Roxinha é Maria José Lisboa da Cruz, artista nascida no povoado de Lagoa de Pedra, em Pão de Açúcar, no Alagoas. De origem humilde, ocupou-se durante décadas com trabalhos braçais para ajudar no sustento da família. Mãe de sete filhos, alternou profissões, ora nas roças da região, ora como gari, tendo como única certeza a companhia do sol sertanejo.

Em uma cena que se repete à exaustão no Brasil, os filhos cresceram e partiram para o Sudeste em busca de melhores condições de vida. A síndrome do ninho vazio afeta todas as classes sociais, e o melancólico tempo livre, resultante da partida das crianças crescidas, precisou ser preenchido de alguma forma. A atividade escolhida foi a pintura. Roxinha começou a desenhar aos 59 anos como uma possibilidade de passar o tempo. Sem qualquer educação artística formal, seus desenhos eram realizados com os materiais e formatos disponíveis. Quando a atividade extrapolou o espaço das folhas de papel, os desenhos passaram a ocupar as paredes e a fachada de sua casa, divulgando de maneira insólita sua visão sobre o amor, o afeto e a sua experiência como mulher. Aos 66 anos, Roxinha embarcou pela primeira vez em um avião para conhecer o Rio de Janeiro e apresentar Roxinha, uma vida de novela, exposição com curadoria de André Dantas, Angela Mascelani e Lucas Van de Beuque, no Museu do Pontal.

Ao preparar Minha Vida, obra original que ilustra a capa desta edição, Roxinha foi provocada a pensar no seu tempo vivido. “Fui representar minha mãe e meu pai, para a capa, e parece mentira. Fui terminando e os olhos cheios d’água. Outro desses eu não faço, não, sabe? Porque eu não tenho essa coisa de chorar. Mas nesse dia eu chorei.”