“Quem é da terra é da terra e fala da terra”
João 3:31
Com o surgimento da geologia, em meados do século XIX na Inglaterra, nasceu uma ideia nova — nova, sim, mas que jogava as perspectivas do nosso passado infinitamente para trás — de um tempo profundo. A geologia, ciência da Terra, deu ao planeta sua idade: ele teria milhões, bilhões de anos, e não os poucos milhares que se pensava até então.
O pai dessa ciência, Charles Lyell, dedicou-se ao estudo das coisas terrestres (rochas, areias, águas, sedimentos, vapores), e do seu movimento (terremotos, erupções, marés, ventanias), para meditar sobre o tempo, sobre os anos que haviam passado e os que estavam por vir — enquanto isso, Charles Darwin, recém-saído da universidade, lia os livros de Lyell e entendia que eles dariam “o tom” certo para sua mente. Darwin lia e relia seu Princípios de geologia a bordo do Beagle, navio que o levou pelo mundo durante cinco anos; navio onde fez sua verdadeira formação; navio que o trouxe ao Brasil, onde descobriu animais, plantas, pedras, praias, pessoas e o fóssil de uma preguiça-gigante; navio onde se indispunha com o mar; onde pensava sobre origens, espécies e a transformação constante de tudo; onde estudava Lyell e suas descobertas quanto à idade da Terra; e onde, então, anotou em seu diário a pergunta: “Seria o oceano a eternidade para as pedras?”.
Lyell analisou fósseis, a vida que um dia existiu sobre a Terra. Traçou a hipótese de que existe um só movimento no mundo: um caminhar parado, que segue em um curso cíclico, estável. E, por fim, imaginou o nosso futuro: “Talvez as imensas iguanas”, escreveu, “voltem a aparecer nas florestas e os ictiossauros, no mar, enquanto os pterodáctilos, quem sabe, voem outra vez em meio à folhagem frondosa das samambaias. Os recifes de corais poderão se estender para além do círculo ártico, onde hoje vivem a baleia e o narval. As tartarugas talvez depositem ovos nas areias das praias onde hoje dorme a morsa, e das quais a foca, à deriva, se afasta sobre uma placa de gelo”.
A história da Terra costura as pontas soltas do presente com essas outras, que voltam, sempre voltam, do passado — tantos fósseis de preguiças-gigantes à espera, sob as camadas de terra e tempo.