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Meus livros

por Flávia Milioni

Flávia Milioni no peça O Quadro ou Pequeno Poema para o Fim do Mundo
foto de Renato Mangolin

Meninos do Brasil, de Ira Levin (1976)

“Espantosa aquela semelhança. Como dois grãos de ervilha. E mais espantoso ainda quando, além da semelhança de seus rostos macilentos e atitudes céticas, existe a de pais de sessenta e cinco anos e funcionários públicos, vítimas de morte violenta, com um mês de intervalo. E ainda a idade de suas mães, quarenta e um ou quarenta e dois. Como admitir tanta semelhança?

Lobo da Estepe, de Herman Hess (1927)

“Manteve o espelho suspenso diante de meus olhos (lembrei-me de uns versos infantis: ‘Espelhinho, espelhinho em minha mão’) e vi algo liquefeito e nebuloso, uma imagem inquietante voltada sobre si mesma, auto-atormentada, trabalhando em si mesma – eu próprio, Harry Haller. E dentro desse Harry Haller, vi o Lobo da Estepe, um lobo tímido, formoso, mas de olhar confuso e angustiado que ora faiscava com malignidade ora com tristeza, e essa figura de lobo corria incessante pelo corpo de Harry, como um afluente na correnteza do rio principal, com outra cor, turvo e agitado, lutando dolorido, devorando-se um ao outro para preservar a sua forma. Triste, muito triste me contemplava o lobo fugidio e meio plasmado, com seus belos e tímidos olhos.”

O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry (1943)

“- É claro que eu te amo, disse-lhe a flor. Foi por minha culpa que não soubeste de nada. Isso não tem importância. Foste tão tolo quanto eu. Trata de ser feliz. . .
Mas pode deixar em paz a redoma. Não preciso mais dela.
– Mas o vento …
Não estou assim tão resfriada… O ar fresco da noite me fará bem. Eu sou uma flor.
– Mas os bichos…
– É preciso que eu suporte duas ou três larvas se quiser conhecer as borboletas.
Dizem que são tão belas! Do contrário, quem virá visitar-me? Tu estarás longe …
Quanto aos bichos grandes, não tenho medo deles. Eu tenho as minhas garras.
E ela mostrava ingenuamente seus quatro espinhos.
Em seguida acrescentou:
– Não demores assim, que é exasperante. Tu decidiste partir. Vai-te embora!
Pois ela não queria que ele a visse chorar. Era uma flor muito orgulhosa …”

Comer, rezar e amar, de Elizabeth Gilbert (1981)

“Quando eu era pequena, minha família criava galinhas. Sempre tínhamos em casa mais ou menos uma dúzia dessas aves e, sempre que uma delas morria – levada por um gavião, por uma raposa ou por alguma misteriosa doença que dá em galinhas -, meu pai substituía a galinha perdida. Ele ia até uma granja próxima e voltava com uma nova galinha dentro de um saco. O problema é que você precisa tomar muito cuidado ao introduzir uma nova galinha no galinheiro. Não pode simplesmente jogá-la lá dentro com as galinhas mais velhas, ou estas a verão como uma invasora. O que você precisa fazer, isso sim, é colocar a nova ave dentro do galinheiro no meio da noite, enquanto as outras estiverem dormindo. Ponha-a em um poleiro ao lado das outras e saia de fininho. Pela manhã, quando as galinhas acordam, elas não reparam na recém-chegada e pensam apenas: “Ela já devia estar aqui, já que não a vi chegar.” O melhor é que, ao acordar com as novas companheiras, a própria recém-chegada sequer se lembra de que é uma recém-chegada e pensa apenas: “Eu já devia estar aqui antes…”