#9ObsessãoCulturaLiteratura

Oversharing

por Bruno Hoera

Desenho de Sandra Cinto

O que a gente faz com essa vontade louca de querer compartilhar tudo, a todo instante? Não, não estou falando de uma vontade minha ou sua. Falo do amigo insistente segundo o qual você pode ajudá-lo a encontrar uma pessoa perdida na Ilha de Páscoa, ou daquela tia-avó que, se pudesse lhe dar um conselho, esse seria: use filtro solar. Sejamos atuais e contemporâneos: o compartilhamento no Facebook é o novo PPT.

A verdade é: ninguém parará de fumar porque postaram a foto de um pulmão intoxicado; ninguém sairá pelas ruas à procura do cachorro poodle que tem Alzheimer e que está perdido; e nunca (nunca!) criança alguma na África receberá uma prata porque a foto dela foi divulgada por toda a população online. É bem óbvio: a vontade não está necessariamente em ajudar, mas em ser visto como alguém altruísta.

Dia após dia, a todo instante, sua tia-avó precisa compartilhar sabedoria, seu vizinho tem de, em nome de Jesus, evangelizar o mundo com os salmos do novo testamento, e a turma da moda se sente obrigada a divulgar seu look nada-a-ver do dia, acompanhado pela maquiagem de palhaço.

Essa obsessão não está somente em fazer circular informação, mas em pertencer a um grupo de ditadores de atitude, seja o da moda, o dos crentes ou o das tias-avós sábias. Enquanto isso, no mundo ideal, os mais cultos e informados não dão opinião quando não se pede, a religião é só o amor e ninguém está muito preocupado com a roupa que você veste – já dizia Clarice Lispector naquele texto que não escreveu e que alguém wanna be cult compartilhou.

Todo mundo quer ajudar, mas será que as pessoas querem ser ajudadas? Alguém já pensou na possibilidade de o sujeito perdido não querer ser encontrado?

Para ser bem sincero, se cada um não jogasse papel no chão, já ajudaria muito. Compartilhe essa ideia!