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#Terra: Especial 10 anosArteArtes Visuais

Você chegou ao seu destino

por Felipe Cama

fotos de Gui Gomes

A questão do monitoramento é uma realidade que me interessa bastante e me levou a esse trabalho. Se você anda com um smartphone no bolso, diversas empresas sabem onde você está, por onde você anda. E elas analisam essas informações, Big Data, e as vendem. Ao cruzar os dados, sabem que você passa em tal rua no horário do almoço, três vezes por semana. Então você está usando o Waze, por exemplo, e de repente aparece um anúncio do McDonald’s na tela, exatamente porque tem um McDonald’s no seu trajeto e é hora do almoço. Se você dá um like em comida italiana no seu perfil, isso permite que eles cheguem para o dono de um restaurante italiano e ofereçam: “olha, eu tenho mil pessoas que passam por essa rua por dia e que gostam de comida italiana”. Essa minha série de trabalhos aborda a noção do monitoramento e privacidade ou, na verdade, a noção de que há tempos não temos mais essa privacidade.

Por trás disso está a ideia de controle. Controle, observação, surveillance, monitoramento por essas corporações gigantescas – do governo, do Estado, das grandes empresas de telecomunicação.

Para mim, isso se relaciona com a questão da terra, tema desta edição da Amarello. A terra como um espaço comercial, imobiliário, um loteamento das grandes corporações. Quando me foi dito que o tema seria “terra”, eu pensei nisso. Não pensei exatamente no campo, na natureza, mas no espaço que você usa e que já não é mais gratuito.

Além disso, abstração ou figuração surgem como questões a serem pensadas. Algumas pessoas veem figuras diferentes nesses trabalhos, como quem acha desenho em nuvem. Minha filha viu a cabeça de um cavalo em um e uma guitarra em outro. Algumas pessoas dizem que outra pintura parece o mapa da Itália. Enfim, até que ponto é abstração e até que ponto é figuração? O fato é que essas pinturas são feitas através de um processo. Eu documento meus caminhos durante um dia pelo Google Maps. O caminho exato nunca é predeterminado, e a ideia está aí, porque cada vez sai um desenho diferente. As linhas que dividem as cores são o que seria o traço azul dos caminhos no Google Maps, que, quando se cruzam, criam formas geométricas. Trabalhei assim por anos, sem saber qual seria o resultado final. Eu me interessava apenas em marcar o caminho. Depois de arquivar uma infinidade de desenhos, selecionei os que me serviam, os que mais me interessavam plasticamente.

Cada trabalho é um políptico. Neles, cada cor é uma tela diferente que se encaixa uma na outra. Eu retracei esses caminhos num programa chamado Illustrator, e desenvolvi os chassis das telas nesses formatos esquisitos junto ao teleiro. Ao pintar, quis deixar as pinceladas aparentes, marcadas na tela, para justamente contrastar com o digital, fazer um contraponto com o que estava antes só no plano dos pixels, e ter uma referência material da tinta e do gestual. Para mim, é muito importante marcar essa passagem do virtual para o físico.

Eu gosto muito do Sol LeWitt, dos minimalistas americanos. Eles tinham como prática isolar o trabalho da vida. Não chego a isso, estou falando muito da vida aqui, mas algumas práticas deles são interessantes. Essa de você ter um número para o nome das obras – alguns deles chamavam os seus trabalhos de Untitled 1, Untitled 2, Untitled 3. Nessa minha série, o título de cada trabalho também é um número, um código: a data em que eu fiz os caminhos. Ano, mês, dia: 2012 05 12, 2017 01 10.

Sol LeWitt, especificamente, predeterminava como seria cada um dos seus desenhos através de uma regra, um comando a ser obedecido. Desenhar é importante, mas eu não sento e desenho a mão livre. Eu crio rotinas e regras que vão resultar em desenhos. Nesse caso, eu saía de casa, gravava o caminho e, ao retornar, no computador, tinha um desenho. O resultado era um desenho que só no fim do dia eu descobria qual era. Se encontrasse trânsito pesado no caminho e o Waze me mandasse para cá ou para lá, o desenho mudava.

Eu acredito que o trabalho é mais rico quando permite várias leituras, várias abordagens. O nome da série, Você chegou ao seu destino, além de frase final do caminho no Waze, carrega uma dose de ironia. É esse o destino?


Originalmente publicado na edição Terra

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