Lembram daquela historinha, do menino que acha o pinguim, quer dizer, o pinguim toca a campainha da casa do menino e vai entrando, e o menino, sem saber o que fazer com o bicho, leva ele para o Achados e Perdidos?
Esqueceram um guarda-chuva, um chapéu, mas ninguém esqueceu um pinguim, não senhor.
Então o menino construiu um barquinho para levar o pinguim para o Polo Sul. É lá que os pinguins moram, o menino descobriu. E, depois de enfrentar o mar aberto, os dois chegam, e o menino se despede do pinguim, que fica junto com todos os outros pinguins do Polo Sul, e vai embora, sozinho, de volta para casa. Só que, no meio do caminho, ele se dá conta de que o pinguim era seu único amigo. E o pinguim, lá no Polo Sul, junto dos outros pinguins, também sente falta do menino. Então o pinguim e o menino correm para reencontrar um ao outro. O menino chega no Polo Sul e não acha o pinguim. O pinguim vai para o alto mar e não acha o menino. Mas, no final feliz, felizmente, eles se reencontram e seguem juntos, de volta para casa?
Mas o que essa história tem a ver com a Terra?
Depende. Se você se identifica com o menino ou com o pinguim. Os dois não são iguais.
O menino não saiu do seu lugar, foi o pinguim que tocou a campainha. Mas ele foi generoso de ajudar o estranho, e recebê-lo. Emprestando até o seu travesseirinho.
Ele era o menino.
O pinguim era um outsider. Pinguins não são daqui, são lá do Polo Sul. Mas lá no Polo Sul, junto dos outros, ele não se sentia em casa.
Eu era o pinguim.
E você? É um achado ou um perdido?
Ele era um achado.
O menino era um anjo, que abriu a porta para o perdido, e ele tinha um radinho que o pinguim gostou tanto. É bonito quando o menino tenta esconder o radinho em cima do refrigerador – e eu só não falei geladeira porque não ia ser tão bonito quanto foi a cena; ele, finalmente, deixando o pinguim brincar com seu objeto tão querido. Só um anjo faz uma coisa dessas.
Mas eu te digo uma coisa, o pinguim merecia.
No Polo Sul, o pinguim era um coitado, que ninguém nunca viu, afinal são bilhões de pinguins no Polo Sul.
Sete bilhões e meio. Todos iguais.
Todos perdidos.
Mas parece que tem um bilhão e meio querendo ser salvos, e o pinguim certamente era um deles. Dos únicos que sabem que, além do Polo Sul, existe um menino. Um extraterrestre que nunca faria mal a um pinguim, nunca fez.
Eu te amo, pinguim, o menino falou para ele, antes de o pinguim descer do barquinho, de volta para o Polo Sul. O pinguim disse, eu também te amo muito. De fato, foi um abraço que disse tudo isso. E o menino deu para o pinguim o radinho de presente.
Já descobriu quem é você?
Quando você diz que eu sou muito difícil, virando os olhos de lamentação para um, para todos.
Quando a Josy disse que ela deu o apelido do meu filho, Antônio, de Pim.
Eu sei que não é simples.
Eu posso, sim, ser um monstro quando você não sabe respeitar o meu amor pelo meu menino.
Você também é um monstro. E um anjo. E isso é que é complicado.
Todo mundo é um achado e um perdido.
Achados e perdidos
por Vanessa Agricola