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#12LiberdadeCulturaSociedade

Casa de Campo

por Luis Lópes Navarro

Com uma extensão de 17 mil hectares, cinco vezes mais que o Central Park, em Nova York, e o Hyde Park, de Londres, o Casa de Campo é o maior bosque de Madrid. Em frente ao Palácio Real, às margens da cidade, já pertenceu à família real, que o usavam para caça e lazer. Foi entregue ao povo durante a Segunda República. No primeiro dia de maio de 1931, 300 mil pessoas vieram ao parque para comemorar o fato de que, pela primeira vez em sua história, abria as portas ao povo. Desde então, permanece um espaço público.

Fechado ao tráfico motorizado por quase toda sua extensão, oferece um habitat natural ideal para todo tipo de fauna: bosques tranquilos onde se esconder, pequenos animais (coelhos), e uma abundância de água em suas numerosas fontes.

Graças a estas excelentes condições, o ecossistema do Casa de Campo hoje abriga espécies evasivas, difíceis de se encontrar, as quais resumiremos abaixo.

Existem diversas descrições e testemunhos divergentes sobre estes habitantes do parque. Algumas pessoas descrevem seres com aparência nefasta, de pele translúcida e baixa estatura – mas, uma vez que, na grande maioria dos casos, a criatura foi vista em fuga, de costas para a testemunha, essas impressões são fugazes e incompletas. As poucas evidências fotográficas existentes não permitem clareza o suficiente para conclusões, mesmo que gerais. Devido à sua natureza evasiva, não sabemos nem se têm língua própria, mas é provável que a tenham e simplesmente prefiram não usá-la na frente de estranhos. São seres desconfiados e receosos que preferem não ser vistos, se possível. Mesmo assim, sempre percebemos sua presença.

Esta simples estratégia – de impor a presença sem serem vistos – garantiu sua sobrevivência, assim como diversas tribos amazônicas desconhecidas.

Quanto aos seus hábitos e comportamentos sociais, os habitantes deste bosque tendem a ficar na sua. Pouco se sabe sobre a natureza de seus afazeres, que, no entanto, parece arraigada em rituais e misticismo. Geralmente vivem em pequenas unidades familiares nômades, independentes umas das outras. Estes grupos às vezes se reúnem para observar certos rituais, como o acasalamento, a caça, ou outras atividades estranhas. Devido à falta de informação, fica difícil avaliar se são, ou não, pessoas boas.

A imensidão de seu ambiente é tal que podem se encontrar a quilômetros de distância do lugar habitado ou trilha mais próxima, e há tantos cantinhos e refúgios no bosque que conseguem observar seus rituais em paz. Resíduos desses rituais são encontrados ao redor do parque, marcos de atividades que pesquisadores custam a decifrar. Para o pesquisador, o transeunte ou o intruso, as evidências arqueológicas sempre indicam a mesma coisa: alguém esteve aqui, alguém fez isso. Há coisa acontecendo aqui.

É essencial entender a natureza multidimensional deles: cada um destes seres translúcidos que habita o Casa de Campo é, na realidade, uma parte obscura, livre e incerta de um cidadão de Madrid. A outra parte desses seres leva uma vida normal, como um administrador de sistemas ou vigia, e ele ou ela normalmente volta a encontrar seu corpo sólido, escuro, através de algum meio de transporte público, como o metrô.

Há certas coisas que devemos fazer sozinhos a céu aberto – não descreveremos em detalhes estas atividades, porque cada um faz o que quer. Mas, para existir, estes habitantes do parque precisam de ambientes sociais de luz fraca para interagir com outros indivíduos, como por exemplo um cinema, talvez com uma luz avermelhada sobre a porta.

Esse habitat apresenta as condições perfeitas: um ambiente natural suficientemente isolado das autoridades, e, acima de tudo, da população em geral. Você não será molestado na Gran Vía, nem, seguramente, nos Himalaias, mas aqui sim – justamente o que leva à proliferação desta espécie. Em 1800, entrar no parque Casa de Campo era ofensa punível por 200 chicotadas, e algo disso ainda paira aqui. O habitante da Casa de Campo, já desprendido de sua parte mais vulnerável, perde o medo de andar sozinho no bosque. Ainda que ameaçado pelo mesmo perigo, a diferença entre um animal selvagem e um visitante com medo da escuridão das arvores é: a falta de medo.

Dizem que as almas dos recém falecidos passam pelo Cerro Garabitas (uma colina dentro do parque) antes de partir de Madrid. Parece que algumas decidem ficar, ou não conseguem se decidir, assim como alguém pedindo esmola na rodoviária que, com o passar do tempo, esquece o destino original que tinha em mente. Essas almas estão condenadas a perambular eternamente pelo purgatório da Casa de Campo.

E tudo o que querem é serem deixadas em paz.

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