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Amarello Presente #35

A Amarello chega à sua edição de número 35 com o tema Presente, tendo a escritora Noemi Jaffe como editora convidada e capa do artista plástico Marcelo Amorim

Garanta a sua edição

Por Noemi Jaffe
editora convidada da edição Amarello Presente

A palavra presente deriva, etimologicamente, do latim e significa estar diante de. Estar diante de, estar à mão, estar aqui, estar neste momento, instantaneamente, agora. De um sentido originalmente espacial, o presente acabou adquirindo o sentido sobretudo temporal. Presente é aquilo que chamamos de agora.

Mas o tempo do agora é impossível. Ele é o único realmente existente, mas é o mais inapreensível de todos: se o que foi já não é e se o que virá não é ainda – tempos imaginários –, aquilo que é, é o quê? Quando é, já era.

Mesmo assim, existem algumas formas de fazê-lo – o presente – restar.

Como?

Estando exatamente onde e quando está o tempo em que algo acontece. O instante dura quase nada, mas a sucessão de instantes em fluxo parece formar uma continuidade rítmica a que damos o nome bonito de duração. A duração é algo como o processo e o percurso que algo leva para acontecer. Mas esse conceito, tão concreto e abstrato ao mesmo tempo, implica também, para ser percebido, uma sensação subjetiva. A percepção da duração só pode existir se há alguém que a experimenta, que a acompanha. Dessa forma, sentimos, muitas vezes, que algo que cronologicamente dura um minuto, subjetivamente teve a duração de uma hora, e vice-versa.

Se acompanhamos o batimento cardíaco enquanto o coração bate, se escutamos uma música enquanto ela toca, se prestamos atenção à produção de um bolo enquanto o cozinhamos, ocorre o milagre de percebermos a textura mesma do tempo presente: ele existe em mim e eu existo nele. É o presente vivo. 

E presente é também oferta, doação, homenagem. Por quê? Porque coloco algo diante de alguém, agora. Ponho em oferta (que depois adquiriu o sentido mais trivial de diminuição do preço). Dou-te, agora, diante de ti, uma coisa. Presentear é tornar presente um objeto, na presença de alguém, por algum motivo. 

É por isso que o presente como oferta, quando oferecido com sinceridade e sentido, é a própria presentificação de uma ausência. Não estou com você, mas, pelo presente que te ofertei, me coloco diante de você, me faço presente. Da mesma forma, o presente também presentifica um ritual rítmico: há dez anos você nasceu. Se te presenteio agora, torno novamente presente a alegria do teu nascimento, todos os anos. E assim também com as celebrações, as festas religiosas, agrícolas e comemorativas.

Ocorre que, por inúmeras razões – que não cabe desenvolver aqui –, o presente, como tantas outras coisas, há muito perdeu seu caráter presentificador. Distribuímos presentes a rodo, muitas vezes desprovidos de significação e simbolismo, apenas como cumprimento de uma obrigação comercial ou social. Meias, gravatas, tigelas, eletrodomésticos inúteis, gadgets descartados assim que desembalados. Nada de presente, nem temporal, nem como oferta. O presente vira passado, esquecimento.

Durante a pandemia atual, o tempo tem se convertido em algo diferente do que aquilo a que nos acostumamos. Os dias se repetem na quarentena, os minutos e horas ganham espessura, conseguimos fazer coisas que não fazíamos e passamos a adotar hábitos que não conhecíamos (isso para quem pode estar em casa). Aqui no Brasil, além de tudo, além da atenção máxima exigida pela doença (higienizar tudo, usar máscara, não encontrar as pessoas, não sair às ruas), estamos em estado de tensionamento máximo pelo suceder dos acontecimentos políticos. Como é possível assistirmos, praticamente inertes, à ascensão de um ditador? O presente é o tecido em que temos nos movimentado ou nos imobilizado, atônitos e concentrados. Estamos, como nunca antes, mergulhados na passagem do tempo, que muitas vezes parece nem passar. O futuro parece nos ter sido sequestrado, e o passado se distancia como um filme distante. O agora assusta e desafia, como um continente de possibilidades.

A Revista Amarello, na tentativa de compreender e expressar esse fenômeno tão singular na vida de todos, mas principalmente dos brasileiros, tematiza, neste novo número, a ideia do presente em suas múltiplas atribuições: como tempo, como oferta e como presença.

Para isso, convidamos pessoas de várias partes do país, com várias ocupações, origens e etnias, para presentearem o leitor com algo que se relacione ao seu presente. Em meio à situação atual, com o que você presentearia alguém?

Ao solicitarmos os presentes para os participantes, fizemos questão de destacar a importância de escolher algo que possa ser passado adiante ou que seja rapidamente descartável ou consumível. Os presentes não poderiam ser mercadorias, bens imóveis que pudessem ser guardados. Em vários povos indígenas espalhados pelo mundo, o presente é dado como uma espécie de troca. Eu te ofereço algo, e você me oferece algo em troca, não necessariamente paritário. Em muitas dessas sociedades, oferecer um presente durável é mau sinal: significa que a pessoa que o recebeu irá se tornar dependente dele. É preciso gastá-lo ou passá-lo à frente, para que ele mantenha seu significado de “presente presente”.

Qual é o seu presente presente? 

Nas páginas da revista, conheçam os tempos e as ofertas de pessoas como vocês, e, esperamos, sintam-se também vocês presenteados.

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