Aos vagidos já curiosos de alguém que questionava seus arredores desde que chegou ao mundo, um nascimento mútuo: o de Fabiana Queiroga e o de seu trabalho. A artista e poeta visual vê sua curiosidade de criança — que jamais deixou de se manifestar, apesar da passagem dos anos — como parte fundamental de seu percurso profissional. Natural de Goiânia, começou a estudar desenho e pintura ainda jovem, desenvolvendo habilidades artísticas na mesma lufada em que se desenvolvia enquanto pessoa. É nessa história de formação confluente que temos o símbolo maior de alguém que, para além da extensa bagagem acadêmica, se interessa sobretudo pelas relações humanas.
Provocar reações afetivas, retratar corpos no espaço, aflorar sensibilidades, tudo no universo de Fabiana — e, consequentemente, no de suas criações — gira em torno daquilo que fez seus olhos brilharem quando ainda tateava superfícies com as mãos lisas de uma menina que vivia por novos descobrimentos. Os encontros e desencontros que se desenrolaram lá atrás seguem acontecendo, resultando num processo criativo que se dá através do estudo da natureza, atentando-se para suas formas, estruturas, texturas e possibilidades. Não à toa, ministra aulas de design e processo criativo a partir desse viés natural.
“Gosto de pensar que o universo nos deu tudo de forma generosa. Basta a nós saber olhar e ter a curadoria desse olhar em nosso dia a dia”.
Fiel às suas origens goianienses, faz questão que o natural tenha presença central em sua produção, como é o caso da recente série Herbário, cheia do frescor típico de frutas e de questionamentos maduros, prontos para serem colhidos. A série, aliás, conversa diretamente com a parceria feita com a Revista Amarello para a Coma Bem, Viva Melhor. O lindo trabalho de Fabiana articula sobre o hibridismo emocional e o deslocamento do objeto de sua função, além de conjurar o viço encantador de rosas e rizomas.
Ao falar da natureza, também fala sobre o mundo virtual em que vivemos hoje, inundado de relações não-táteis que trazem à superfície reflexões profundas, especialmente sobre os lugares que tomamos como imutáveis — mas que, à bem da verdade, com as constantes degradações naturais e transformações sociais, estão mais mutáveis do que nunca. Há no mundo um espaço que ainda nos cabe? Onde você se encaixa nessa configuração atual? Naturalmente, nos vemos sobrecarregados de fascínio, admiração e ressalvas, numa só — eis, então, as emoções híbridas evocadas pela série.
Entre as criações de Fabiana para a Feira, estão:
Peso de Mesa Maçã
O que inspira a artista plástica? “A vida. As pessoas na rua, nos cafés, as conversas, a forma que as folhas das árvores caem ao chão. O tom de azul do céu e a força da chuva. O ambiente e as relações. O amor.”
Dessas fontes de inspiração, surgem trabalhos autênticos que veem humanidade e natureza como um único ecossistema. Todos, no fim — incluindo os que vieram antes da série Herbário e da parceria com a Amarello, assim como os que virão depois —, são respostas dadas àquela menina do cerrado que tanto se aprazia ao tentar desvendar cada pequena dobra do mundo. Talvez “desvendado” seja a última coisa que o mundo esteja hoje em dia, para Fabiana e qualquer um de nós, mas, nas perguntas, enxerga-se novos azuis e amores.
Da curiosidade, nasce arte.