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Imagem de Herbarium, de Emily Dickinson (1839-1846)
Literatura

A maneira vegetal de entender o mundo: um ensaio sobre a memória da flora

por Revista Amarello

Sumário de plantas oficiosas: um ensaio sobre a memória da flora, do escritor e crítico colombiano Efrén Giraldo, combina uma rica iconografia a memórias pessoais, comentários literários e análise social para se debruçar sobre o papel e o poder curativo das plantas em nossas vidas.

Além de escritor, o autor nascido em Medellín é curador de arte, crítico, professor e pesquisador da Universidade Eafit. Com uma atuação ativa no debate sobre artes, literatura e cultura na Colômbia, já publicou outros trabalhos, incluindo Los límites del índice (2010), Entre delirio y geometría (2013) e La poética del esbozo (2014). Agora, com este que é seu primeiro trabalho traduzido para o português e lançado em solos brasileiros, foi vencedor do Prêmio de Não Ficção Latinoamerica Independiente. 

Capa de Denise Yui para a edição brasileira, lançada pela Editora Fósforo.

Diga a verdade: você já parou e pensou, de fato, sobre as plantas? Tudo bem se a resposta for “não”, pois Efrén Giraldo felizmente já pensou. Em uma mistura bem encontrada entre erudição e irreverência, o autor propõe esse olhar raro, mais aprofundado sobre a flora, fazendo com que as aulas de biologia se somem às aulas de sociologia e filosofia. A onipresença das plantas em nossa existência comumente é tomada com certa indiferença, no sentido de que tomamos tal existência como algo natural, partindo do pressuposto de que as plantas que estão nos circundando o fazem porque, bem, é aqui que elas deveriam estar. Onde mais estariam? Mas, se partirmos para uma proposta mais reflexiva — algo que se assemelha à perspectiva sociológica dos povoados de uma determinada terra, por exemplo —, concluímos que elas têm muito a nos ensinar sobre as andanças que espalham espécies e a superação de traumas coletivos (incluindo a pandemia de COVID-19, que estava no seu auge no período em que o livro foi escrito). 

Giraldo, assim, apresenta uma mescla inusitada de registros, saberes e emoções, destacando a resiliência da natureza diante da ação humana e convidando os leitores a repensarem suas ações em relação ao meio ambiente.

O livro é um tratado sobre plantas, tanto reais quanto imaginárias, sendo uma obra que pensa o fascínio que elas exercem. No entanto, a coisa toda vai além, ao abordar a importância crucial da ficção, especialmente em tempos em que violência e política parecem indissociáveis. Os capítulos do livro buscam reunir uma constelação de ornamentos, árvores, comidas, venenos e seres vegetais conhecidos e desconhecidos, provenientes da memória, experiência e diversas representações literárias, científicas e artísticas.

Juan Manuel Echavarría, elemento da série “Corte de florero”, (1997)

A nota do autor, que serve como preâmbulo para o livro, destaca que os textos exploram temas como transplantes, extinções e invasões, contribuindo para o inventário de ficções e iconografias das plantas. Escritos durante o confinamento pandêmico, eles formam um diário imaginário sobre presenças e ausências, representações e perplexidades da flora em um momento de dificuldade extrema.

Para quem lê essas linhas descritivas, talvez seja até difícil de visualizar o que, afinal, é este Sumário de plantas oficiosas. Um exemplo vem a calhar. 

No início da jornada literária proposta pelo colombiano, o autor apresenta as bases do livro com o capítulo inaugural, cujo título é Das árvores peregrinas às floras narradas – Uma invasão da beleza. O conceito floresceu durante o septuagésimo quinto aniversário do devastador bombardeio de Hiroshima, ocorrido em 2020, marcando o ponto de partida para uma reflexão profunda sobre a resiliência das árvores no pós-tragédia. Com habilidade, o autor tece uma teia de conexões entre o reino vegetal e a consciência humana, indagando sobre a origem das plantas e explorando minuciosamente o impacto da história, cultura e política na paisagem, muitas vezes relegada ao simplório “o que está aí”. Nessa narrativa perspicaz cheia de insights valiosos, ressalta-se a imperiosa necessidade de reconhecer não apenas a presença das plantas, mas também a intrincada relação que elas mantêm com a tapeçaria histórica e cultural. Linha após linha, começamos a olhar com atenção para os seres que estão do nosso lado e entender que há maravilha no pequeno e no cotidiano.

Mas Giraldo não se limita a contemplar apenas o mundo vegetal. Ele adentra o domínio da neurobiologia das plantas, valendo-se das palavras de seu pioneiro, Stefano Mancuso, para destacar a incrível capacidade das plantas de se moverem e adaptarem, desafiando a preconcebida noção de sua estaticidade — “Se os extraterrestres nos visitassem”, escreve ele, “buscariam as plantas como interlocutores, não os humanos.” Se com Cosmos, de Carl Sagan, e Uma breve história do tempo, de Stephen Hawking, a astrofísica ganhou um destaque sem precedentes como o ponto de partida para reflexões maiores, Mancuso nos últimos anos vem fazendo o mesmo com a biologia. E Efrén ajuda, e muito, nessa reafirmação da área. Ao explorar a difusão do conhecimento botânico através de correspondências entre ilustres cientistas como Carlos Lineu, José Celestino Mutis, Francisco José de Caldas, Alexander von Humboldt e Jules Émile Planchon, cria no leitor a necessidade de abaixar o olhar para esquecer um pouco das estrelas, planetas e galáxias. É certo: as plantas estão aqui e têm muito a nos dizer. 

A narrativa ganha vivacidade e ainda mais palpabilidade ao se dedicar também a esclarecer a importância crucial das ilustrações botânicas, delineando a sutil diferença entre representação artística e captura realista das plantas. Com a apreciação de ilustrações antigas, evidencia-se o impacto singular que o estilo realista e analítico das composições botânicas exerce na representação das plantas. A partir desse capítulo inaugural, começamos a questionar, a exemplo do que Mancuso escreve, se há uma maneira estritamente vegetal de compreender. 

Sumário de plantas oficiosas emerge como uma obra singular e poliédrica que desvela a presença das plantas em nossas vidas, estabelecendo eloquente conexão entre a natureza e os intrincados fios da cultura, história e experiência pessoal do autor. Do começo ao fim, é uma experiência de leitura enriquecedora e instigante da interseção entre a flora e a condição humana.

Deu para visualizar o que é a obra premiada de Efrén Giraldo ou ainda estamos no campo da abstração? Se a segunda opção ressoar, uma nova perspectiva de mundo se apresenta como a solução, que é, com a mente aberta, ler Sumário de plantas oficiosas.

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