Quando eu ainda ensaiava tornar-me antiquário, um amigo, à época grande comerciante de arte antiga, apresentou-me a Cerâmica Saramenha. Eu nunca esqueço o modo descrito por ele para defini-la: “Veja bem, estamos diante da Companhia das Índias Brasileira”. A referência foi potente e magnética, uma vez que acendeu em mim a memória dos objetos e produtos que circulavam a partir das rotas das tradicionais companhias ocidentais e orientais, historicamente responsáveis pelo comércio de bens tanto dos holandeses, no caso da Ocidental, quanto dos ingleses, no caso da Oriental.

Essa imagem majestosa, imponente e deslumbrante — um deslumbramento diante da beleza quando a conhecemos pela primeira vez — impôs-se em meu inconsciente assim que o editor da Amarello comentou qual seria o tema dessa edição: Miragem. 

A magia por trás das descobertas que vinham do Oriente e do Novo Mundo tinha algo de ilusão ao olhar dos europeus. Da mesma forma, a Cerâmica Saramenha produz um maravilhamento que nos leva ao passado, especialmente ao Oriente, uma vez que seu tom de ancestralidade nos remete às cerâmicas oriundas da península ibérica e, que, por sua vez, têm o embrião nas cerâmicas árabes e mouras. 

Esse encanto, no entanto, não vem do Oriente, mas das terras mineiras, em um processo de produção artesanal que teve início em meados do século XIX, vindo a receber seu nome por conta do terreno em que o ateliê estava localizado, uma chácara, na cidade de Ouro Preto, em Minas Gerais.