Do barro ao corpo: A experiência feminina na cerâmica
Ao longo da história da arte diversos materiais e técnicas são utilizados para encarnar questões humanas, alguns atravessam o tempo dialogando com meios e suportes jamais imaginados por aqueles que os desenvolveram no passado remoto. A produção de utensílios e representações em barro queimado tem origem ainda no período pré-histórico seguindo até os tempos atuais, desta forma sua existência se confunde com o tempo da própria humanidade.
Gabriella Marinho é mulher negra, artista, reside na cidade de São Gonçalo e utiliza a cerâmica como o seu principal meio de criação. Em seus trabalhos encontram-se a história da cerâmica e também o processo de investigação sobre si. O contato modelagem divina do ser humano em mais de uma cultura ao redor do globo, a trouxe indagações que são visíveis no seu fazer artístico. A reprodução da forma humana, sobretudo feminina, demonstra como o conceito de beleza foi traduzido em cada período histórico. Em seu trabalho Gabriella submerge subjetivamente no ato de construção de si através da experiência artística, seus objetos, máscaras e retratos são meio de descoberta e de comunicação com o mundo pelas lentes de uma mulher com potencial para conhecer e dizer sua própria história, sua própria beleza que vai além das curvas do corpo idealizado.
Do barro ao corpo: A Experiência Feminina na Cerâmica* me parece a tradução da vontade de ocupar o espaço com seu corpo além do envasamento, do acabamento, é a busca no processo que revela em cada peça um encontro com origens e anseios que tanto são propiciados pelo material quanto ditos através dele. Além da cerâmica propriamente dita, Gabriella tem trabalhos sobre outras superfícies, podendo flertar com meios de produção que propiciem uma conversa milenar entre a versatilidade do barro e as novas possibilidades de investigações e experimentações nos corpos.