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Imagem de Vitaly Sacred | Unsplash
Sociedade

Por que amamos as celebridades?

por Revista Amarello
Parte importante de nossos afetos e histórias, chorar por alguém famoso também pode ser um lembrete.

Há mortes que nos afetam profundamente, mesmo que estejamos falando de pessoas que nunca estiveram conosco à mesa ou que nunca cruzaram nossos caminhos na fila do mercado. Ainda assim, quando elas partem, podem nos deixar um vazio. Mas onde já se viu chorar por quem nunca conhecemos? É como diz um dos muitos jargões da internet: “é raro, mas acontece muito.” Com frequência, choramos pela morte de celebridades, figuras públicas, artistas, atletas, intelectuais. São nomes que aprendemos a pronunciar com reverência, como os deuses da sociedade contemporânea.

O que é esse luto? É real? Pode mesmo ser vivido com legitimidade, ou seria apenas uma ilusão emocional?

A psique humana opera, muitas vezes, com base em vínculos simbólicos e é nesse campo que nasce o luto por celebridades. Não é preciso uma convivência direta para que alguém se torne significativo em nossa vida. Basta que essa pessoa ocupe um lugar — afetivo, estético, ideológico, ou mesmo fantasioso — na construção de quem somos. Cantores que embalaram a adolescência; atores a quem recorremos nos momentos difíceis em que precisamos de um rosto familiar; aquele jogador ou jogadora que encarnava nossas paixões. Do ponto de vista psicológico, esse tipo de luto é possível, embora nem sempre seja reconhecido como tal. 

Em seu célebre texto Luto e Melancolia, de 1917, Freud aponta que o luto não depende apenas da realidade concreta, mas da magnitude da perda. “O luto, de modo geral”, escreveu, “é a reação à perda de um ente querido, à perda de alguma abstração que ocupou o lugar de um ente querido, como o país, a liberdade ou o ideal de alguém, e assim por diante.” Ou seja, o que importa não é o laço objetivo, mas o que foi investido de afeto naquela relação, ainda que ela tenha sido construída à distância. Esse luto simbólico, porém, carrega algumas complexidades. Como ele não é validado socialmente da mesma forma que a perda de um parente ou amigo, ele pode ser vivido de maneira silenciosa ou até reprimida. A pessoa sente a dor, mas se pergunta se tem “direito” de sofrer. É uma dor que esbarra na vergonha, no constrangimento, na dúvida, criando novas camadas para o sentimento.

Com a ascensão das redes sociais, esse fenômeno ganhou novas dimensões e levanta, inclusive, questões sobre a legitimidade desse luto e a possível espetacularização da morte. O que as mudanças ocorridas com o advento das plataformas digitais têm a revelar sobre nossa identidade coletiva? Muito. Acabamos nos tornando viúvos de pessoas que talvez jamais tenham cruzado nosso olhar, mas que, de algum modo, habitaram nossa rotina. Há quem questione o sentimento, de maneira que o problema ganha ares tautológicos: o que veio antes, a dor ou a espetacularização da dor? 

Na sociedade contemporânea, marcada por narrativas coletivas e identidades atravessadas pela cultura de massa, as celebridades ocupam funções simbólicas importantes — talvez mais do que nunca. Elas condensam valores, estéticas, estilos de vida, formas de resistência e de pertencimento. E tudo isso ganha um peso ainda maior porque, hoje, não são mais apenas os tabloides que nos trazem novidades sobre suas vidas pessoais. Muitas vezes — a depender da disposição da celebridade em questão —, essas informações chegam em primeira mão, por elas mesmas. Stories, posts, vídeos e confissões transformam essas figuras públicas em presenças cotidianas, quase íntimas. Quanto mais próximas parecem, mais apego despertam. Para o bem e para o mal.

É nesse ponto que o luto coletivo se torna um reflexo da identidade de uma geração. O que compartilhamos sobre a morte — as homenagens, os memes, os trechos de entrevistas, os vídeos caseiros — fala mais sobre nós do que sobre quem se foi. São manifestações de uma cultura que se conecta pela perda, que busca sentido em comunidade, que tenta fazer do efêmero algo memorável. Essa conexão emocional pode ser explicada pelo conceito de “relações parassociais”, na qual indivíduos desenvolvem vínculos unilaterais com figuras midiáticas. Nesses casos, a celebridade ocupa um espaço significativo na vida do fã, influenciando emoções e comportamentos, mesmo sem uma interação recíproca.​ A relação é unilateral, mas não menos verdadeira para quem a sente.

O luto, portanto, passa a ser validado não apenas pela perda da pessoa real, mas pela ausência de tudo que ela representava. Perder essas pessoas é perder também os significados que construímos com elas. E isso vale para diferentes épocas. Muito antes das redes sociais, multidões se comoveram com a morte de Marilyn Monroe, de Elvis Presley, de John Lennon, de Ayrton Senna. Quando estamos falando de artistas, não é raro que essas pessoas tenham despertado em nós sensações que ninguém mais despertou. O luto, então, faz sentido, não? As homenagens em praça pública, os tributos espontâneos, os rituais improvisados revelam que o luto por celebridades sempre existiu. O que muda com o tempo são os modos de expressão e compartilhamento dessa dor — hoje acelerados, visibilizados, e muitas vezes performatizados pelas redes.

Esse tipo de luto sempre foi um espelho da cultura. Ele revela quem somos, o que valorizamos, como criamos laços simbólicos e, sobretudo, de que maneira nós nos organizamos emocionalmente em torno da perda. Em sociedades onde os vínculos comunitários estão mais frágeis — ou, se pensarmos em épocas passadas, nas quais muitos sentimentos eram reprimidos —, muitas vezes as celebridades se tornam figuras de referência emocional. De maneira curiosa, acabam sendo presenças estáveis em um mundo instável.

Ao mesmo tempo, como Freud também dizia, de uma perspectiva egóica, esse luto coletivo nos convida a pensar em nossa própria finitude. Há algo na morte de quem parecia eterno, seja pela juventude ou pela fama, que nos confronta com a passagem do tempo. Quando morre alguém que parecia imortal, morre também uma parte da ilusão de permanência que cultivamos sobre nós mesmos.

A espetacularização da morte — amplificada, mas não criada pelas redes — pode transformar o luto em entretenimento, esvaziando seu significado. Há um limite tênue entre a homenagem e a apropriação emocional. Mas o problema não está em sentir, e sim em explorar o sentimento como capital simbólico.

O luto por celebridades merece ser compreendido como parte da forma como organizamos nossos afetos e narramos nossas histórias. No fundo, talvez choremos também por nós. Porque cada luto simbólico é um lembrete: ainda somos humanos tentando encontrar sentido em meio ao ruído que sempre esteve presente, mas que parece cada vez maior.

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