros tem um tom de violência e de desqualificação da mulher. Os tais “proibidões” são a antítese desse discurso feminista; colocam a mulher num contexto que banaliza não apenas a sexualidade, mas também as drogas.

A sexualidade na adolescência é assunto sério. O desabrochar dessa fase marca toda uma relação eu-corpo que dura por toda a vida. A intimidade não pode ser excluída desse período, como se fosse algo sem valor. Não é peça de antiguidade; é um espaço importante da construção do psiquismo, impossível de ser deletado.

Recentemente, assisti ao documentário Hot Girls Wanted, que investiga a entrada de jovens meninas para o mercado pornográfico. Todas por volta de 18 anos, em busca de dias de glória e glamour. “Já que vou transar, por que não filmar? Já que o nude pode vazar, melhor eu mesma me expor, por vontade própria” – afirma uma atriz. São meninas que entram nesse mercado em busca de fama e sucesso às custas de uma exposição violenta, precoce. Uma decisão impulsiva, um acting out em busca de independência.

A maneira como o filme se desenrola é bastante respeitosa. O olhar do diretor não se aproveita do corpo das moças – o que é raro, em geral, pois sempre se tira uma casquinha das atrizes. No caso, embora o documentário fale de sexo, não exibe nudez. O assunto é manuseado com o cuidado necessário – cuidado este que as mesmas atrizes não têm consigo mesmas, muitas vezes descartando o uso de preservativo para ganhar mais. Uma das meninas conta que fez uma cena de sexo e recebeu cem dólares a mais, mas, como teve que comprar a pílula do dia seguinte, lucrou apenas oitenta.

É muito triste para o espectador ver a falta de intimidade dessas meninas consigo mesmas, com seus sentimentos, a falta amor pelo próprio corpo; o olhar por vezes assustado, por vezes opaco, que elas trocam com os parceiros-atores, a violência à qual se submetem.

Fiquei surpresa ao saber que muitas delas se dispõem a um tipo de filmagem de uma categoria chamada Facial, na qual são humilhadas na frente das câmeras, sofrem violência física, fazem sexo forçado até vomitar, dentre outras coisas tão chocantes que considero de mau gosto redigir. Essa categoria do pornô está disponível para quem quiser ver num simples clique. O filme é uma denúncia triste. Vale assistir para refletir sobre o fato de que toda uma geração formará sua sexualidade assistindo vídeos na internet, esbarrando em conteúdos como esses, ouvindo canções repletas de violência e promiscuidade, que podem vir a ser as canções tema de uma noite especial.

O fantasiar, hoje, foi substituído pelo Google; porém, muitas vezes, o conteúdo digital é assustador. A internet oferece possibilidades diversas, sem que o jovem tenha um aparelho digestivo psíquico suficientemente forte.

Devemos pensar cuidadosamente sobre como as mídias podem ser invasivas, sobre o que é informação e o que é lixo eletrônico tóxico, cujos resíduos ficam marcados permanentemente na mente em formação.

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