À primeira vista ninguém diz, mas, olhando com carinho e sem preconceitos, as semelhanças se impõem.
Impossível não lembrar de Nelson Rodrigues – que, neste 2012, completaria cem anos – e citar uma de suas máximas: “Dinheiro compra até amor verdadeiro”. Claro que é uma piada, uma ironia que busca, através da agressividade, denunciar as fragilidades do caráter humano. Quem aproxima a política do amor percebe isto no ato. Porque dinheiro pode até comprar apoio de ocasião, mas não um ideal.
Em mais uma lição rodrigueana, compreendemos que a quem ama basta o amor, que não precisa ser correspondido. Sentir o amor verdadeiro já é o prêmio para quem o tem no coração. Na política é a mesma coisa. Um ideal sozinho justifica toda a existência. E nem precisa ser realizado para confortar. Muitos velhos já escreveram sobre isso. Todo o dinheiro do mundo significaria pouco ou quase nada no prato do último balanço se no outro estivesse uma vida fria, vazia e sem sentido.
Mas é claro que o amor correspondido e o ideal alcançado são a plenitude em vida. Afortunados são os que têm um ou outro. Os que têm ambos costumam entrar para a história sem nem se dar conta. A sensação é tão boa que todo o mais se torna supérfluo. Lhes é comum até esquecer que a comida, a bebida e mesmo o ar são essenciais.
E mais uma vez Nelson vem nos ensinar. Quando dizia que os que amam de verdade são capazes de matar ou perdoar, nisso poderia incluir os políticos missionários. São esses os homens capazes de morrer ou abraçar o pior inimigo se for para salvar a causa, enquanto os profissionais só querem defender a própria pele – para tanto dispostos a abraçar qualquer um, o que nada lhes custa.
Para uma cabana ser suficiente só precisa ser a casa de um amor ou de um ideal. O amor capenga precisa de sofisticações que o completem ou que pelo menos lhe emprestem esta sensação. Não fica em paz numa praia, num banco de praça. A política sem ideal também carece de títulos, honrarias, distinções, palácios; não sobrevive a quinze minutos de militância na Praça da Sé, no balcão da padaria ou numa tribuna sem claque.
A utopia e os sonhos são irmãos do amor e da política. Não servem para nos afastar da realidade, muito menos para nos fazer dormir. Quem ama e faz política sonha acordado, numa busca incansável por uma realidade melhor. Vale mais o sonho bom do que a realidade omissa. Aposto que quando Machado de Assis disse ser melhor cair das nuvens do que de um terceiro andar estava olhando para o céu – não para o chão – e pensando nos amantes e nos políticos.
Em amor e em política o céu é o limite. Quem tem um ideal não quer outra coisa que o horizonte. No coração de quem ama, a beleza da primeira estrela a brilhar é a continuação do pôr-do-sol: há intimidade com todas as fases da lua, o hoje é para sempre, o infinito é mais que tudo.
Amor e política são muito parecidos
por Léo Coutinho