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O Sertão dentro da gente

Após cinco anos em processo de preparação, o bailarino Diogo Granato conta a experiência de adaptar a obra de Guimarães Rosa para o palco, junto ao grupo de improviso cênico Silenciosas.

Fotos de Carol Quintanilla
Por Diogo Granato*

“Se quer seguir-me, narro-lhe; não uma aventura, mas experiência, a que me induziram, alternadamente, séries de raciocínios e intuições.”

Estórias são mais pessoais que histórias, eu acho. Não? Desde o começo de nossa pesquisa, há cinco anos, exploramos a mistura de ficção e depoimento pessoal no livro Primeiras Estórias, de Guimarães Rosa, sobre o qual nos debruçamos para criar o espetáculo Nosso Primeiras Estórias. Você é que não me conhece. Diogo, do grupo de improviso cênico Silenciosas… Para contar o livro, nos apropriamos dele, misturamos suas estórias às nossas; o abandono paterno em busca de uma impossível Terceira Margem espelhado pela partida de um Audaz Navegante, espelhado por nossos abandonos paternos, e, quem sabe, espelhando a estória de Guimarães Rosa?

Esse grupo, Silenciosas, mistura dança, teatro, literatura e música, mas o mais importante é que se mistura. Seria muito pretensioso tentar traduzir uma obra do Rosa, e um exercício de fracasso. Arte não se traduz, mas pode inspirar muito, muito. Nesse livro, sentimos o universo de Guimarães começando a desmoronar, seja porque estão construindo uma cidade em seu coração, seja por uma palavra nova que mostra a necessidade de aposentadoria de um jagunço, um trem que leva embora as loucas da cidade, um dono de fazenda que queima sua casa e distribui suas terras, e tudo começa a virar lembrança. A memória já não está tão boa, não? 

Uma coisa era certa, precisávamos nos desmoronar um pouco também.

Fixemo-nos no concreto. Começamos uma série de experimentos. Imagine! Foram anos. Colocávamos o Sertão dentro da gente, e a gente dentro do Sertão. O corpo precisava estar memória, precisava xurugar, precisava estar Cerrado, vivo, Dagobé, Brejeirinha, Nhinhinha. Desmoronávamos. Experimentamos dançar nossos abandonos e nossas mortes, nossas despedidas e alegrias, e nos aprofundamos em cada uma das estórias, na mais buscante análise. Nos dois primeiros anos, reservamos um mês para cada conto, um mês para incorporar as estórias, as personagens, as emoções e incluir nós mesmos naquelas estórias. Ninhinha deseja uma pamonhinha de goiabada, e, nem bem meia hora, chegou uma dona, no conto e na nossa sala de ensaio! Sim, uma senhora, que nunca tinha vindo antes, chegou para vender goiabinhas durante o mês de estudo do conto “A menina de lá”. Milagre? Eu continuo cético, e você? 

Eu aprendi a dançar o moço, a moça, o amor, a safadeza, a morte, a fatalidade. Todos do grupo aprenderam, mas não era o mesmo Doutor Perdigão, nem a mesma Mula-Marmela; cada um dançou o seu, contou a sua estória de um cavalo que bebia cerveja, fez a sua subida na palmeira, perseguiu a sua vaca e encontrou o seu amor. Posso explicar para você, depois de cinco anos misturado a tudo isso? Minha objetividade sobre o método ou métodos de que me vali não existe mais. O que estamos fazendo, todos, de uma vez, é contar a nossa estória inventada. O Nosso Primeiras Estórias. O Silenciosas é um grupo de improviso cênico, que vive entre a ficção e o depoimento pessoal, ou, como eu gosto de chamar: na ficção pessoal. Assim entramos no universo de Guimarães, com o máximo respeito por sua obra, e, exatamente por isso, nos misturamos; a gente junto, juntos. Assim como Zé Boné, encenamos nossa estória inventada, e não paramos de encenar e pesquisar nunca. É a nossa vida, é quem somos. Sim?  


*Diogo Granato é bailarino e coreógrafo. Diretor do grupo de improviso cênico Silenciosas, que ficou em cartaz com o espetáculo online Nosso Primeiras Estórias durante a pandemia. Criador e intérprete de solos de dança-teatro como Seis Sentidos?, Sketchbook e Aretha, que lhe rendeu um APCA de melhor intérprete. É intérprete-criador da premiada Cia Nova Dança 4 e membro do Le Parkour Brasil.

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