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#17FéCulturaLiteratura

Falso brilhante

por Hermés Galvão

Pretinha, de Efrain Almeida

Não é o que não pode ser, mas talvez não sejam mesmo tão iluminados assim, quando os dias não fogem do lugar comum. Longe dos holofotes, parecem ofuscados pela própria sombra de uma vida real, logo eles, idolatrados. Adormecidos da encarnação que incorporam quando estão em ação, parecem tão, assim, apagados da grande existência que lhes fez existir; talvez nem saibam, ou fingem não querer, ser tudo aquilo que se espera deles – mesmo submersas em seu cotidiano obscuro, mentes brilhantes trazem algo de luz na superfície.

Inconscientes de suas fragilidades, inseguros, pensando cada vez mais para dentro, como se ignorar o lado de fora fosse salvá-los de algum imprevisto cada vez mais provável, os artistas tornam a sua dimensão física algo de frágil que, se não comove, ao menos irrita, e muito, a quem não se vê livre da pretensão de ser apenas aquilo que se imagina deles.

A dor e a delícia de ser muito mais do que um só é a forma sinuosa de existência que encontraram para se livrar da dor e do tédio de sua plateia; vistos da coxia, pela cortina que se cerra, pessoas que não ensaiam uma outra história, um personagem por uma noite que seja, são apenas montes sobre cadeiras numeradas, dados de bilheteria com histeria garantida por temporadas que não tardam a findar.

Do lado de lá, de quem age a troco de aplauso, existe um afã angustiante de viver sempre e sempre viver de modo a ser lembrado para sempre. Pode parecer estranho o que vos digo, mas é o que me acontece agora. Por isso há de respeitar as palavras e as manias, as epifanias que colorem páginas em branco e rascunham livros inteiros com ideias desencontradas que fazem sentido quando sentimos o que lemos e não apenas seguimos linha sobre linha em dinâmica ansiosa rumo ao último capítulo.

Ah, sobre o processo de criar, sobre o que e onde dói, machucado tamanho que cicatriza com boa crítica e fere fundo na ausência eterna de um anonimato que jamais virá – o estrelato é capaz de apagar constelações inteiras por dentro, a fama que vem em velocidade de cometa mata a ferro quente no primeiro apagar dos flashes. Na fragilidade de quem só brilha no escuro, dá-se um big bang nem tão grande assim, capaz de abrir um buraco negro no que se vê de alma. Pois é no dia a dia, na comunhão da rotina sem filtro de filme ou beijo de novela, que a arte se expressa em sua confiança irredutível; não se engana a quem tem a fé inabalável de que o artista vive em outro plano, mora na filosofia.

Não queremos deles que sejam compreendidos por todos. Para o bem, para o mal, ou muito mal, desejamos deles o impensável em nós mesmos. E que não nos venham com crises de meia idade ou classe média, que sejam nos palcos o que são de verdade – na verdade não são nada do que parecem nem lá em cima e tampouco cá embaixo. Estão no meio do caminho entre a terra e o céu que nem os protege tanto assim. Não são deuses, também fingem não serem humanos. Querem ser tudo que se pode estar enquanto viverem aqui em sua estranha e fantasiada forma de vida.

Mas veja bem, porque talvez volte agora a não fazer sentido: por sonhar para dentro, tudo que sai da boca para fora é o que há para ser e fazer. Deve-se criar algo para ser lembrado depois, para que possamos recordar de quem passou em alguma mesa de gamão, em certo ponto entre a pracinha e a varanda do asilo. Porque o tempo não apaga as grandes coisas. E sorte a nossa que nunca saberemos exatamente o que iremos levar para o futuro. Adoráveis as incertezas. Vivemos delas. E são elas que devem fazer pensar no tempo como fator relativo. Para no sétimo dia descansarmos em paz.

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