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Sonho de uma noite de verão, de Salvador Dalí.
Sociedade

No país das maravilhas: de Lewis Carroll em busca da saúde mental

por Leticia Lima

Era uma vez uma menina curiosa chamada Alice, que meteu o nariz onde não devia e encontrou-se perdida no país das maravilhas, que – diga-se de passagem – era também um país perigoso, com chapeleiros malucos, gatos risonhos e rainhas assassinas. 

Em dado momento, Alice se encontra encolhida a meros sete centímetros de altura. Uma lagarta fumando um cachimbo lhe diz, “um lado fará você crescer, o outro fará você diminuir”. Um lado de quê, Alice indaga. Do cogumelo, responde a lagarta. Alice mordisca o cogumelo, cautelosa. Ela diminui rapidamente, mas antes de desaparecer por completo, consegue mordiscar o outro lado. Ela cresce vertiginosamente, ficando com um pescoço enorme. Um pássaro lhe confunde com uma serpente e ataca seu rosto. Ela morde um pouco de lá e um pouco de cá do cogumelo, e assim volta ao seu tamanho normal.

Que cogumelo mágico seria esse, que dá à Alice o poder de crescer e diminuir? Que, em doses alternadas, lhe permite calibrar seu crescimento e lhe faz sentir-se normal em um mundo todo virado do avesso? É impossível saber o que Lewis Carroll, o autor do clássico da literatura infantil, teria a dizer sobre a recente onda de interesse nos cogumelos psicodélicos. Mas ao que tudo indica, podemos seguir a moral da história da Alice e seu cogumelo – o importante é acertar a dose.

Há milhares de anos, povos indígenas dos quatro cantos do mundo fazem uso de substâncias psicodélicas encontradas na natureza, em cogumelos, cactos, sementes, folhas e árvores, para fins cerimoniais e medicinais. No século XX, estas substâncias começaram a ser reproduzidas sinteticamente em laboratórios. Imagine o susto do suíço Albert Hoffmann, que “descobriu” o efeito alucinógeno do LSD após ingerir, sem querer, uma quantidade desconhecida do químico, quando trabalhava como pesquisador para uma empresa farmacêutica. Sua descoberta logo disseminou-se pelo mundo, despertando o interesse do campo da psiquiatria, ainda em seu início.

Os psicodélicos, cujo nome vem do grego psico (mente) e delo (visível), logo caíram nas graças da contracultura hippie. Consequentemente, muitos governos passaram a classificá-los como substâncias controladas, na busca de controlar o movimento paz e amor. Os anos 70 viram uma onda de proibição, e os estudos médicos com substâncias alucinógenas cessaram.

Agora, estão voltando com atenção ao tema. A mais recente onda de interesse espalhou-se a partir do Vale do Silício, onde profissionais criativos começaram a praticar a microdosagem, ingerindo uma dose tão pequena que os efeitos psicodélicos não são ativados, mas que supostamente traz benefícios como o aumento da produtividade, criatividade e energia, e afasta males como a ansiedade e a depressão. A prática foi ganhando adeptos, que buscam aumentar a performance no trabalho, mas principalmente por aqueles que visam melhorar a saúde mental.

Vivenciamos um momento em que a depressão e ansiedade estão saindo das sombras e sendo abertamente discutidas. A pauta da saúde mental está em alta. O uso de antidepressivos a partir da década de 1950 revolucionou o tratamento dos transtornos de humor, mas sabemos hoje que esses medicamentos podem causar efeitos colaterais adversos. A psiquiatria busca novas avenidas para tratar as milhões de pessoas sofrendo mundo afora, e um possível caminho é o uso de psicodélicos. Tanto os presentes na natureza, como a mescalina encontrada em algumas espécies de cactos e a psilocibina derivada dos cogumelos da Alice, quanto os fabricados em laboratório, como o MDMA, vulgo ecstasy, e dietilamida do acido lisérgico, o famoso LSD.

Mas o que diz a ciência sobre os supostos benefícios dessas substâncias? Infelizmente, não muito. Por enquanto, existem poucos estudos abrangentes, e aqueles realizados contam com uma amostragem pequena. Por serem substâncias altamente regulamentadas pela lei, estudos em que possam ser administradas em um ambiente controlado, como em um hospital, por exemplo, são poucos. A grande maioria dos testes, portanto, depende do autorrelato de pacientes. Estes, por sua vez, não são sempre de confiança, nem podem ser controlados para descontar o efeito placebo.

Sem estudos controlados, em que se possa padronizar o ambiente, a dosagem e eliminar outros fatores que possam influir o resultado, não há um consenso médico sobre os benefícios de tal tratamento. No Brasil a terapia com a microdosagem de psicodélicos não é regulamentada pelos órgãos de saúde, e, portanto, a sua prescrição médica é proibida. Além do mais, muitas das substâncias continuam ilegais por aqui.

É difícil dizer, portanto, qual o futuro do tratamento psiquiátrico com o uso de psicodélicos. Qualquer que seja, devemos lembrar que perder-se no país das maravilhas pode ser perigoso se não soubermos nos dosar. 

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