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Um espacinho para o humor

por Rica Bennozati

Escolhemos nossa casa, roupas, amigos, drinques. Escolhemos o personal, o professor de crossfit. Sim, há dez anos era yoga, hoje o negócio é balançar corda por aí e achar normal. Escolhemos pessoas no Tinder como se fosse um jogo de videogame, escolhemos pelo Happn as pessoas com as quais cruzamos e não tivemos coragem de cumprimentar.

Mundo moderno, filosofia líquida, supermercado de estilos. Nos fechamos, mas abrimos o quarto extra para a sala em busca de espaço em um ambiente com televisão gigante onde, sozinhos, assistimos a Netflix. Tanto espaço para quê?

Abrimos espaço no closet para novas roupas, abrimos o coração para amigos depois da primeira taça de vinho e choramos nos levando a sério, afinal somos adultos.

O humor se restringe a piadas sobre política ou banalizar a última exposição de arte, afinal somos todos curadores.

Entendemos tudo, conhecemos todos e não nos permitimos banalidades.

Deus me livre, eparrei Iansã, acreditar nestes formatos! Assumi recentemente uma conduta que desde cedo me persegue com uma só frase: “Vamos sair pra dar risada”. Essa sempre foi a máxima de amigos e conhecidos que me estourava os ouvidos, porque eu sempre quis ser magro e não divertido.

Racionalizar o humor pode ser uma atitude cruel. Como explicar um estado de espírito tão puro quanto a gargalhada de uma criança? Não podemos confundir… A gargalhada espontânea de um bebê é felicidade. Não humor.

Comecei a entender o humor intuitivamente, ainda pequeno, em momentos em que percebia minha mãe muito preocupada; sentia a frequência da casa baixar muito e, numa tentativa de dissolver aquela densidade, fazia de tudo para vê-la sorrir me expondo ao ridículo sempre. Logo depois, vinha a recompensa, em momentos de respiro dela e meu após minutos a fio de gargalhadas soltas.

Na adolescência, sendo um cara “gordinho”, o humor funcionava de forma inclusiva e, claro, defensiva – com a crueldade minha e de todos dessa idade.

Hoje, aos 33, o exercício de abrir espaço no cotidiano para a prática do humor tem sido uma experiência transcendental e quase uma nova profissão. Entendi que usá-lo como conduta de vida é uma das ferramentas mais fortes, anárquicas e inteligentes que já experimentei na vida.

Com o humor, podemos dizer as verdades mais cruéis. Porém, se for embalado em forma de risada, conseguimos soltar a verdade, porque deve existir uma explicação científica para a sinapse que isso causa. Falamos a verdade sem machucar. É abrir o peito e soltar o verbo!

Não existe receita, mas acredito que o primeiro passo seja não se levar a sério, rir de si mesmo, não se acreditar, e isso nada tem a ver com invalidar seu caráter ou profissionalismo. Já escutei que o humor na moda não é bem-vindo. Talvez eu realmente mude de área.

O humor tem o poder de equalizar e democratizar todos os encontros; talvez tenha o significado da praia para o carioca. O humor tem que ser um “espaço” onde todos possam se encontrar.

Então, você aí, amigo, muito tenso, se precisar de uma dica, um primeiro passo, ou se seu chefe for daqueles caras casca-grossa, feche os olhos e imagine que todo mundo está usando touca de banho.