Uma conversa em 2050
A favela do Santo Amaro, localizada no Rio de Janeiro, é amplamente conhecida, sobretudo pelas músicas, que se popularizaram através do movimento cultural do baile funk, e pelos projetos culturais conectados ao esporte. A maioria dos artistas da 2050 são frutos de workshops realizados na favela, o que os torna conscientes de como o acesso à tecnologia e à informação pode impactar positivamente não só suas vidas, mas também a vida das pessoas ao seu redor.
A 2050 surgiu da união de artistas independentes que são “crias”’ do Morro Santo Amaro e que decidiram unir suas melhores habilidades para formar a equipe. É um laboratório de tecnologia e inovação que resiste dentro da favela e que tem como objetivo desenvolver soluções criativas e tecnológicas para empresas e artistas, com expertise em realidade aumentada, realidade virtual, produção audiovisual, impressão 3D, inteligência artificial, metaverso e NFTs.
As escrevivências de cada um dos jovens que constroem a 2050 ajudam a entender por que devemos observar a potência das favelas.
Gean Guilherme é uma figura essencial nesse caminho entre futuro e presente: é diretor criativo, coordenando as atividades da equipe e liderando o desenvolvimento de projetos criativos e inovadores.
Velez é responsável pela impressão 3D e pela direção artística, utilizando sua expertise para transformar ideias em objetos concretos, além de utilizar a inteligência artificial como suporte para a criação de imagens.
Ottis é artista e apaixonado por novas tecnologias. É responsável pelas aplicações de realidade estendida, criando experiências imersivas em metaverso, e também atua na parte administrativa da empresa.
Clickbycria é produtor audiovisual e retrata o cotidiano das favelas através da arte e de histórias contadas em suas fotografias, valorizando a realidade e a riqueza cultural das comunidades.
Rxbisco “RX” é um talentoso ilustrador digital que desempenha papel crucial na criação dos concept arts dos projetos. Reconhecido pela identidade única em suas obras, ele retrata de forma real a vida nas favelas do Rio de Janeiro.
Osvaldin é o produtor executivo responsável por fazer as conexões com as marcas, além de ser um especialista digital, fornecendo orientação técnica e estratégica à equipe sobre o universo da Web3.
Renata Lopes é produtora cultural local e atua como assessora do Gean. Com ampla rede de contatos e conhecimento sobre o mercado cultural, ela desempenha papel fundamental na produção dos projetos da 2050.
GB é um articulador cultural e produtor executivo da 2050. É responsável pelo Whiscria, uma plataforma que impulsiona a música periférica. Sua atuação visa promover artistas periféricos e oferecer-lhes visibilidade.
Luan faz parte dos times de produção artística da 2050. Estuda moda e expande a marca em projetos relacionados ao assunto.
Mari Santos é produtora executiva, responsável por alinhar as demandas e articular os criadores. É quem provavelmente irá responder seus e-mails.
A partir dessas trajetórias, três perspectivas são percebidas como essenciais: o desenvolvimento de projetos personalizados, voltados para a área da tecnologia; a criação de um laboratório de arte e tecnologia, que desenvolve projetos próprios e experimentos artísticos com tecnologia; e a atuação em plataformas que se conectam com os produtos do laboratório.
O grupo se depara com diversos desafios, e tem proposto soluções para eles. O acesso a equipamentos é dificultado por conta dos valores elevados — desde os materiais de fotografia até os óculos de realidade virtual recém-lançados. É desafiador e necessário ampliarmos o acesso a quaisquer tipos de recursos tecnológicos. Do wi-fi ao computador. Do celular ao videogame. A palavra acesso é fundamental no desenvolvimento das novas tecnologias. Hoje em dia, temos mais acesso a conhecimento, e podemos saber um pouco mais sobre o que o mundo está respirando. É possível, assim, buscar acesso e educação de forma prática, independente, e construir possibilidades de futuro.
A afirmação de que a favela é o futuro é uma perspectiva que tem sido debatida em diversos contextos. A favela é frequentemente associada a questões como pobreza, falta de infraestrutura básica, violência e exclusão social. No entanto, alguns argumentos têm sido apresentados para defender a ideia de que a favela é e pode ser o futuro. Considerando aspectos como a inovação social nas favelas, as comunidades frequentemente se organizam de maneiras criativas para lidar com os desafios que enfrentam. A falta de serviços públicos adequados muitas vezes impulsiona a criação de soluções inovadoras para questões como água, energia, transporte e infraestrutura. Essas soluções podem se tornar exemplos de resiliência, adaptação e inventividade a serem aplicadas em outros contextos urbanos.
Apesar dos escassos investimentos do poder público, as favelas são centros de atividade econômica vibrante. Pequenos negócios, empreendimentos informais e economias criativas estão florescendo nas nossas comunidades. Além disso, as favelas abrigam uma força de trabalho jovem e dinâmica, com habilidades e talentos diversos. Investimentos em educação, capacitação e infraestrutura podem ajudar a canalizar esse potencial econômico e promover o desenvolvimento sustentável. É importante ressaltar ainda que a transformação das favelas em espaços mais inclusivos e com melhores condições de vida requer investimentos em políticas públicas efetivas, infraestrutura adequada, acesso a serviços básicos, segurança e ações de combate à desigualdade. A melhoria da qualidade de vida nas favelas é um desafio complexo, que envolve múltiplos atores e esforços coordenados.
Para radicalizar e ampliar o pensamento sobre favela e tecnologia, precisamos fazer de fato. Temos muitas referências de projetos que são apenas números no final de um relatório. Estamos e somos o território; nossa formação vem de dentro, e estamos trabalhando por uma causa coletiva e grandiosa. Estamos fazendo, falando e criando tecnologias. Há empoderamento quando nos apropriamos de ferramentas tecnológicas para criarmos nosso próprio futuro. Realidade virtual, inteligência artificial, realidade aumentada e impressão 3D eram termos até então distantes, e os equipamentos, impossíveis de termos. Hoje, porém, é uma realidade estarmos realizando projetos de inovação, com tecnologia de ponta, que o mundo inteiro está pesquisando e estudando.
A imaginação radical, para nós, é a capacidade de imaginar um mundo melhor, livre das desigualdades e injustiças do mundo atual. É uma forma poderosa de repensar e reinventar o mundo, permitindo que as pessoas visualizem e lutem por uma realidade que seja boa para nós, de favela. Que seja real, não virtual, e, principalmente, que seja aliada a tecnologias sociais que estejam sob nosso domínio.