Amarello 15 anos
A Amarello celebra 15 anos de arte e cultura com o lançamento da edição 51 — O Homem. Tematicamente inspirada no segundo capítulo de Os Sertões, de Euclides da Cunha, a revista revisita criticamente a obra para pensar a identidade nacional.
Garanta a sua Amarello
Quinze anos é muito tempo. Pensar no mundo de quinze anos atrás e no de agora chega a dar vertigem, de tantas mudanças. Os smartphones se tornaram mandatórios, a política voltou a partir afetos, e as redes sociais dominaram a comunicação mudando a forma como interagimos e compartilhamos informações. O papel perdeu o lugar que tinha, as mudanças climáticas se agravaram, as lutas sociais ganharam uma força nunca antes vista… Fato é que, nesse período, a história moderna assistiu a várias rupturas com o passado e, depois da pandemia, adentramos, de fato, em uma nova era.
Como é dever de uma revista documentar o seu tempo, e eu me interesso pelo tempo em que vivo, proponho para esta edição comemorativa uma reimaginação dos cinquenta temas que estamparam nossas edições, traçando um panorama da vida de lá para cá.
Também para esses quinze anos, montamos o espetáculo Do pré-homem à revolta, apresentado no dia 3 de dezembro de 2024, no Teatro Oficina, baseado n’O Homem, a segunda parte do livro Os Sertões, de Euclides da Cunha. Resgatar esse livro hoje, um retrato fiel de sua época e de todas as suas conjunturas, nos coloca de frente a um espelho que escancara nossas diferenças abissais, ainda tão vivas e não enxergadas. Euclides é o seu pré-conceito, o alto da favela é seu legado, o sertanejo, sua pátria e o apagamento de Canudos, tão em evidência hoje. Euclides também nos inspirou a criar a edição que você tem em mãos. “O Homem”, o ser humano, que de um jeito ou de outro, abarca todos os temas que trabalhamos nesses anos — a cultura em brasileiro, o feminino, o masculino, os sonhos, as emoções e questionamentos que nos fazem existir. São os tempos que correm, correram e ainda hão de correr.
Fazer esta revista me transformou. Cresci, rodei o país, conheci muita muita gente, conheci muita muita gente, deixei para trás o Brasil idealizado e aprendi a respeitá-lo como ele de fato é, fruto do sincretismo, da mistura, da bagunça que tanto gosto, de todos os povos que chegaram e dos que aqui sempre estiveram. Olhemos para eles. Meus olhos se abriram para o que antes eu não via. Me dá orgulho ter criado um veículo que não tem medo de abraçar a fluidez e que oferece conteúdo sério e pontos de vista diversos para que leitores o interpretem à sua maneira, sem imposições. A série Brasa, de Gleeson Paulino, que generosamente ilustra as páginas desta edição, representa bem esse crepitar interno, sutil no olhar, mas forte o suficiente para mover montanhas.
É nisso que acredito. Páginas, ideias e uma esperança irrefreável na transformação constante de cada um de nós.
Apesar de tudo, me animo com o futuro
Obrigado por estar aqui,
Tomás Biagi Carvalho
Canudos, 14 de novembro de 2024