Num sábado recente, Carol cochilou no sofá enquanto víamos algo na televisão. Fechou os olhos, encolheu-se um pouco, de lado, posicionou a mão sob o queixo, para apoiar a cabeça – de um jeito delicado que é só dela – e repousou. Tive então, olhando para ela, uma sensação de grandeza, de segurança, de conforto, de paz. Respirei fundo, absolutamente deslumbrado, e suspirei… De repente, percebi, meu mundo estava todo ali, nela, com ela, descansando, apaziguado, lindo, protegido, entregue, resolvido, reunido, intenso, puro, tão poderoso e ao mesmo tempo tão simples, tão humano; tão meu, tão nosso – e experimentei o sublime sentimento da completude, uma forma de eternidade, a sensação de que me bastava inteiro ali, com ela, para sempre: porque meu mundo, senhoras e senhores leitores deste ilustre fanzine, meu mundo é a Carol, meu mundo, meu máximo, meu melhor, onde sou melhor, onde vou além, onde posso; e tive então vontade de chorar, e de abraçá-la, e de acordá-la, de sacudi-la loucamente para declarar meu amor, de esmigalhá-la num abraço forte, desesperado, e de abrir a janela e gritar à cidade minha alegria, de rufar ao universo como a bateria do Império Serrano, de bradar aos vizinhos que ali estava um homem realizado, pleno, pronto e urgente para singrar e vencer os mares de uma vida a dois, e no entanto, quieto, comovido, zeloso, guardião, eu apenas a observei, admirado, minutos a fio, e fui completamente feliz.
Sou completamente feliz, assim como sói a quem ama e é amado, e grato – muito grato – por ter consciência deste amor.
Nas noites ansiosas que antecederam o dia em que nos casamos, ao longo das madrugadas anteriores àquele desejado dia, sempre encontrei o sono – a tranquilidade – pensando no modo como Carol descansou naquela tarde de sábado; pensando em que tudo que me interessava estava ali, tudo de que preciso, nos metros quadros de alcance do meu corpo; pensando em que as coisas são bem mais singelas e autênticas do que impõem a propaganda e a pressa; pensando em que, nos momentos difíceis do porvir, quando algo não der certo, sempre a terei, minha Carol, para dormir e despertar ao meu lado, para criar e recriar um canto nosso, só nosso, para me oferecer uma palavra de carinho e incentivo, um longo abraço ou um frondoso sorriso, um beijo, e que é assim – desse jeito – que eu quero que nossa vida siga e se renove, de um jeito tão intimamente fabuloso quanto a imagem dela cochilando no sofá, com a mãozinha de princesa acomodando a cabeça; e ora agradeço pela graça de ter a mulher cujo amor me é ao mesmo tempo calor e sereno.
É nisto que acredito, senhoras e senhores leitores deste romântico fanzine, para sempre, por para sempre; é nisto que aposto, que me aposto, por horizonte, por fé, por fim, e amanhã ainda mais que hoje – mais, mais e mais: nos valores da família, na fortuna de ter amigos e no amor de minha Carol, na generosidade de minha Carol, no jeito dela, nos detalhes dela, na pele dela, no olhar verdadeiro dela, esta mulher cuja leveza rejuvenesce e dá norte à minha existência, ao meu universo.
É nisto que creio: em voltar para casa, para sempre, para ela.
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por Carlos Andreazza