– E o Fulano, hein?
– Quê?
– O Fulano, você não estava falando nele?
– Eu?
– Já mandei uns cinquenta e-mails, deixei uns trocentos recados.
– Putz…
– O filho da puta desapareceu.
– … será que aconteceu alguma coisa?
– Que coisa??
– Sei lá, alguma coisa…
– Eu sei que coisa, o Fulano deve estar de trololó com o tal do Batata.
– Você acha que o Fulano tá com o Batata?
– Quer apostar? Pau que nasce torto nunca se endireita.
– Ela perguntou do Fulano?
– Perguntou.
– Merda. O que foi que ela disse?
– Tá puta, falou que ele sumiu, que tá com o Batata…
– Com o Batata??
– Aquele cara das antigas.
– Nossa, como ela é chata.
– Nem me fala. Se ela souber onde o Fulano está…
– Nossa, vai ser uma fofoca…
– Fora o julgamento, né.
– Ela é muito escrota.
– Ai, ainda bem que você chegou.
– Você tá gelada!
– Eu tô muito nervosa. Senta. Quer uma água?
– Não, obrigada.
– Me conta, como é que ele tá?
– O Fulano ainda não pode receber visita, mas eu conversei muito com a psicóloga.
– Ai, eu detesto psicóloga.
– Mas essa psicóloga é boa, ela trabalha com isso há 20 anos.
– E o que ela acha? Ele vai ficar bem?
– Ela disse que o Fulano está muito bem, que é um cara totalmente dedicado ao tratamento, que é para a gente ter muita confiança que vai dar tudo certo.
– Ai, menina, graças a Deus, eu rezei tanto.
– Então ele não é adicto??
– Pelo que a psicóloga disse, existe uma grande chance disso tudo ter sido uma reação temporária causada por um estado de depressão profunda.
– Então não foi o vício que levou à depressão?
– Não existe nenhuma certeza ainda. Ela disse que “pode ser” que não.
– Pode ser que ele não tenha a doença?
– É.
– Só tristeza?
– Isso.
– Mas a depressão também não é uma doença?
– No caso do Fulano parece que não, era só uma tristeza que virou depressão.
– Igual o Chorão…
– Será que o Fulano soube do Chorão?
– Com certeza, ele deve ter lido no jornal.
– Lá na clínica pode ler o jornal?
– Por que não poderia?
– Sei lá, vai que as notícias deixam os pacientes inquietos, com vontade de sair.
– É, pode ser…
– Deve ser foda ficar lá dentro.
– Mas você sabe que o Fulano me pareceu sossegado. Nem comentou nada de sair mais cedo.
– Sério?
– Sério. O Fulano está zen.
– Puxa, que bom saber que ele tá bem…
– Te juro, ele tá tão bem que até eu pensei em me internar.
– Na clínica?
– Tô pensando seriamente.
– Como assim doida? Você também tá viciada?
– Todo mundo tem um vício.
(Silêncio)