Proud South: o futuro é agora e está no Sul
Sem baixar a guarda por sequer um momento, perpetuamente atenta aos movimentos socioculturais e suas evoluções — onde quer que estejam —, a holandesa Lidewij Edelkoort é considerada uma guru das tendências. Já foi eleita pela revista Time como uma das 25 pessoas mais influentes no mundo da moda e também já figurou na lista da i-D como uma das pessoas mais relevantes do design. Sua trajetória de sucesso é toda marcada pela habilidade de captar movimentos quando eles ainda estão em processo de formação, antes de atingirem a palpabilidade para serem notados por olhos menos treinados. Com sua atinada antevisão, em 1986 fundou a Trend Union, um bureau internacional de tendências de design, moda, beleza e arquitetura, que segue na ativa e atende diversos clientes, como Nissan, Coca-Cola, Gucci e Lacoste.
Aos 72 anos de idade, mostra ainda hoje que está com fôlego de sobra para seguir antenada ao que será do futuro próximo. Presentemente, é considerada uma importante ativista, defensora da mudança, e, como resultado, virou embaixadora do World Hope Forum, uma plataforma dedicada a espalhar esperança em todo o mundo por meio do design em uma paisagem pós-pandemia.
No meio disso tudo, surge o recente e ambicioso livro Proud South, organizado em parceria com a brasileira Lili Tedde, também consultora de tendências — ou, trend forecaster, se você preferir o termo mais usado tanto aqui quanto acolá —, e transformado em livro-objeto por Mariola Lopez Mariño, fundadora do estúdio de design LopezLab. A partir principalmente do estímulo visual, a obra celebra as forças criativas das regiões ao sul do planeta: moda, fotografia, estilo, arte, todo um corpo de produções contemporâneas “sulistas” que já ditam caminhos e que, daqui para frente, em especial com a benção da holandesa, ditarão ainda mais. Edelkoort e Tedde compilam com maestria talentos emergentes e estabelecidos, das origens mais distintas, de maneira tal que quem folheia o livro vê provas e mais provas de que o eixo da criatividade global de fato se modificou drasticamente.
Mas o que entender, exatamente, por “Sul”? De algum jeito, os temas apresentados no livro conectam talentos da América Latina e da África, assim como do Sul e do Sudeste da Ásia. Ou seja, o “Sul” sobre o qual Edelkoort tanto se debruçou é um que representa um movimento internacional de emancipação de encher os olhos, bastante condizente com a visão de desconstrução que tanto começa a crescer na pós-modernidade. O que torna as previsões do livro ainda mais interessantes é logo reconhecer nessas manifestações artístico-culturais novas realidades e abordagens: as imagens de PROUD SOUTH soam com vigor mais renovado do que o trabalho, vamos dizer, de um artista vanguardista do norte europeu, porque elas partem de vivências que muitas vezes, no mundo de ontem, não receberam a devida atenção.
“Uma geração de criativos do Sul está se erguendo, expressando a artesania local, adotando materiais regionais, reconhecendo práticas ancestrais e cultivando valores nativos”, diz a própria Li Edelkoort. “Cada roupa tem uma alma, e cada foto sabe como capturá-la, alçando a moda a outro tipo de domínio de força totêmica e empática, sendo tanto únicos quanto universais. Esses poderes estranhos gravitam ao redor um do outro como átomos de uma bomba estética criativa, esperando para explodir no palco central da moda, capturada por estilistas talentosos e marcas inteligentes.”
Entre os artistas selecionados pelo livro, temos nomes como Jackie Nickerson, Kristin-Lee Moolman e Lakin Ogunbanwo, além de ensaios que ajudam a reforçar as previsões e a esmiuçar os trabalhos que estampam o vistoso Proud South. Com mais de 400 páginas de imagens inspiradoras que nos levam em uma viagem visual deslumbrante, esse extenso estudo é um instrumento envolvente para descobrir as tendências que se firmarão entre nós nos próximos anos.
Pela lei da gravidade, o que pesa no norte cai no sul, certo? Disso, o Newton já sabia — e, ao que tudo indica, Lidewij Edelkoort também sabe bem.