Discute-se, e não é de hoje, a sobrevida da mídia impressa, ameaçada, cada vez mais, pela nova ordem mundial, online, do tempo real e da vida virtual. O offline cada vez mais off, atrasado, engessado, caduco. Ultrapassado. Periódicos e revistas perderam espaço para blogs e sites, jornalistas e cronistas deram lugar a novos ensaístas, sem diploma na mão – até porque já não é mais necessário – e com mil ideias na cabeça. Falam de um amargo fim deles, dos jornais, que correm atrás, e sempre chegam atrasados, das últimas notícias; os furos de reportagem de hoje são cobertos no meio do caminho e já circulam amanhã com status de notícia velha. A luta continua nas redações, embora a guerra pareça perdida. Como competir com o a mídia ‘imediática’? E não há quem se renda. Nos aquários e baias, a bandeira branca continua dobrada na gaveta, ao lado de papéis de release, bloquinhos de anotações, gravadores e canetas sem carga. A velha guarda se arma de um português indefectível para lamuriar os tempos modernos, evocar os velhos costumes de uma época em que o instante era apresentado em papel passado, jornalismo verdade, manchetes que cruzavam a cidade. Virar a página ou descer o scroll, que diferença faz? Se ainda vale o que está escrito, na tinta ou no teclado, por que não atacar de todas as frentes em defesa da informação, da boa informação, relevante e coerente, concisa, dinâmica? O futuro dos jornais está na mão de quem faz, de quem persegue a notícia na rua, de quem vê o invisível aos olhos comuns, de quem não trabalha no compasso de expediente bancário. De quem não requenta história já contada em pontocom. Qualidade, conteúdo de qualidade, no papel ou no iPad, no iPhone, ai meu Deus, tanto faz. É o que precisa ser dito agora, em tom de matéria, crônica, conto, ponto. Parágrafo. Do jornal para o virtual, sem pular linhas, sem contar caracteres. Transição e convergência; não transposição e adaptação. Conteúdo free e assinado, tabelado, porque ser bem informado tem seu valor. Não temos que pagar pelo que já foi dito; devemos gastar com o que ainda não foi visto, cobrar por uma surpresa, uma boa história, uma bela matéria, uma ótima foto. Que venha de quem chegou agora, de quem não vê a hora de pensar uma nova maneira de se fazer jornalismo; que venha também de quem já faz, lá de trás, veteranos editores, pensadores, redatores. Que prendam a nós, leitores, simples assim. Largai o osso, oh cansados! Para começarmos outra vez uma nova revolução, uma nova era da informação. Página em branco, sem rasuras e sem censuras. Precisamos esboçar uma maneira diferente de tratar o tempo presente. Em caráter urgente. Extra, extra.
Apocalipse Now: Internet versus Jornal
por Hermés Galvão